Pierre Aderne e Pedro Luís fizeram um samba para lavar a camisa amarela brasileira

Os cantores e compositores brasileiros Pierre Aderne e Pedro Luís, respectivamente fundador do projecto Rua das Pretas e fundador de grupos como o Monobloco e Pedro Luís e a Parede, juntaram-se para criar uma canção que celebra os “novos ventos” políticos que sopram no Brasil. Pierre em Portugal, onde vive há anos (em Lisboa), e Pedro no Brasil, deram conta do recado em 48 horas, mal surgiu a ideia. Pierre diz que acordou no dia 27 de Dezembro “com o caminho de uma letra” que “intuía a lavagem da camisa brasileira”, de cor amarela e verde, apropriada por Bolsonaro e apoiantes, usando sal grosso, manjericão e sabão de Benjoim de modo a resgatá-la.

No rascunho da canção, que enviou a Pedro, sugeriu “que talvez pudesse ser vestida em melodia e ritmo por um partido alto”. Do outro lado do Atlântico, a desoras, Pedro Luís aceitou “a provocação do Pierre que viria a desembocar na música”. Pegou num cavaquinho e num atabaque, deu-lhe forma e, começada a “alfaiataria inter-oceânica”, passaram à gravação, envolvendo vários amigos. Assim nasceu Sabão de Benjoim, gravado entre o Rio De Janeiro, Porto e Lisboa, com Pierre Aderne e Pedro Luís na companhia de Júnior Teixeira (percussão), Carlos Neves (violão e cavaquinho), Valeria Lobão, Nilson Dourado, Carlos Fuchs (vocais) e vários amigos que quiseram participar enviando imagens (Batman Zavareze, Alice De Andrade, Manoel Águas, Ricardo Gomes, Izabel Jaguaribe, Nana Moraes, Monica Martins, Bernardo Mendonça, Luludi, Julia Rocha). A montagem final é de Gabi Paschoal e single e videoclipe estreiam-se esta sexta-feira.

A camisa que aparece a ser lavada no vídeo tem o número 10 (o número de Pelé, o “rei do futebol” que morreu no dia 29 de Dezembro) e a letra da canção diz, a dada altura: Sequestraram meu canário/ Sai pra lá, urubu sarará/ Pra salvar a camisa e o salário/ Só mesmo axé de Exu e Oxalá// E Sabão de Benjoim/ Pra tirar a uruca que puseram em mim.” Para quem não sabe, a palavra “uruca”, ainda não registada em vários dicionários, significa “mau cheiro”, “fedor”, e derivará (diz quem já a reconhece) da palavra “urucubaca”, que quer dizer “estar com azar” ou “com má sorte”. Quanto ao sabão propriamente dito, considera-se que o Benjoim é indicado para “eliminar bactérias, fungos, combater inflamações, cicatrizar feridas”. Isto em termos sanitários, porque falando em “benefícios espirituais” (sic) há quem o aponte como muito útil para a “limpeza de energias ruins do ambiente”. Quem ouvir a canção e vir o vídeo perceberá o resto.