Se fosses a Marte, que objecto levarias?

Alunos portugueses imaginaram que objecto levariam para o planeta Marte, se um dia fossem a este planeta. A parte cultural e dos valores humanos sobressai neste exercício de imaginação.

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O planeta Marte NASA/JPL/Caltech
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Desenho de Catarina Morais, 12º AV1, Escola Secundária José Saramago, em Mafra

Alunos da Escola Secundária Frei Heitor Pinto, na Covilhã, ofereceram a todos os leitores do PÚBLICO uma prenda de Natal, ao imaginarem que objecto levariam para Marte, caso para lá fossem viver ou de visita apenas. Algumas das suas sugestões são bem apropriadas para a época do ano que estamos a viver em que a preocupação com o mundo e os outros e os valores humanos fazem parte das conversas de espírito natalício.

Além de imagens de Marte recolhidas em diversas missões espaciais ao longo dos anos, os 12 textos de alunos do 12º ano da Escola Secundária Frei Heitor Pinto são também acompanhados por dois desenhos, um de uma aluna da Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória (na ilha Terceira, Açores), e outro de uma aluna da Escola Secundária José Saramago (em Mafra). Tanto os textos como os desenhos chegam-nos no âmbito do projecto PÚBLICO na Escola.

E agora é tempo de nos deixarmos surpreender com estes trabalhos onde a imaginação se casa com ciência e a cultura na resposta a esta pergunta: que objecto levarias para Marte? A mesma pergunta que fizemos à astrobióloga Zita Martins (do Instituto Superior Técnico), que nos responde nesta entrevista, e que às 19h desta terça-feira podemos ver em directo no site e redes socais do PÚBLICO na Conferência de Natal Ciência Viva, dedicada à procura de vida noutros mundos.

Se quiseres, até posso ler para ti em voz alta

Marte, de cor avermelhada, talvez assim te chames em homenagem a um outro Marte, o deus da guerra, segundo a mitologia romana. Se me dissessem hoje que teria de me despedir da tão quentinha Terra para habitar em ti, sou honesta, ser-me-ia complicado.

Dá-se teres essa cor em tons de vermelho, por conta da tua crosta de basalto vulcânico, és o quarto planeta a contar do sol e eu sempre preferi a Terra, até porque o número três é dos meus preferidos. E por falar em números, a tua temperatura média a rondar aproximadamente os 60 graus Celsius negativos também não me indica que vá ter grandes calores por aí, e mesmo que os tivesse? Nem tens água que eu possa beber…

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Vento e poeiras na superfície avermelhada de Marte, num registo a 18 de Junho de 2021 do robô Perseverance da NASA NASA/JPL/Caltech/SSI

E já agora, aproveitando que estamos a falar nos teus defeitos, achas bem quase não teres oxigénio na composição da tua atmosfera? Praticamente só dióxido de carbono e umas “pitaditas” de nitrogénio e árgon. Assim a nossa relação fica difícil, para não dizer tóxica para o meu lado. Água e oxigénio, quase nem vê-los. Como é que queres que eu sobreviva contigo?

E outro pormenor, moras a cerca de 228 milhões de quilómetros do sol. Por mim tudo bem, mas é que eu sempre gostei de tirar fotografias na golden hour, a luz a bater-me na cara sempre deu muitos likes, sabes? Mas deixa lá, vamos relativizar. Até porque o meu relógio não está adaptado 24 horas e 38 minutos do teu dia, por isso, jamais saberia qual era a hora ideal para fotos.

Deixa-me ainda dizer-te só mais uma coisa, se me mudasse já amanhã, e sem contar com os dias que demoraria a chegar até ti, dado que o teu ano civil tem 687 dias, o que corresponde a quase dois anos na Terra, quando é que celebraríamos a data do meu aniversário? É que não estava a contar ter de levar uma calculadora para fazer estas conversões matemáticas marotas.

Como já pudeste perceber, gosto muito de números, porém estou a fazer a minha mudança para ti e fui informada de que só posso levar um objeto. Pensei numa mala de roupas quentinhas, mas contigo só posso usar aqueles fatos matulões que a NASA tem por outfit, pensei num telefone para as selfies, mas ouvi dizer que não há por aí onde o possa carregar e soube que não me vais dar a password do WiFi, por isso desisti também desta opção; além da calculadora, pensei ainda em levar um espelho, não fosse eu encontrar um namoradito por aí, mas já percebi que contigo estou condenada a viver sozinha e sem mais ninguém, só ver o tempo passar, e daí também ter abortado essa ideia.

