Benedict Cumberbatch pode ter de pagar reparações pela escravatura nos Barbados

A família do actor britânico administrou uma plantação de cana-de-açúcar que recorria a mão-de-obra escrava nas Caraíbas durante os séculos XVIII e XIX.

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O actor britânico diz tentar compensar o passado da família através do trabalho artístico Reuters/TOBY MELVILLE

Não é a primeira vez que Benedict Cumberbatch fala sobre como o passado da sua família e a relação com a escravatura nos Barbados o afecta. Contudo, agora além de lhe pesar na consciência, poderá também sair caro à carteira. É que a mais jovem república do mundo, desde 2021, quer processar todos os descendentes de proprietários de plantações de algodão e açúcar.

De acordo com o jornal britânico The Telegraph, a família do actor administrou uma plantação de cana-de-açúcar que recorria a mão-de-obra escrava naquela ilha das Caraíbas, durante os séculos XVIII e XIX. Durante 396 anos, os Barbados estiveram sob tutela da monarquia britânica, até à sua independência.

Agora, o país procura repor a justiça e obter indemnizações pela escravatura — uma vontade que se manifesta em todas as nações da Caraíbas. Quando Barbados passou a república o então príncipe Carlos condenou “a terrível atrocidade que foi a escravatura”, mas não se referiu à questão das reparações, que ofuscou, aliás, a visita do príncipe William àquelas ilhas. O novo país criou então o Movimento Caribenho para a Paz e a Integração dedicado a estudar e a pôr em marcha as indemnizações.

Liderado pelo secretário-geral David Denny, o movimento apelou a todos os países daquela região para que se unam e foi Barbados a dar o primeiro passo. “Devemos pedir indemnizações a todos os descendentes de proprietários de plantações que beneficiaram do comércio de escravos, incluindo a família Cumberbatch”, defendeu em entrevista ao diário britânico.

O dinheiro da indemnização que Benedict Cumberbatch poderá vir a pagar, à semelhança de tantos outros britânicos, deverá ser usado para “converter as clínicas locais em hospitais, apoiar as escolas, melhorar as infra-estruturas e a vida do país”.

O actor britânico já tinha dito publicamente como o passado da família o afecta e defendeu que procurava, através do trabalho artístico, alertar para as atrocidades cometidas nesses séculos de escravatura. Em 2013, deu vida a um dono de uma plantação em Nova Orleães, nos Estados Unidos, no premiado filme 12 Anos Escravo.

Antes disso, em 2006, protagonizou o filme Amazing Grace que conta a história da luta do deputado britânico William Wilberforce para cessar o tráfico de escravos no século XVIII e, mais tarde, abolir a escravatura. Numa entrevista ao The Guardian em 2014, Benedict Cumberbatch revelou que, no início da sua carreira, a mãe tinha mesmo sugerido que mudasse o apelido para evitar falar sobre o passado da família com a escravatura.

Um antepassado do actor, Joshua Cumberbatch, adquiriu uma plantação para cultivar açúcar em Cleland, no sul dos Barbados, em 1728. O The Telegraph avança que terão chegado a ter 250 escravos. As terras estiveram nas mãos da família durante quase um século.

Quando a escravatura foi abolida em 1834, o governo britânico concedeu uma indemnização a quem havia perdido as suas terras nas Caraíbas e as suas fontes de rendimento. Foi o caso da família Cumberbatch que recebeu seis mil libras (cerca de 6800 euros), um valor que transposto para hoje ascenderia a um milhão, de acordo com os cálculos feitos pelo jornal inglês.

Mas os Cumberbatch não são os únicos na mira do governo dos Barbados. O deputado conservador do parlamento britânico Richard Drax, avançava o The Guardian, esteve recentemente nas Caraíbas para uma reunião com a primeira-ministra Mia Mottley, para tentar chegar a um acordo sobre o valor das reparações. Não se conhece, para já, o resultado do encontro.

A família Drax foi uma das pioneiras do sistema de plantação de cana-de-açúcar no século XVII e desempenhou um papel importante no desenvolvimento do sistema de tráfico de escravos entre as Caraíbas e os Estados Unidos.

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