Escondidinho de grilo e sorvete de couve-flor (inclui receita). Alguém é servido?
A Universidade Católica desafiou mais de 600 alunos do secundário a criar receitas sustentáveis. Entre as premiadas estão um escondidinho de grilo, gelado de couve-flor e “carne” de casca de banana.
Sugestão do chef: como entrada, springrolls de couve branca com recheio de “carne” de casca de banana. Escondidinho de grilo é o prato principal e, para sobremesa, sorvete de couve-flor.
Este menu inusitado é composto por apenas algumas das criações vencedoras do concurso da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, que desafiou alunos do secundário de todo o país a imaginar a alimentação do futuro. Os vencedores foram anunciados esta semana.
A proposta, à qual mais de 600 estudantes de 66 escolas aderiram, era criar receitas que respondam a três critérios: elevado valor nutricional, baixo custo económico e pegada ecológica reduzida – preocupações de um futuro onde guerras, alterações climáticas e o crescimento da população humana podem influenciar mudanças na nossa alimentação.
“O tema do concurso vem na linha daquilo que são as nossas preocupações há muitos anos: trabalhar as áreas de sustentabilidade ambiental, as recomendações nutricionais e a forma como, nas recomendações alimentares, devem ser contempladas pegadas ecológicas menos impactantes”, explica Marta Correia, co-organizadora do concurso e coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição, ao PÚBLICO.
Os grupos compostos por um professor e um a quatro alunos desenvolveram uma receita original (que podia ser a recriação de uma já existente), prepararam o prato e documentaram todo o processo, submetendo a criação nas categorias de entrada, prato principal ou sobremesa. Posteriormente, os melhores trabalhos foram escolhidos numa triagem em duas fases – uma selecção das trinta melhores receitas por quatro especialistas em nutrição e a escolha dos premiados por um júri de cinco especialistas em ambiente, transição alimentar e sustentabilidade.
O concurso, que nasceu a propósito do Dia Mundial da Alimentação em Outubro, tem prémios monetários, sendo que primeiro lugar em cada uma das categorias recebe 100€, o segundo recebe 60€ e o terceiro 40€. Os vencedores estão espalhados por vários cantos do Norte ao Centro do país: Porto, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Famalicão, Almada, Abrantes, Loures e Armamar.
Do escondidinho de grilo ao sorvete de couve-flor: são estes os vencedores
Dos pratos vegetarianos ou de peixe, passando por insectos num prato completamente gluten free, imaginação não falta aos jovens estudantes. A alimentação sustentável do futuro traz consigo uma miríade de possibilidades e as doze criações premiadas podiam, facilmente, compor o menu de um restaurante. Nem o júri conseguiu escolher – em todas as categorias, há lugares ocupados por mais do que um prato. Para as “Entradas”, o prato vencedor foi o wrap de vegetais em cama de abóbora.
Já o segundo lugar foi ocupado por spring rolls de couve branca com recheio de “carne” feita com cascas de banana, húmus de folha de abóbora e ainda bombons de húmus com sopa de cogumelos e crumble de castanha.
Neste restaurante sustentável, os pratos principais são hambúrguer de cogumelos e duchesse de tremoço (o vencedor da categoria), rolinho de sarda braseado com puré de batata-doce e marmelo. Em terceiro lugar, escondidinho de grilo – feito com farinha deste insecto – e almôndegas de curgete.
Para terminar em grande, os vencedores da categoria dedicada às sobremesas trazem sugestões de fazer crescer água na boca: crumble de maçã de montanha com frutos vermelhos vence o primeiro lugar, seguido por sorvete de couve-flor em crepes de quinoa.
Por fim, o terceiro lugar na categoria “Sobremesas” é ocupado por um bolo de Outono da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes e uma sobremesa totalmente lilás – envolvido de frutos vermelhos com pérolas de maçã doce, acompanhado por “limonada pH”, cuja cor é dada por cubos de gelo de couve roxa.
“Uma adesão incrível”
As expectativas para a primeira edição do concurso foram, em muito, superadas. Para Marta Correia, as “centenas” de receitas que chegaram à Escola de Biotecnologia da Universidade Católica representam “uma adesão incrível”. Receitas que revelam a “imaginação, criatividade, paciência e arte gastronómica” que nem um adulto conseguiria ter mostram, para a organizadora, que “esta população mais jovem está muito alinhada com as nossas preocupações, quer nutricionais, quer ambientais”.
A coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição da Universidade Católica Portuguesa acredita que está nos jovens a esperança de mudar o mundo, pelo que sensibilizar esta faixa “de maneira divertida e atractiva” é uma forma de lhes trazer “consciência” do impacto das suas escolhas alimentares, no ambiente e na saúde humana.
Para o futuro, já há algumas ideias para o que fazer com as receitas da primeira edição, entre elas um e-book que inspire outras crianças e jovens. E fica a previsão de um novo concurso: “Para o ano, vamos repetir”, garante Marta Correia.