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Cratera Jezero observada pelo robô Perseverance NASA

Todos estes objetos iriam comigo em vão, isto já para não falar em levar água e oxigénio para me abastecer... quanto tempo durariam até me ver condenada a uma morte sem escapatória possível? Também não sei.

Por todos estes motivos que te aponto, e atenção que não o faço por mal, decidi que levaria comigo apenas A Lentidão de Milan Kundera, um livro com pouco mais de cem páginas, uma vez que o tempo de o ler seria provavelmente o mesmo que tu, Marte, levarias a matar-me com as tuas condições atrozes. Isto se não te lembrares de provocar uma tempestade de areia que me impeça de ler, ou uma ventania, daquelas que só tu sabes ter, que me levasse o livro quase até Júpiter, ou assim. Mas acredito que não o farias, afinal, nós temos uma certa amizade, és mais ou menos o equivalente a um senhorio chato e cheio de restrições, mas, no fundo, até gostas de mim.

Portanto, pressupondo que vou ler o livro fazendo algumas pausas para te conhecer melhor, o tempo que vou demorar equivalerá ao resto da minha vida. Por isso, sinto que A Lentidão, uma vez que nos ensina de forma subtil sobre a passagem do tempo e a forma como a velocidade nos condiciona em termos mentais, será uma boa escolha.

Se quiseres, até posso ler para ti em voz alta, mesmo que isso me mate mais depressa. Aceitas?
Rita Cardoso Lucas, 12º A, nº23

Uma estufa

Marte é um planeta do qual cada vez mais ouvimos falar. A esperança de algum dia poder ser habitável e de a espécie humana poder viver lá vai aumentando com o passar dos dias.

A missão de ir para Marte sozinha e de poder levar apenas um objeto é muito difícil, para não dizer impossível, e mais complexo do que aparenta ser, pois, apesar de haver uma infinidade de possibilidades, levar algo para um local onde não há nada dá muito em que pensar.

Primeiro pensei em levar um objeto que tivesse um valor simbólico para criar uma ligação afetiva com a casa, e para me fazer sentir menos só, porém, creio que será mais útil levar algo que permita criar algo no meio deste vazio.

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Perfurações no solo marciano pelo robô Curiosity NASA

Por isso, o objeto que me acompanhará será uma estufa. Com ela criarei um ambiente com plantas, onde se preservará oxigénio, ou seja, um ambiente respirável. Como a atmosfera de Marte é rica em dióxido de carbono, as plantas terão, a partir desta atmosfera, boas condições para realizarem a fotossíntese. E Marte tem luz solar favorável à sua realização.

Relativamente aos sais minerais que as plantas necessitam para a sua sobrevivência, há estudos que dizem ser possível o seu desenvolvimento no solo de Marte. De qualquer forma, junto com a estufa será possível levar terra e colocar as plantas em vasos.

As plantas, para além de permitirem a libertação de oxigénio, a partir da sua transpiração também libertarão água fundamental para a vida.

Esta ideia tem um senão: o tempo que as plantas demorarão a se desenvolverem. Com grande certeza, não irei conseguirei ver se o objeto que levo será realmente útil como desejava que o fosse. Os seres autossuficientes estão na base do começo da vida, mas enquanto não houver condições ideais para que estes seres sobrevivam, a nossa sobrevivência, enquanto seres heterotróficos (que dependemos de alimento e de fatores que os seres autotróficos nos facultam) não seria fácil.

Apesar de o mais provável ser não sobreviver para observar os resultados, este será o objeto que levarei comigo, com a esperança de que quando chegarem lá mais pessoas este sistema tenha sido bem sucedido. E depois do que fizemos à Terra, espero que em Marte tenhamos a intenção de preservar e inovar, respeitando o que este planeta tem para nos oferecer.
Maria Manuel Silva, 12º AF

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Vista panorâmica de Marte captada pelo robô Curiosity NASA/JPL-Caltech/MSSS

Eu não morreria sozinho

Difícil dizer que objeto eu levaria para Marte. De imediato, diria um fato espacial para me proteger das temperaturas negativas de Marte e me assegurar o oxigénio, uma vez que ele é inexistente em Marte. Mas, pensando melhor, esse já estaria na minha posse porque senão como faria a viagem até Marte? Num foguetão ou nave e vestido com um fato espacial, óbvio.

