Clima: seis eventos de 2022 que nos dão esperança para o novo ano

Elaborámos uma lista de seis passos encorajadores num ano decisivo, no qual diferentes nações elegeram governos mais orientados para o clima e aprovaram medidas para reduzir os gases de efeito estufa.

Foto
Lula da Silva esteve na cimeira do clima quado já era presidente eleito do Brasil, REUTERS/Mohammed Salem

Os danos causados pela crise climática no ano passado que agora chega ao fim foram tão grandes que chega a ser difícil de mensurar. Só no Paquistão, as inundações durante o Verão mataram milhares de pessoas, deslocaram outros milhões e causaram mais de 40 mil milhões de euros em perdas. Já as cheias na Nigéria mataram centenas e deslocaram mais de um milhão de pessoas no Outono. A seca hidrológica na Europa, na China e nos Estados Unidos secou rios antes imparáveis e desacelerou os fluxos de comércio nas principais artérias, como o Mississípi e o Reno.

Diante desses extremos, a resposta humana foi, na melhor das hipóteses, desigual. O consumo de carvão, o combustível fóssil mais poluente, voltou a aumentar em 2022. Países como o Reino Unido e a China pareceram afastar-se das principais promessas climáticas. Mas toda essa melancolia veio com mais do que um lado positivo. Na verdade, é muito fácil ignorar os passos em direcção a um mundo que esforça para se ver livre do carbono, e que emerge por entre entre as catástrofes naturais.

À medida que 2022 se desenrolava, surgiu um caminho claro de esperança climática. Avanços políticos têm o potencial de desbloquear progressos no campo da acção climática. Elaborámos uma lista dos seis passos encorajadores num ano decisivo, no qual diferentes nações elegeram governos mais orientados para o clima e aprovaram medidas para reduzir os gases de efeito estufa.

1. A grande vitória do Presidente Biden muda tudo

Justamente quando parecia que Washington estava irremediavelmente paralisado, em Agosto o governo Biden e uma estreita maioria democrata no Congresso conseguiram aprovar a Lei de Redução da Inflação. A nova lei dos EUA, apoiada por cerca de 374 mil milhões de dólares em investimento no clima (o que equivale a um valor próximo em euros), é a legislação climática mais agressiva do país de todos os tempos.

As medidas previstas garantem que, nas próximas décadas, milhares de milhões de dólares serão direccionados para a transição energética, facilitando a implantação de estruturas de produção e distribuição de energia renovável, a adopção de tecnologias verdes e, por fim, a aquisição por parte dos consumidores de ferramentas para um futuro sustentável, desde carros eléctricos a bombas de calor. Especialistas em energia prevêem que a lei evitará 4 mil milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa.

2. A UE cria imposto fronteiriço do carbono

A União Europeia começou a cumprir a promessa de reduzir as emissões em 55% até 2030 (em relação aos níveis de 1990). Os 27 países chegaram a um acordo histórico para estabelecer o mecanismo de ajuste das emissões de carbono nas fronteiras (CBAM, na sigla em inglês), uma taxa de emissões sobre algumas importações que visa proteger as indústrias intensivas em carbono da Europa que são forçadas a cumprir as regras cada vez mais rígidas. Assim que entrar em vigor, haverá taxação adicional de produtos oriundos de países sem as restrições da UE em matéria de emissões.

Outro passo importante foi a revisão europeia do mercado de carbono, que será agora alargado ao aquecimento dos edifícios e ao transporte rodoviário ou marítimo. Essa expansão da política carbónica também vai acelerar o ritmo em que as empresas (de produtores de energia a siderúrgicas) são obrigadas a reduzir a poluição. O acordo deu segurança a empresas e investidores, levando os preços europeus do carbono a um recorde para 2023.

3. Aves, abelhas e biodiversidade têm grande oportunidade

Apenas duas semanas antes do final de 2022, os negociadores da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15), em Montreal, no Canadá, obtiveram uma vitória surpreendente: uma promessa feita por 195 nações de proteger e restaurar pelo menos 30% da terra e da água do planeta até 2030. As nações mais prósperas também se comprometeram a pagar cerca de 30 mil milhões por ano até 2030 para as nações mais pobres, em parte através de um novo fundo de biodiversidade.

4. Nações ricas concordam em financiar perdas e danos

O avanço no campo biodiversidade, mencionado no ponto acima, ocorreu um mês após outro momento histórico: uma outra cimeira das Nações Unidas, desta vez dedicada ao clima. Os delegados da COP27, realizada em Sharm El-Sheikh, no Egipto, chegaram a um acordo de última hora para criar um fundo de perdas e danos. O objectivo é recompensar os países em desenvolvimento afectados pelas mudanças climáticas, uma medida que é reivindicada há décadas pelas nações que menos contribuíram para o aquecimento do planeta.

Uma outra forma de financiamento climático, um mecanismo denominado parcerias justas para a transição energética (JETP, na sigla em inglês), também foi amplamente utilizada em 2022. Este instrumento visa ajudar as economias emergentes muito dependentes do carvão a afastarem-se do combustível fóssil mais poluente, sem deixar para trás comunidades e trabalhadores ligados ao sector. O JETP de cerca 8,5 mil milhões de euros da África do Sul foi anunciado em 2021, tornando-se um um modelo para este tipo de apoio. Acordos adicionais feitos em 2022 devem mobilizar cerca de 20 mil milhões de euros para a Indonésia e ainda 15,5 mil milhões de euros para o Vietname.

5. Mudanças nos líderes, mudança nas atitudes

Os eleitores realizaram grandes mudanças na liderança em vários países importantes. No Brasil, Luís Inácio Lula da Silva ganhou a presidência, em parte ao prometer acabar com o desmatamento da Amazónia. Os partidos pró-clima também ganharam terreno nas eleições australianas.

Enquanto isso, em Novembro, o presidente Biden reuniu-se com o líder chinês Xi Jinping e reatou o relacionamento que havia sido suspenso por um impasse diplomático sobre Taiwan. A cooperação entre as duas principais economias (e grandes emissoras de gases de efeito estufa) tem sido essencial para consolidar avanços climáticos anteriores, como o Acordo de Paris de 2015. O Ministério das Relações Exteriores da China disse que é do interesse das duas nações enfrentar a mudança climática de maneira cooperativa.

6. Levar as questões de metano mais a sério

O mundo demorou a entender os perigos do metano, um gás particularmente poderoso que, a exemplo do CO2, também retém o calor. Na COP26 de 2021, em Glasgow, as nações assinaram um compromisso global para reduzir essas emissões, que podem vir de poços de petróleo e gás, jazidas de carvão, aterros sanitários e pecuária.

Na preparação para a COP27 no Egipto, por exemplo, mais países (como Austrália) aderiram ao compromisso e elevaram o número total de nações inscritas para mais de 150. Nos EUA, o governo Biden avançou com regras mais rígidas que exigem que as empresas de energia façam mais para conter os vazamentos de metano.

Sugerir correcção
Comentar