A Rússia, o Ocidente e a democracia liberal

A moderna ideia de democracia liberal, uma democracia representativa, como um modelo político universal, tem a sua génese no Ocidente na transição do século XVIII para o século XIX.

1. A questão não é nova, mas com a invasão da Ucrânia pela Rússia reemergiu na mente de muitos. Qual a razão pela qual a Rússia não é hoje, nem nunca foi na sua história, uma democracia liberal, desviando-se do trajecto da modernidade política europeia e ocidental dos últimos dois séculos e meio? Olhando para a sua história, apenas houve duas curtas experiências liberais à entrada e à saída do século XX. A primeira, em 1917, durante I Guerra Mundial, com a Revolução de Fevereiro, foi particularmente efémera pois foi abruptamente interrompida pela Revolução bolchevique (comunista) de Outubro. Mas essa transformação revolucionária levou também a uma desintegração parcial do Estado russo, com substanciais perdas territoriais só recuperadas com dificuldade mais à frente. A segunda experiência ocorreu ao longo dos anos 1990, após a desintegração da União Soviética e do regime comunista — que levou, de novo, a enormes perdas territoriais e de influência no mundo —, abrindo caminho à mudança para uma economia capitalista liberal. Para muitos russos que viveram essa época, deixou, assim, uma memória traumática, de penúria, de caos e de fraqueza. A história russa leva a formular uma interrogação crucial: a inexistência de uma democracia liberal é apenas o resultado do autoritarismo de Vladimir Putin que a subverteu, ou a explicação é mais complexa e profunda?

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