Brasília: invasão danifica vitral e mural de Di Cavalcanti no Congresso

Os danos estendem-se à escultura A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, e painel de azulejos do artista Athos Bulcão.

Quadro de Di Cavalcanti foi perfurado durante invasão ao Palácio do Planalto
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Quadro de Di Cavalcanti foi perfurado em vários locais durante invasão ao Palácio do Planalto cortesia palácio do planalto
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Escultura "A Justiça" de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada ANDRE BORGES/Epa
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"Araguaia", vitral da artista franco-brasileira Marianne Peretti cortesia palácio do planalto
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Centenas de apoiantes do ex-Presidente invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, numa manifestação em que pedem uma intervenção militar para derrubar Lula George Marques/REUTERS

Os manifestantes bolsonaristas que invadiram este domingo o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, complexo idealizado pelo arquitecto Oscar Niemeyer, danificaram importantes obras de arte da cultura brasileira. Uma delas foi Araguaia, vitral da artista franco-brasileira Marianne Peretti, de 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados. No Planalto, a tela Mulatas, pintada em 1962 por Di Cavalcanti, foi furada pelos manifestantes.

No Supremo Tribunal Federal, a cadeira da presidente Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin, foi arrancada. Além disso, um crucifixo foi danificado e a escultura A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada.

Os manifestantes também invadiram e danificaram a sala da liderança do PT, e, ao lado, incendiaram um snack-bar que tinha por detrás um painel de azulejos do artista Athos Bulcão. Até ao momento, não há notícias sobre o estado desta obra.

O Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, Iphan, é o organismo ao qual compete a salvaguarda de todas as obras de arte no complexo de edifícios da Praça dos Três Poderes, e Brasília consta da lista de Património Mundial da Unesco desde 1987.

Avaliar prejuízo

Logo após o ataque de domingo, diversas autoridades e instituições ligadas à protecção dos monumentos públicos manifestaram a sua preocupação. O Conselho de Arquitectura e Urbanismo, CAU, classificou a invasão como um atentado grave contra "o primeiro conjunto urbano do século XX reconhecido como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas."

Para José Nascimento, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Museus, Ibram, entre 2009 e 2013, o Iphan deve avaliar todo o prejuízo após a invasão.

"São crimes de dano ao património público", diz ele. "O Iphan pode fazer a imediata avaliação do que foi danificado e, então, cabe à Polícia Federal prender os terroristas." Também a ministra da Cultura, Margareth Menezes, repudiou o ataque e escreveu na sua conta de Instagram que "nunca a esquerda brasileira, mesmo nos tempos de trevas, desrespeitaram ou danificaram ou destruíram os palácios que representam os Três Poderes".

De acordo com a presidente da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP, Lilian Pires, os manifestantes podem vir a ser enquadrados em pelo menos dois crimes — danificação de património público e danificação de património sob salvaguarda do Iphan. Pires diz ainda que agora é necessário apurar a responsabilidade da polícia do Distrito Federal, isto é, se agiu de acordo com o comportamento previsto na lei.

Marcos Olender, director de projectos do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ICOMOS, afirmou ser difícil avaliar o valor das obras danificadas: "Não existe realmente um valor para essas obras de arte que foram danificadas", afirma. "O que aconteceu foi muito grave."

Segundo o Globo, os manifestantes destruíram ainda um relógio do século XVIII levado para o Brasil pela família real portuguesa. A peça estaria no terceiro andar, onde também se situa o gabinete do Presidente Lula da Silva. No Twitter, o senador Randolfe Rodrigues reagiu: "Acabei de chegar no Palácio do Planalto para receber o Presidente Lula, o cenário é de caos! Obras de arte históricas foram destruídas, entre elas uma pintura de Di Cavalcanti e um relógio do século XIX que foi dado de presente para D. João VI".

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo. Notícia actualizada com referência a nova peça danificada e repúdio da ministra da Cultura do Brasil

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