Veneza vai continuar com entrada livre: adiado o acesso pago

Anunciado para estrear a 16 de Janeiro, o novo “contributo de acesso” só deverá começar no Verão: “Está em estudo”. Afinal, não é para já que Veneza será a primeira cidade com bilhete de entrada.

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Veneza ainda não voltou aos números de turistas pré-pandemia EPA/Zoltan Balogh

Apesar de alguns meios ligados às viagens tomarem por assente que a 16 de Janeiro estreia o chamado "bilhete de entrada" em Veneza, o governo local confirmou o adiamento para data ainda desconhecida. O sistema, envolto em polémicas e debates de prós e contras, passa afinal ainda por uma "fase de estudo". O, oficialmente, "contributo de acesso" a Veneza estava previsto custar, dependendo de uma série de critérios, entre 3 a 10 euros por dia para cada visitante não alojado na cidade.

Na sua página, a Comune di Venezia retrocede no pré-anúncio de Janeiro para a estreia do "contributo" e, salientando que o sistema esteve em consulta pública até 7 de Janeiro, ainda será debatido para ser aprimorado e estar em compasso com a regulamentação municipal.

"A entrada em vigor da taxa de acesso foi suspensa até ser aprovada uma alteração aos regulamentos municipais", explicou à Fugas o gabinete autárquico que gere os planos de taxação venezianos, o Servizio Contributo di Accesso. "O regulamento está a ser revisto", indica-se. E, assim sendo, até futuras decisões, "não existem actualmente requisitos para o acesso à cidade".

Os planos para taxar os turistas que só visitam a cidade por algumas horas – os que ficam alojados na hotelaria de Veneza já têm de pagar a habitual taxa por noite – são debatidos há anos. Em 2022, parecia ter-se chegado finalmente a decisões, tendo a Comune anunciado que seria lançado um site para reserva e pagamentos das entradas até finais de 2022, inícios de 2023, com a entrada em vigor do sistema já em Janeiro.

Com o adiamento agora confirmado, Veneza adia também a estreia como cidade com bilhete de entrada, um sistema pensado em tempos de sobreturismo, pré-pandemia, destinado principalmente a controlar os fluxos turísticos. “O objectivo é desincentivar os visitantes em certas alturas do ano e incentivar o turismo de alojamento, de acordo com a delicadeza e singularidade da cidade”, dizia o vereador do turismo local, Simone Venturini.

"Reduzir o excesso de excursões diárias e picos sazonais, procurando um equilíbrio entre as necessidades dos residentes, turistas que ficam alojados e aqueles que visitam a cidade durante o dia”, acrescentava o responsável na apresentação do plano, no Verão passado. Uma certeza, garantia: a ideia “não é fazer dinheiro”, mas antes “conseguir um turismo mais ordeiro”. O resultado do tributo seria destinado a pagar o sistema e a "baixar os impostos dos residentes”, segundo o vereador Venturini.

Se nada se alterar nos acertos dos próximos meses, quem não pernoita, paga. Mas residentes, trabalhadores locais, crianças com menos de seis anos, visitantes por motivos de saúde, profissionais ou familiares, ou que tenham bilhete para eventos culturais ou desportivos, e pessoas portadoras de deficiência estariam entre as excepções.

O facto do valor a pagar poder variar entre 3 a 10 euros explica-se facilmente: dependeria da afluência em cada época do ano, logo, quanto mais visitantes, mais elevado o preço; quanto maior o grupo, maior o custo por pessoa. Alguns dias fora de pico também poderiam ser de entrada gratuita, e previam-se descontos para reservas com muita antecedência.

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Num ano normal, Veneza poderia atingir cerca de 30 milhões de turistas (entre visitantes por algumas horas e pernoitas) por ano REUTERS/MANUEL SILVESTRI

As áreas em que seria aplicado o "contributo" voltam agora à discussão, mas no passado referiam-se o centro histórico de Veneza e as ilhas da lagoa.

Outro detalhe que já tinha sido anunciado: multas entre 50 a 300 euros para quem se atrevesse a passear pela cidade sem o devido bilhete pago.

Porém, por agora, Veneza continuará com entrada livre, até se concretizarem e conciliarem os acertos e interesses. Para estas hesitações e devidos adiamentos muito contribuiu a pandemia, que fez os números de chegadas oficiais descerem vertiginosamente, como por todo o mundo: de quase cinco milhões em 2019 para menos de um milhão em 2020 e apenas milhão e meio em 2021. Os números de 2022 ainda não tinham sido oficializados, esperando-se uma recuperação em redor dos dois milhões. Quanto a visitantes não registados, só há cálculos: antes da pandemia, ter-se-ia batido o recorde de 30 milhões de turistas num ano.

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