Série Semana de Quatro Dias (3): produtividade e a redução de custos intermédios

Trabalhadores mais descansados cometem menos erros. Erros humanos no processo de produção geram desperdício de matérias-primas, queixas de clientes ou casos de litígio, que envolvem custos adicionais.

A palavra produtividade está sempre presente no discurso do dia a dia em Portugal, porém a sua vulgarização ofusca a complexidade do conceito e do seu cálculo. A produtividade do trabalho é calculada pelo INE dividindo o valor acrescentado bruto pelo número de horas trabalhadas. O valor acrescentado bruto de uma empresa é o valor da produção vendida deduzido do custo dos consumos intermédios, ou seja, custos com matérias-primas, energia, contratação de serviços externos, pagamento de seguros, almoços com clientes, entre outros. Trata-se da contribuição da empresa – gestão e trabalhadores – para a criação de valor na economia.

Numa visão "tradicional", aumenta a produtividade quando os mesmos trabalhadores, laborando as mesmas horas, produzem mais bens. Porém, mesmo mantendo a produção e as horas totais trabalhadas, o valor acrescentado de uma empresa pode aumentar se diminuírem os custos intermédios. Esta dimensão é importante para compreendermos o contributo da semana de quatro dias para o aumento da produtividade – ela vai gerar poupanças em muitos custos intermédios.

Trabalhadores mais descansados trabalham melhor e com mais acuidade, cometendo menos erros. Erros humanos no processo de produção geram desperdício de matérias-primas, queixas de clientes ou casos de litígio, que envolvem custos adicionais para as empresas. Em ocupações manuais, o cansaço físico de muitas horas de trabalho causa acidentes. Portugal tem das mais altas incidências de acidentes de trabalho na Europa o que obriga todas as empresas a gastarem milhões de euros em prémios de seguro. Em ocupações intelectuais, o cansaço mental contribui para o burnout e stress, as doenças laborais do século XXI. Portugal é dos países europeus com mais altas taxas de burnout que, juntamente com o stress, custam 3,2 mil milhões de euros às empresas portuguesas conforme um relatório da Ordem dos Psicólogos. Ao optarem por uma semana de quatro dias não serão precisos workshops de saúde mental ou aulas de yoga, podendo as empresas poupar em todas as iniciativas preventivas que estão a adotar nesta área.

Ainda no ano passado, na indústria do vestuário e calçado em Portugal 20 por cento da mão de obra faltava diariamente. A semana trabalho de quatro dias reduz substancialmente as taxas de absentismo, quer porque melhora a saúde física e mental dos trabalhadores, quer por não terem de faltar ao trabalho para irem ao médico ou às finanças. As empresas poupam no pagamento de horas extraordinárias ou na contratação de serviços de agências de trabalho temporário – pagos a uma taxa horária muito superior para cobrir os turnos.

Em paralelo com a redução do absentismo, também diminui a rotação de trabalhadores e todos os custos de recrutamento, treino e formação associados. Nem todas as empresas fecham à sexta-feira, mas as que fecham têm poupanças até 20% na fatura energética. Por exemplo, a Duriense, uma fábrica de biscoitos artesanais em Marco de Canaveses, decidiu operar em quatro dias – embora sem reduzir o número de horas semanais – precisamente pelas poupanças no consumo de gás. Num futuro próximo os preços da energia vão permanecer elevados, e a semana de quatro dias pode ser uma solução para o uso mais racional de energia.

No fundo, o argumento é simples: uma empresa com 120 trabalhadores que façam 1500 horas anuais, vai ser mais produtiva do que uma empresa com 100 trabalhadores que façam 1800 horas anuais, embora as horas totais de trabalho sejam as mesmas. Vai ser mais produtiva porque vai conseguir poupar em custos intermédios, e ao ser mais produtiva poderá oferecer salários por hora mais elevados.

Muitos empresários, sobretudo no setor industrial, veem o "problema" da semana de quatro dias de uma forma contabilística: "se reduzirmos o número de horas de trabalho, temos de contratar mais trabalhadores o que aumenta os custos". Nem consideram a possibilidade de que a redução da semana de trabalho diminuir outros custos que compensem as contratações adicionais. Para avaliar seriamente a semana de quatro dias, temos de quantificar estes benefícios no contexto dos vários setores da economia portuguesa. Poderão ser grandes, como poderão ser pequenos, mas seguramente não serão zero.

As empresas interessadas em saber mais sobre o projeto podem inscrever-se nas sessões de esclarecimento, que decorrerão até final de janeiro, no site: https://www.iefp.pt/projetos-e-iniciativas

Pedro Gomes é coordenador da experiência-piloto da semana quatro dias, organizada pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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