Polícia iraniana avisa mulheres de que têm de usar hijab mesmo dentro do carro

Medida implementada em 2020 foi agora reactivada. Jogadora de xadrez que competiu sem lenço está em Espanha e não deverá voltar ao Irão.

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O Irão continua a ter manifestações contra o regime depois da morte de Mahsa Amini, detida pela chamada "polícia da moralidade" por usar o hijab deixando parte do cabelo de fora Reuters/WANA NEWS AGENCY

As autoridades iranianas anunciaram que vão voltar a avisar mulheres que sejam vistas sem o hijab (véu islâmico) mesmo que estejam dentro dos seus próprios carros, segundo a agência iraniana Fars.

A agência cita um alto responsável da polícia, dizendo que está a ser aplicada uma nova versão do programa Nazer (vigilância em farsi), originalmente adoptado em 2020 quando foi observado que algumas mulheres retiravam o véu dentro dos automóveis.

Segundo a agência francesa AFP, em 2020 as proprietárias de automóveis recebiam uma mensagem chamando a atenção para a violação do código de vestuário e ameaçando com acções legais. Neste momento, parece que as mensagens já não fazem esta ameaça, segundo vários exemplos publicados nas redes sociais, deixando sim um alerta: “Assegure-se de que esta acção não se repete.”

O Irão continua a ter manifestações contra o regime depois da morte de Mahsa Amini, uma jovem curda que foi detida pela chamada "polícia da moralidade" por usar o hijab deixando parte do cabelo de fora, em Setembro. Amini foi agredida durante a detenção, ficou depois em coma e acabou por morrer,​ e nos protestos pela sua morte rapidamente começaram a ser entoadas palavras de ordem pedindo o fim do regime. Além disso, em várias zonas houve mulheres a sair de casa sem hijab, e não foram detidas pela polícia da moralidade, cujos agentes foram estado menos presentes (mas a força não foi desmantelada, ao contrário do que muitos media noticiaram com base numa frase de um responsável em resposta a uma pergunta que foi mal interpretada).

O regime respondeu aos protestos com força, disparando contra os manifestantes, mesmo fora dos locais de protesto, e matando pessoas: desde Setembro, morreram entre 300 e 451 manifestantes, e quase 20 mil foram presos. Dois jovens foram executados e teme-se que a pena capital seja aplicada mais vezes: pelo menos cem iranianos estão em risco de execução depois de terem sido condenados à morte ou de terem sido alvo de acusações que acarretam esta pena.

Entre os protestos, várias atletas iranianas competiram também sem o lenço obrigatório em provas internacionais fora do Irão, como a escaladora Elnaz Rekabi ou a jogadora de xadrez Sara Khadem (também conhecida como Sarasadat Khademalsharieh).

Rekabi disse que se tratou de um erro, com fortes suspeitas de que fez esta declaração depois de ter sido ameaçada. Mais tarde, activistas pró-democracia denunciaram que a casa da sua família fora demolida pelo regime como castigo, segundo a emissora britânica BBC. A agência de notícias Tasnim confirmou a demolição, dizendo que tinha sido por falta de uma licença.

O caso mais recente a chamar a atenção foi o da xadrezista Sara Khadem, que depois de competir no Cazaquistão estava em Espanha, onde o diário El País noticiava, na semana passada, que ficaria a viver.

A jogadora tomou a decisão depois de receber avisos para não regressar, disse uma fonte próxima à agência Reuters. No Irão, os pais de Khadem também foram ameaçados.

Sara Khadem deverá, segundo o diário El País, ficar a viver numa cidade espanhola cujo nome não foi divulgado por razões de segurança, com o marido, o realizador Ardeshir Ahmadi, e o bebé de quase um ano.

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