Há um “feixe de luz” para espreitar em São João da Madeira

Feixe de Luz: Escultura Projectada, Cinema Exposto reúne criações em estreia de 11 artistas portugueses e internacionais sobre a relação entre o cine­ma e a escultura.

Vista da exposição "Feixe de Luz: escultura projetada, cinema exposto" no Centro de Arte Oliva, com Cinema (2016) de Francisco Tropa (Col. Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto.).
Fotogaleria
Vista da exposição "Feixe de Luz: escultura projetada, cinema exposto" no Centro de Arte Oliva, com "Cinema" (2016) de Francisco Tropa (Col. Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto.). Dinis Santos
Vista da exposição "Feixe de Luz: escultura projetada, cinema exposto" no Centro de Arte Oliva, com Light Music (1975) de Lis Rhodes (cortesia da artista e LUX).
Fotogaleria
"Light Music" (1975, de Lis Rhodes (cortesia da artista e LUX). Dinis Santos
Vista da exposição "Feixe de Luz: escultura projetada, cinema exposto" no Centro de Arte Oliva, com Les films de Brancusi, 1923-1939 (Col. Centro Pompidou, Paris / Musée National d’Art Moderne /Centre de Création Industrielle).
Fotogaleria
"Les films de Brancusi" (1923-1939), (Col. Centro Pompidou, Paris / Musée National d’Art Moderne /Centre de Création Industrielle). Dinis Santos

Um diálogo entre cinema e escultura está traduzido numa exposição em São João da Madeira. Feixe de Luz: Escultura Projectada, Cinema Exposto, com curadoria de Andreia Magalhães, reúne um conjunto de criações de 11 artistas nacionais e internacionais que culmina numa viagem entre dois séculos e duas artes. A exposição está patente até 22 de Janeiro, no Centro de Arte Oliva.

Desde 2019 que se tem traçado os planos para esta mostra que está intimamente relacionada com a investigação desenvolvida na tese de doutoramento de Andreia Magalhães: a ligação do cinema com as artes visuais e as práticas artísticas contemporâneas.

No Centro de Arte Oliva, esta exposição construiu-se a partir de uma selecção de obras que são “pilares” para a concretização da proposta curatorial. “Umas já estavam identificadas previamente, outras foram surgindo ao aprofundar este foco limitado da intersecção entre cinema e escultura”, explica a curadora.

O período temporal, que se compreende entre os séculos XX e XXI, abrange obras históricas e de artistas consagrados. São nomes que contribuíram para a evolução desta intersecção artística e, agora, alguns dos seus trabalhos estreiam-se em Portugal. A exposição integra “imagens que acontecem” no espaço à nossa volta, quando um “feixe de luz” projectado assim o permite.

As esculturas configuram-se como dispositivos criadores de imagem, erguem-se dimensões no espaço e o próprio corpo humano experiencia sensações diferentes através de projecções de diferentes escalas, explica Andreia Magalhães. E é também aqui que ocorre uma antítese: a estaticidade da escultura que adquire dinamismo, e a imagem em movimento (típica dos filmes) que se materializa nos objectos.

Onze nomes entre dois séculos

Quanto ao título da exposição, a escolha não foi tarefa fácil. “Era importante criar um nome capaz de abarcar esta diversidade de obras e propostas artísticas, visto que percorrem um percurso longo”, sustenta Andreia. Foi, então, a partir da tradução de “light beam” que surge a denominação que traduz a “luz emanada pelos projectores de cinema”.

Les Films de Brancusi (1923-1939) de Constantin Brancusi, Parábola (1937) de Mary Ellen Bute, Lemon (1969) de Hollis Frampton, a instalação seminal Light Music (1975) de Lis Rhodes, Sun Tunnels (1978) de Nancy Holt, e ainda o filme colagem de Mark Leckey, Fiorucci Made Me Hardcore (1999) são algumas das estreias que se podem visitar. À exposição juntam-se ainda as criações de João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Babette Mangolte, Susanne Themlitz, Fischli & Weiss e Francisco Tropa (2016).

A influência de Brancusi

A mostra artística pode ser interpretada como uma viagem histórica, pois o tempo é algo intrínseco na sua concepção. O início do relacionamento entre as duas artes pode ser datado de 1923, ano em que o escultor romeno Constantin Brancusi começou a experimentar este cruzamento nas suas esculturas.

“Começou muito cedo. Foi dos primeiros artistas a compreender a forma como a fotografia e, consequentemente, o filme alteraria completamente a percepção sobre o objecto artístico e a sua natureza. Foram nesses registos fílmicos que as suas obras escultóricas de referência assumiram uma função primordial no cruzamento destes dois campos. Serviram não só para documentar, mas, sobretudo, para pensar a arte”, diz a (também) directora do Centro de Arte Oliva.

Os objectos tridimensionais estáticos e materiais por natureza – “ganhavam vida” e uma nova configuração foi-lhes atribuída pela manipulação da incidência de luz. A chegada do cinema foi como uma “promessa de revolução” nesse campo artístico e, desde então, os artistas utilizaram-no para ultrapassar a imobilidade da escultura e também da pintura. Nas décadas de 1960 e 1970 um “núcleo forte de obras” voltou a ressurgir. Depois disso, só nos anos 2000 e mais recentemente voltariam a aparecer.

Texto editado por Ivo Neto

Sugerir correcção
Comentar