Um dia de vida tem um valor monetário

Goste-se ou não, a vida e por inerência a saúde têm um preço.

Há quem diga que é impossível medir o valor monetário de um dia a mais de vida. Mas as nossas ações dão um valor monetário à vida. Os decisores na área da saúde tomam todos os dias decisões sujeitas aos recursos escassos. Logo, atribuem um valor monetário à vida e saúde. Goste-se ou não, a vida e por inerência a saúde têm um preço.

Como não há um mercado explícito para a vida e morte ou dor e sofrimento, deve-se encontrar uma forma de refletir o valor que as pessoas atribuem a esses eventos. Ao decidir comprar um carro mais barato, mas menos seguro, a pessoa está a fazer uma troca implícita entre dinheiro e o risco de morrer. Essa troca também é feita ao comprar detetores de incêndio, aceitar um trabalho mais perigoso por um salário mais alto, atravessar uma autoestrada e comprar um seguro de saúde. As pessoas compram e vendem saúde, mas não o fazem de uma forma consciente como comprar bens e serviços no centro comercial.

Os economistas não dão valor à vida ou à doença; eles medem o valor que as pessoas atribuem à vida e à doença, conforme demonstrado pelo seu comportamento. Há quem atravesse uma autoestrada assumindo o risco de morte para poupar dez minutos a usar o túnel para pedestres. O valor da vida também pode ser calculado com os salários adicionais necessários para que alguém aceite um trabalho mais perigoso. Vários estudos estimaram valores de vida de meio milhão a dez milhões de euros. Certos estudos calcularam o valor da vida diferente consoante a idade. A vida de um bebé pode valer mais do que 10 milhões de euros, enquanto a vida de um idoso pode valer meio milhão.

Um problema com estas estimativas do valor de vida é assumir que todas a pessoas têm a mesma aversão ao risco. As pessoas menos avessas ao risco ou que subestimam erroneamente o verdadeiro risco são as mais propensas a atravessar autoestradas, a fazer trabalhos mais perigosos, a não equipar a casa contra incêndios, a ter comportamentos de risco, como fumar, não fazer exercício, ter sexo sem proteção, entre outros.

A morte é a única certeza na vida, nenhum tratamento médico pode salvar uma vida para sempre. Outra limitação em estimar o valor económico da vida é a negação, assumir que o propósito dos cuidados médicos é salvar vidas. O verdadeiro propósito da medicina é reduzir o sofrimento, a ansiedade e prolongar a expectativa de vida. Os economistas analisam o comportamento das pessoas para valorizar a duração e a qualidade de vida, duas coisas que podem ser alteradas por cuidados médicos. A morte não pode.

Apesar de controverso, atribuir um valor monetário à vida é muito importante para a análise custo-benefício feita pelos economistas na área da saúde. A análise custo-benefício sobre o confinamento durante a pandemia covid-19 trouxe mais uma vez o valor monetário da vida ao centro da discussão. Foram muitos os estudos feitos sobre o custo-benefício do confinamento e a maior parte desses estudos, ao contrário do esperado devido às enormes perdas económicas que resultaram da paragem das economias, indicaram como benéfico o confinamento devido ao número de mortes evitadas com o confinamento, ou seja, com o valor monetário das vidas poupado.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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