Qatargate”: eurodeputada socialista nega ter ajudado a financiar a Fight Impunity

Isabel Santos nega qualquer contributo para apoiar a ONG e diz acreditar que “o Parlamento Europeu não atribuiu qualquer verba à Fight Impunity”.

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Isabel Santos já foi deputada à Assembleia da República e é actualmente eurodeputada António Cotrim

Não só Isabel Santos nunca ajudou a financiar a organização não-governamental (ONG) Fight Impunity no âmbito do esquema de corrupção "Qatargate", como o Parlamento Europeu não terá sequer atribuído qualquer verba àquela ONG. É esta a garantia dada pela eurodeputada do PS em comunicado enviado às redacções ao final da tarde desta quarta-feira.

“É completamente falso que tenha avalizado, apoiado ou incentivado financiamento seja a que organização for, nomeadamente à associação em causa. Além disso, tanto quanto é do meu conhecimento, o Parlamento Europeu não atribuiu qualquer verba à Fight Impunity”, refere a eurodeputada, acrescentando que, do que é o seu conhecimento, “no que diz especificamente respeito ao projecto-piloto de criação de um observatório de combate à impunidade”, as candidaturas não foram ainda abertas por parte da Comissão Europeia. “E por isso não poderia ter sido atribuído qualquer financiamento, fosse a que organização fosse.”

Por outro lado, refere que “tais financiamentos são sempre sujeitos a um processo de candidatura e selecção geridos pela Comissão, em que o Parlamento Europeu não têm influência”. E conclui: “Por isso, é falso que eu tenha ajudado a financiar a Fight Impunity.”

No longo comunicado, Isabel Santos aproveita ainda para assegurar que o seu contributo para esta entidade “foi sempre prestado a título gracioso”, realçar que nunca desempenhou “qualquer função executiva, de gestão ou de representação” na ONG e notar ter somente participado “em algumas sessões ou conferências públicas”.

A socialista faz ainda questão de recordar que logo após ter “tomado conhecimento pela imprensa do envolvimento do presidente da Fight Impunity num caso de presumível corrupção” pediu, “na manhã do dia 11 de Dezembro”, que retirassem o seu nome do "quadro de honra” da ONG.

O jornal Le Soir noticiou na semana passada que a eurodeputada socialista, assim como uma colega de bancada belga também pertencente ao grupo parlamentar europeu da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), teriam apoiado o financiamento de um projecto-piloto desta ONG junto do comité dos Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu.

Em causa está o pagamento de 175 mil euros, que acabou por ser aprovado, e uma primeira tranche de 43.750 euros que terá sido paga a 23 de Fevereiro de 2021 — um ano e meio depois de a ONG ter sido criada com o objectivo de promover e alertar para o papel que a sociedade civil deve desempenhar no combate à impunidade. Valor aquele que, segundo uma fonte não identificada por aquele jornal, “não é evidente” que seja atribuído até mesmo a entidades “bem estabelecidas”.

Em declarações ao jornal i e a propósito de um eventual conflito de interesses, Isabel Santos assegurou que não foi a ONG que apresentou um pedido de financiamento ao Parlamento Europeu (PE), tendo sido o próprio Parlamento a apresentar o projecto. E prosseguiu dizendo que quando o PE financia um projecto, “cabe-lhe a ele checkar as instituições”. Afirmou também que “se alguma vez esse subsídio foi atribuído, essa gestão é feita pela Comissão [Europeia] e não pelo Parlamento [Europeu]”.

Isabel Santos pediu a renúncia da ONG no mesmo dia em que Eva Kaili, agora ex-vice-presidente do PE, foi detida e acusada de estar envolvida no “Qatargate”, uma decisão que, segundo declarou então ao PÚBLICO, tomou “chocada e surpreendida”.

Foram também acusados o marido da ex-eurodeputada e assessor do PE, Francesco Georgi, e o ex-eurodeputado socialista Pier Antonio Panzeri, líder e fundador da Fight Impunity, por crimes de pertença a organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. Está em causa o alegado envolvimento num esquema de subornos por parte do Governo do Qatar em troca de influência política no Parlamento Europeu.

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