Exército sul-coreano pede desculpa por não ter conseguido abater drones norte-coreanos

Força Armada assume “insuficiências” operativas e “fracasso” na resposta à incursão de drones perto de Seul. Presidente critica política do seu antecessor para lidar com Pyongyang.

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Yoon Seok-yeol, Presidente da Coreia do Sul, defende abordagem mais dura nas relações com a Coreia do Norte DAEWOUNG KIM/Reuters

O Exército da Coreia do Sul emitiu esta terça-feira um pedido de desculpas público por não ter conseguido abater cinco drones norte-coreanos que cruzaram a fronteira entre os dois países e que sobrevoaram algumas cidades sul-coreanas, incluindo a zona norte da capital, Seul.

“Lamentamos o facto de, apesar de o nosso Exército ter detectado e acompanhado os drones, não termos sido capazes de os abater”, disse o tenente-general Kang Shin-chul, chefe de operações do Estado-Maior das Forças Armadas da Coreia do Sul (JCS, na sigla original), numa conferência de imprensa.

“É lamentável que não tenhamos conseguido abater os drones inimigos de uma forma rápida e eficiente, tendo em consideração a segurança pública”, insistiu, citado pela agência noticiosa Yonhap.

“Acabámos por causar muita preocupação pública por causa da insuficiência na postura de prontidão do Exército”, concluiu, explicando que o JCS vai investir em armamento e em formação especializada para lidar concretamente com a incursão de drones norte-coreanos no espaço aéreo sul-coreano.

Segundo a Yonhap, o Exército disparou mais de 100 tiros contra os dispositivos que foram localizados em Gimpo, Ganghwa e Paju, na província de Gyeonggi, e em vários pontos da área metropolitana de Seul, na região noroeste da Coreia do Sul.

O facto de alguns dos drones em causa terem sobrevoado o território sul-coreano durante quase cinco horas, sem terem sido neutralizados, levanta muitas questões sobre a real capacidade operativa daquele que é um dos Exércitos mais modernos e supostamente mais bem preparados da região, num país e numa sociedade altamente militarizadas.

E num ano em que o regime de Kim Jong-un já testou mais de 60 mísseis, incluindo mísseis intercontinentais, batendo todos os recordes de ensaios balísticos completados com sucesso no espaço de 12 meses, mais perguntas se levantam.

Para além disso, Seul receia que Pyongyang se esteja a preparar para levar a cabo um ensaio nuclear, pela primeira vez desde 2017.

“O incidente apanhou o Exército da Coreia do Sul desprevenido, expondo a imaturidade da sua reacção. Vão ter de verificar os seus detectores GPS e o todo o sistema de resposta, em geral”, analisa Cha Du-hyeogn, investigador do think tank Asan Institute for Policy Studies (Seul), citado pela Reuters.

Críticas presidenciais

“O incidente demonstrou a falta substancial de preparação e de treino por parte do nosso Exército nos últimos anos, e confirmou, claramente, a necessidade de prontidão e de formação mais intensas”, afirmou, na mesma linha, Yoon Seok-yeol, Presidente da Coreia do Sul, num Conselho de Ministros realizado esta terça-feira.

Explicando que os planos, já existentes, de “estabelecer uma unidade de drones para monitorizar as principais infra-estruturas militares norte-coreanas”, vão ser implementados “o mais rapidamente possível”, Yoon – um conservador, defensor de uma abordagem mais dura nas relações com a Coreia do Norte – criticou a política “perigosa” seguida pelo seu antecessor, Moon Jae-in – um liberal, defensor do diálogo entre os vizinhos desavindos.

Eleito em Março desde ano, Yoon criticou directamente o acordo estabelecido entre Moon e Kim Jong-un em 2018, durante a série de cimeiras inter-coreanas históricas, através do qual os dois países se comprometeram com a proibição de actividades hostis junto à Zona de Desmilitarização (DMZ), na fronteira.

Para além disso, argumentou que não foram levados a cabo exercícios mais aprofundados de resposta à ameaça dos drones desde a última vez que dispositivos norte-coreanos deste tipo foram vistos a cruzar a fronteira, há cinco anos.

“Acredito que as pessoas viram claramente o perigo de uma política para a Coreia do Norte que está dependente das boas intenções da Coreia do Norte e de acordos militares”, criticou o chefe de Estado sul-coreano, citado pela Yonhap.

As duas Coreias travaram uma violenta e traumática guerra entre 1950 e 1953, mas as hostilidades terminaram com um acordo de armistício e não com um tratado de paz; pelo que, tecnicamente, Coreia do Norte e Coreia do Sul continuam em conflito.

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