Índice de preços da FAO termina 2022 com novos recordes em quase todos os alimentos

Ano de máximos históricos para o preço dos principais alimentos mundiais, 2022 terminou com o índice da FAO 14,3% acima do de 2021. Mas a tendência de descida verifica-se há nove meses.

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Efeitos da guerra na Ucrânia tiveram efeitos logo Março, sobretudo nos cereais Reuters/VALENTYN OGIRENKO

No último relatório da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO na sigla em inglês), Dezembro representou uma dupla descida do índice que mede os preços dos principais alimentos com que o mundo se abastece – de 1% face ao último mês de 2021 e de 1,9% face a Novembro imediatamente anterior. E foi também o nono mês em que o indicador recuou em cadeia.

Mas, nas contas anuais, 2022 como um todo fez com que o índice de preços dos alimentos tenha ficado 14,3% acima do de 2021 e tenha sido escrito um novo recorde anual nos registos.

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É preciso perceber a instabilidade de 2022. O ano termina com uma quebra mensal – Dezembro de 2022 face a Dezembro de 2021 de 1% –, mas com desempenhos homólogos muito distintos, tendo o índice chegado a uma subida mensal de quase 34% em Março, primeiro mês completo a seguir à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Foi entre Fevereiro e Junho deste ano que o indicador da FAO – que acompanha cinco matérias-primas agrícolas e bens alimentares (carne, lacticínios, cereais, óleos vegetais e açúcar) ponderados pelas quotas de exportação mundial de cada um dos grupos no período de 2014-2016 – quebrou vários máximos dos seus 32 anos de existência.

A importância da Ucrânia e da Rússia, dois dos maiores protagonistas no abastecimento mundial de milho, trigo, óleos alimentares e fertilizantes, ficou clara após a interrupção dos seus fornecimentos a partir do início da invasão. O mar Negro ficou temporariamente fechado ao transporte de mercadorias e o escoamento de cereais da Ucrânia teve de ser negociado com o invasor russo. O acordo foi assinado a 22 de Julho e foi a partir desse mês que o indicador da FAO começou a recuar significativamente. O protocolo foi renovado, por mais quatro meses, em Novembro passado.

“O aumento do índice de preços de cereais da FAO em 2022”, explicou esta sexta-feira a organização, “deveu-se a uma série de factores, incluindo perturbações significativas do mercado, aumento das incertezas, custos mais elevados de energia e fertilizantes, condições meteorológicas adversas em alguns fornecedores que são chave, e uma maior procura global de alimentos, de forma continuada.”

Dois anos de volatilidade

O alívio que a organização regista desde Abril no indicador não evita alertas: “A média do Índice de Preços de Alimentos da FAO em 2022 foi notavelmente mais elevada do que no ano anterior, o que, somado a grandes aumentos já verificados em 2021 [até então um recorde anual], catalisou tensões significativas e preocupações de segurança alimentar para os países importadores de alimentos de rendimentos mais baixo.”

Os preços mundiais do milho e do trigo atingiram novos máximos em 2022, com aumentos de 24,8% e 15,6%, respectivamente, face a 2021, enquanto os preços de exportação de arroz estavam em média 2,9% acima dos seus níveis de 2021. No seu todo, o índice que monitoriza os cereais mais usados na alimentação humana e nas rações animais cresceu 17,9% face a 2021, “ultrapassando em 8,8% o último recorde atingido ao nível anual, de 2011”.

No caso dos óleos vegetais, o subíndice progrediu 13,9% na média anual face a 2021, também um novo recorde na história do índice, enquanto nos lacticínios a subida anual foi de 19,6%, uma vez mais “a média anual mais elevada desde 1990”, o mesmo acontecendo com o indicador para os preços da carne, que atingiu uma subida anual de 10,4%.

O indicador que segue os preços de exportação do açúcar nos mercados internacionais foi, dos cinco que compõem o cabaz da FAO, o único que não atingiu um novo recorde. O registo de 2022 ficou 4,7% acima da média de 2021 e para atingir um valor mais elevado é preciso recuar até 2012.

“Uma acalmia nos preços das matérias-primas agrícolas é bem-vinda após dois anos muito voláteis”, diz Maximo Torero, economista-chefe da FAO, citado no comunicado de imprensa. Mas “é importante permanecer vigilante e manter o foco na redução da insegurança alimentar global, dado que os preços mundiais dos alimentos se mantêm em níveis elevados”, com muitos produtos que compõem a base alimentar mundial “perto de máximos históricos”, e ainda “com muitos riscos associados a fornecimentos futuros”.

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