A simbologia da roupa escolhida por Janja da Silva

Nova primeira-dama do Brasil deixa de lado o vestido para a posse presidencial de Lula. Petista troca cor de gravata com vice Geraldo Alckmin.

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O presidente Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin ladeados pelas mulheres, Rosangela "Janja" da Silva e Maria Lucia Ribeiro Alckmin Reuters/ADRIANO MACHADO

A primeira-dama Janja da Silva escolheu um fato de crepe de seda para a cerimônia de tomada de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A socióloga preteriu as opções tradicionais — vestido ou conjunto de blazer com saia — e escolheu um casaco estruturado acompanhado de colete e calça pantalona.

Em entrevista à revista Vogue, Janja disse que queria “vestir algo que tivesse simbolismo para o Brasil, para os estilistas, para as cooperativas e para as mulheres brasileiras”. O modelo, desenhado pela estilista brasileira Helô Rocha, é feito com tecido nacional e tem detalhes em palha bordados por artesãs de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte.

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A primeira-dama e a mulher do vice-presidente na cerimónia de tomada de posse, em Brasília José Cruz/Agência Brasil

A socióloga, que se casou em maio com Lula, tem expressado vontade de ressignificar o papel de primeira-dama e abordar questões de gênero. Nesse sentido, a escolha da calça pode ser lida como um símbolo de igualdade entre homens e mulheres. O rabo de cavalo no lugar dos cabelos soltos ou do tradicional coque também sugere uma postura prática e moderna.

O fato branco é um look icônico do movimento feminista. Foi adotado pelas sufragistas dos Estados Unidos na década de 1920 e tem sido usado por mulheres em cerimônias políticas desde então. Mais recentemente, a vice-presidente norte-americana Kamala Harris usou o modelo no primeiro evento após a vitória da eleição presidencial de 2020. A ex-candidata à presidência dos EUA Hillary Clinton, a parlamentar democrata Nancy Pelosi e a ex-presidente Dilma Rousseff.

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O casal Clinton na tomada de posse de Donald Trump, em Janeiro de 2017 Reuters

A cor branca escolhida por Lu Alckmin, mulher do vice-presidente Geraldo Alckmin, também é simbólica para o movimento de mulheres na luta pelo direito ao voto. Ela optou por um cape dress semelhante ao que foi usado pela jovem parlamentar Alexandra Ocasio-Cortez numa cerimônia do Parlamento dos EUA em 2019.

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A congressista Alexandria Ocasio-Cortez no discurso do Estado da Nação de Trump, em 2019 Reuters

As escolhas e o posicionamento de Janja da Silva a diferenciam de suas antecessoras mais recentes. A mulher de Jair Bolsonaro, Michelle, foi um símbolo de conservadorismo ao repetir que o papel da mulher é ser “ajudadora” do marido. A mulher de Michel Temer, Marcela, teve ainda menos expressão pública e chegou a ser descrita como “bela, recatada e do lar”.

Moda masculina

O aspecto simbólico da moda também se fez notar nas gravatas escolhidas por Luiz Inácio Lula da Silva e por Geraldo Alckmin. Lula, cujo partido é identificado com a cor vermelha, optou por uma gravata azul, cor adotada pelo antigo partido de Alckmin.

A união dos dois políticos, que já foram adversários, abriu espaço para a formação de uma frente política ampla que foi capaz de derrotar Jair Bolsonaro na segunda volta.


A autora escreve em português do Brasil.

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