Marcelo Rebelo de Sousa rejeita usar “arma atómica” para fazer cair Governo

“Não podemos ter eleições todos os anos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. “O Presidente da República não pode usar a arma atómica todos os anos.”

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Apesar do clima de contestação — que não nega —, o Presidente rejeita a hipótese de fazer cair o Governo LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Marcelo Rebelo de Sousa disse, na manhã desta sexta-feira, que a dissolução do Parlamento e a queda do Governo são uma "arma atómica" que o "Presidente da República não pode usar todos os anos". O Presidente falava aos jornalistas antes de embarcar para o Brasil, onde estará presente na tomada de posse de Lula da Silva, que decorre no domingo, dia 1 de Janeiro. "A bomba atómica é uma arma de último recurso."

"Espero que no início de 2023 seja apresentada uma solução governativa pelo primeiro-ministro", disse Marcelo, depois de ter sido questionado sobre a saída de várias figuras do actual Governo, incluindo a mais recente, do ministro das Infra-Estruturas e da Habitação. Sobre a saída de Pedro Nuno Santos, o chefe de Estado diz apenas que "cada qual é livre e ninguém é obrigado a ficar no Governo". "Quando alguém pede demissão é porque entende que não tem condições políticas ou não quer ficar do ponto de vista da sua análise política. Se quer sair é porque entende que está esgotado, então tem de se retirar."

Para o Presidente, as moções de censura (como a que foi apresentada pela Iniciativa Liberal) não são uma ferramenta viável nestes casos para dissolver o Parlamento: "As moções de censura são aprovadas com a maioria da Assembleia. Normalmente funciona da forma diversa conforme há maioria absoluta ou não. Se há maioria absoluta, já se sabe que é rejeitado."

Neste caso em concreto, a moção de censura servirá para “a oposição, ou uma parte, dizer o que pensa em relação ao Governo”, conclui.

Apesar do clima de contestação – que não nega —, Marcelo Rebelo de Sousa rejeita a hipótese de dissolver o Parlamento, justificando-o com o facto de não podermos ter “eleições todos os anos”, mesmo com “problemas mais sensíveis a uma parte da opinião pública”. “Não podemos recorrer à dissolução, o Presidente da República não pode usar a arma atómica todos os anos”, afirma.

A possibilidade de uma dissolução foi apresentada pelo Chega, que a pediu de forma directa ao Presidente da República. O PSD pediu um debate de urgência no Parlamento.

Outra das justificações utilizadas para rejeitar a dissolução é a paragem da vida política a que obriga: “Dissolução significa três meses de paragem do país. Nesta altura é preferível que o Governo governe efectivamente do que estar a interromper.”

“Para a dissolução é preciso que o país tire mais vantagem dessa dissolução” do que da manutenção do Governo actual, refere ainda. "Tememos que 2023 possa ter problemas internacionais com reflexos internos", diz. Com a guerra na Ucrânia e a crise económica, o Presidente da República não acha “claro surgir alternativa evidente, forte e imediata ao que existe no Governo”.

"Experimentalismo não é a coisa melhor para a saúde das democracias. O melhor é haver estabilização", conclui.

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