Irão impede mulher e filha de ex-capitão da selecção de sair do país

Governo desviou o avião em que viajavam a mulher e a filha de Ali Daei, antigo avançado da selecção do Irão, que disse apoiar os protestos contra o regime.

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Protestos no Irão EPA/CLEMENS BILAN

As autoridades iranianas desviaram um voo que tinha partido com destino ao Dubai esta segunda-feira, impedindo que a mulher e filha de Ali Daei, ex-capitão da selecção e estrela do futebol iraniano, abandonassem o país. No final de Outubro, Daei foi temporariamente detido por declarações de apoio ao movimento de contestação ao regime.

Num clima de repressão generalizada, Teerão também disse que as detenções de cidadãos ligados ao Reino Unido eram o reflexo do "papel destrutivo" do país ao longo de mais de três meses de tumultos.

Um dos serviços que poderá ajudar os iranianos a contornar as restrições na Internet é o Starlink, rede de Internet por satélite da SpaceX, de Elon Musk. Musk disse na segunda-feira que a empresa está em vias de instalar 100 terminais de satélites Starlink no Irão.

Entretanto, a mulher de Ali Daei foi proibida de viajar para o estrangeiro, informou a Justiça iraniana, depois de as autoridades terem ordenado que o avião Mahan Air no qual tinha embarcado, e que se dirigia a Doha, aterrasse na ilha de Kish, no Golfo do Irão.

"Sinceramente, não percebo a razão para isto. Será que queriam deter um terrorista?" questionou Daei, em declarações à agência de notícias iraniana ISNA.

Depois de ter manifestado o seu apoio aos protestos nas redes sociais, as autoridades encerraram no último mês uma ourivesaria e um restaurante dos quais era proprietário.

Os protestos foram desencadeados pela morte de Mahsa Amini, uma iraniana curda de 22 anos, alegadamente detida por não usar correctamente o hijab, sob o rigoroso código de vestuário islâmico para mulheres do Irão.

O Irão acusou países ocidentais, Israel e Arábia Saudita de incentivar a desordem, alegações acompanhadas de detenções de dezenas de cidadãos com dupla nacionalidade, parte de uma narrativa oficial destinada a desviar as responsabilidades do Governo iraniano.

Questionado por um jornalista sobre a detenção de sete pessoas ligadas ao Reino Unido, Nasser Kanaani, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, declarou no domingo: "Alguns países, especialmente aquele que mencionou, tiveram um papel pouco construtivo em relação aos recentes desenvolvimentos no Irão. O seu papel foi totalmente destrutivo e incitou aos tumultos".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico tinha dito que estava a procurar obter mais informações das autoridades iranianas sobre as detenções.

A organização iraniana de direitos humanos HRANA diz que cerca de 18.500 pessoas foram presas durante os protestos. Autoridades governamentais afirmam que a maioria foi libertada.

Para além das detenções, as autoridades impuseram proibições de viagem a dezenas de artistas, advogados, jornalistas e celebridades por apoiarem os protestos.

A HRANA disse também que até 25 de Dezembro, 507 manifestantes tinham sido mortos, incluindo 69 menores, assim como 66 membros das forças de segurança.

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