”¡No pasarán!”, ouviu-se em Barcelona na plateia de Catarina e a Beleza de Matar Fascistas

Parte do monólogo da peça de Tiago Rodrigues foi pateada em Barcelona e actores aplaudidos no fim.

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A peça "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas" Rui Gaudêncio

Esta quinta-feira é o segundo e último dia da apresentação da peça Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, pela companhia do Teatro Nacional D. Maria II, na sala Fabià Puigserver do Teatre Lliure de Montjuïc, em Barcelona. Na apresentação de ontem da peça de Tiago Rodrigues, escreve o jornalista da secção de cultura do El País Jacinto Antón, o público que encheu a sala “seguiu à risca o guião previsto e reagiu de forma semelhante ao que tem vindo a acontecer noutros teatros europeus” por onde o espectáculo, que se estreou a 13 de Setembro de 2020, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, tem passado em tournée.

A peça projecta-se no ano de 2028 e centra-se numa família que tem por tradição matar fascistas, ritual de décadas mas que a mais nova, Catarina, vem questionar, argumentando em prol da defesa da vida e da compreensão de quem acaba por votar num partido de extrema-direita.

“Os espectadores começaram por ouvir o monólogo final em silêncio, mas pouco a pouco começaram a responder ao discurso execrável do fascista expressando a sua indignação” escreve o jornalista espanhol referindo-se à parte final do espectáculo escrito e encenado pelo actual director do Festival de Avignon. No momento em que o actor Romeu Costa, que interpreta o membro desse partido de extrema-direita, ataca as minorias e os fundamentos da democracia ouviram-se na plateia gritos de “Fora! Fora!”, vários “¡No pasarán!​” e até um “basta, vai para o …!” (dito em português, a peça tinha legendas em catalão), além de assobios e tudo culminou numa forte pateada. Houve alguns espectadores que abandonaram a sala.

Em Itália, Catarina e a Beleza de Matar Fascistas recebeu o Prémio Ubu de melhor peça estrangeira mas também foi alvo de protestos e o deputado Federico Mollicone, do partido Irmãos de Itália (Fratelli d'Italia), pediu que o espectáculo fosse retirado do cartaz do Teatro di Roma. O The New York Times considerou-a um dos melhores espectáculos na Europa em 2022 (foi seleccionada pela crítica de teatro do jornal em Paris, Laura Cappelle, que a viu em Bouffes du Nord, Paris).

No El País, Jacinto Antón escreve que no Teatre Lliure o público “aderiu ao protesto consciente das regras do jogo dramático”, e não tentou invadir o palco ou atirar objectos, como já aconteceu noutras apresentações, e no final aplaudiu todos os actores. O jornalista considera Catarina e a Beleza de Matar Fascistas “um espectáculo bonito e bem-intencionado, apesar do jogo equívoco da última parte.”

“É uma fábula política muito bem interpretada, talvez um pouco ingénua na abordagem do debate sobre os limites à democracia para melhor a defender dos seus agressores. Em todo caso, é um bom exemplo de teatro político que procura abanar as consciências e reflectir (não é por acaso que Bertolt Brecht é citado frequentemente)”, acrescenta o jornalista do El País.

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