Kathy Whitworth, a recordista

Homem ou mulher, nenhum golfista ganhou torneios mais do que ela no circuito profissional.

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Kathy Whitworth ganhou 88 provas do circuito profissional GETTY IMAGES

Um milhão de dólares pode não parecer muito nos tempos que correm para quem anda no topo do desporto profissional. No golfe, só em 2022, 126 jogadores ganharam mais de um milhão no PGA Tour (Scottie Scheffler liderou a lista dos ganhos, com 14 milhões), e no circuito feminino, o LPGA Tour, houve 27 jogadoras acima deste valor. No tempo em que Kathy Whitworth dominou o circuito, precisou de quase uma carreira inteira para se tornar a primeira mulher a acumular um milhão de dólares em ganhos. E ninguém ganhou tantos torneios como ela no golfe profissional. Nem Tiger Woods.

Kathy Whitworth morreu na véspera de Natal, aos 83 anos. Não foram reveladas as causas da morte, nem o local, mas uma nota divulgada pela sua companheira de sempre, Bettye Odle, diz que Kathy morreu tranquilamente, rodeada de família e amigos. “É com o coração cheio de amor que dizemos a todos que morreu a maior vencedora de sempre do golfe profissional, Kathy Whitworth. Deixou este mundo como viveu, a amar, a rir e a criar memórias”, diz o comunicado.

O mundo despediu-se daquela que é considerada a melhor golfista de sempre, um título que ela própria atribuía a outras. Talvez seja uma questão de opinião, mas a verdade é que Kathy tem mais vitórias no circuito profissional do que qualquer homem ou mulher. Foram 88 numa carreira que durou 27 anos, entre 1958 e 1985 — entre as mulheres, quem mais se aproxima é uma das suas contemporâneas, Mickey Wright (82); entre os homens, Sam Snead e Tiger Woods são os que mais ganharam (82).

Natural do Texas, Whitworth era uma atleta dotada e que escolheu o ténis como primeiro desporto. Mas o seu primeiro contacto com o golfe, aos 15 anos, mudou-lhe a preferência desportiva. “O golfe agarrou-me pela garganta. Nem consigo dizer o quanto gostei de golfe naquele momento. Tive muita sorte em saber o que queria fazer logo naquele momento”, contou Whitworth numa entrevista à revista Golf Digest. Quatro anos depois, já era profissional.

"Só queria ganhar"

Whitworth tinha 19 anos quando entrou no LPGA, em 1958, numa altura em que o circuito era quase irrelevante no desporto norte-americano. Mas o golfe era o único desporto profissional feminino e esse foi um dos motivos que a levou escolher a modalidade. Naqueles tempos, o LPGA era uma espécie de “circo” itinerante, em que as jogadoras viajavam nos próprios carros pelo país para jogar perante poucas centenas de espectadores e tinham de ficar em hotéis baratos.

Só no quarto ano como profissional, em 1962, é que Whitworth conseguiu a primeira vitória. E não parou de ganhar — ganhou torneios todos os anos até se retirar, em 1985. E não são apenas as 88 vitórias que impressionam, são também as 93 vezes que ficou em segundo lugar. Mas não havia aqui nenhuma vontade de bater recordes. “Só queria ganhar, não queria chegar a um recorde que ninguém conseguisse ultrapassar. Não sou nenhuma anomalia. Tive sorte de ter tanto sucesso. Mas o que eu fiz para ser melhor jogadora, não era o que me fazia melhor pessoa”, observou.

Whitworth foi uma das jogadoras dominantes do seu tempo, com um sucesso que atravessou gerações, mas sem o retorno (ou o reconhecimento) que os seus contemporâneos masculinos, como Arnold Palmer ou Jack Nicklaus, tinham. Por exemplo, no primeiro ano em que Whitworth liderou os ganhos na LPGA, em 1965, com 28,6 mil dólares e oito vitórias no circuito, Nicklaus ganhou 140,7 mil, tendo vencido por cinco vezes no PGA. Assim se percebe por que razão é que levou uma carreira inteira para ser a primeira mulher a chegar ao milhão de dólares em “prize money”.

Foi apenas em 1981, já com 23 anos de carreira, que Whitworth chegou ao milhão de dólares, com um terceiro lugar no US Women’s Open que lhe valeu 9500 dólares e lhe permitiu ser a primeira milionária do golfe feminino, “um grande marco”, como escrevia a Sports Illustrated sobre esse torneio. “No lado dos homens, o estatuto de milionário não é nada de especial: 31 jogadores do PGA já ganharam um milhão”, lê-se no artigo da revista.

O simbolismo desse número acabou por servir de consolação a Whitworth, que, no seu número recorde de conquistas, não teve nenhuma vitória no US Open. “Teria trocado esse estatuto de ser a primeira por uma vitória no US Open”, disse a jogadora, que se retirou em 1985. Em 1990, foi a capitã da equipa dos EUA na primeira edição da Solheim Cup, a versão feminina da Ryder Cup, e venceu o duelo contra a selecção europeia, repetindo a presença (mas não a vitória) em 1992.

Até 2022, já houve 267 mulheres a ganharem mais de um milhão de dólares a jogarem golfe como profissionais. Kathy Whitworth foi a primeira de todas.

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