Continuando o meu raciocínio, e que tal um armazém com uma estufa incluída? Teria água, comida e oxigénio... Mas esta ideia também tem as suas falhas. Seria suficiente para a garantir a minha sobrevivência? Provavelmente, não! Também, com o passar do tempo, seguramente começaria a ficar fora de mim. Iria perder-me nos pensamentos, iria sentir-me sozinho... mas sobreviveria um bom tempo, quero acreditar nisso. No entanto, levar um armazém é uma ideia triste se não tiver companhia. E grande para carregar durante a viagem.

Voltei a pensar no objeto que levaria. Na verdade, ninguém me exigira que o objeto assegurasse a minha sobrevivência.

Levaria um livro! Sim, um livro. À partida, teria fato espacial e oxigénio, logo podia ler um último livro antes de ficar sem oxigénio e asfixiar. Que livro escolheria? Não sou pessoa de clássicos, mas talvez levasse Romeu e Julieta de William Shakespeare, porque ambos os personagens morrem no final do livro e, assim, eu não morreria sozinho.
Guilherme Silva 12º, nº6

Literatura marciana numa placa especial

Uma viagem para outro planeta seria uma grande oportunidade e uma aventura complexa. Ir a Marte levar-me-ia a refletir sobre o que poderia fazer de diferente que fosse contribuir para as próximas viagens da humanidade.

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Estrutura geológica em Marte DR

No quarto planeta do Sistema Solar não existe água no estado líquido nem oxigénio, visto que 95% da sua fina e rarefeita atmosfera é puro dióxido de carbono. E apesar de haver aspetos em comum entre os planetas Terra e Marte, como a existência de estações do ano e relevos (vales e planaltos), as condições de Marte não permitem a existência de vida. Assim, pensei levar um objeto que mostrasse um pouco o que os humanos inventaram e aprofundaram ao longo de séculos.

Quando penso na proposta “Se pudesses levar um objeto para Marte, o que levarias?”, vem-me à cabeça o quanto evoluímos enquanto espécie e o que contribuiu para tal. A arte e as ciências foram decisivas para avançarmos como seres humanos, mas, apesar da sua importância, creio que o que temos de ter mais em conta é a Escrita. No início, as nossas diferentes culturas e linguagens impediam que nos comunicássemos sem barreira. A descoberta das palavras foi fundamental para o Homem. O uso da escrita criou a possibilidade de comunicar através de obras, cartas ou outro tipo de meios, inclusivamente com pessoas que haviam morrido há séculos. E o facto de as palavras escritas permitirem a divulgação de informação e a perpetuação do conhecimento também foi de extrema importância.

Por estes argumentos e pelo facto de no nosso quotidiano a palavra ser essencial, eu levaria para Marte uma placa com as primeiras formas escritas, como o latim. Com este gesto iria lembrar aos próximos visitantes que, apesar de o futuro nos trazer muito de bom, é fundamental dar valor ao passado, pois foi ele o responsável por toda a nossa História.
Bruna Morais Passarinha, 12º AF, nº5

Para o céu de Marte

8 de abril de 2022
Querido Diário,
O tão esperado dia chegou. A um passo de entrar nesta nave e a oito meses de chegar a Marte. A espera é longa, mas compensará.

Foi-me diagnosticada uma patologia neurodegenerativa há cerca de um ano e meio, restando-me uma esperança de vida de três anos, pelo que pouco tempo me resta. Foi devido a esta falta de tempo, ou o que sobra dele (tendo em conta a sorte que tenho de por aqui ainda estar quando muitos partiram nos primeiros meses), que decidi entrar nesta aventura.

O meu destino, tu sabes tão bem quanto eu qual irá ser. Não há nada a fazer quanto a isso. No entanto, ainda posso escolher onde serão os meus últimos dias... Escolhi Marte.

Não sei se serei considerada louca ou corajosa. No entanto, se a minha morte acontecer daqui a mais de oito meses, que tenha servido de algo para a humanidade. Não é possível viver em Marte, por enquanto, mas prefiro mil vezes dizer que foi um planeta rochoso que me matou do que uma estúpida esclerose.

Nunca fui de escrever em diários, no entanto um feito destes há que ser relatado e, assim, prometo tornar-me a tua melhor amiga nos próximos oito meses. Não terei muitas horas em solo marciano, mas aproveitá-las-ei como se fossem as últimas, até porque, na realidade, serão.

Mal acabe a garrafa de oxigénio soltarei a válvula do fato de astronauta e partirei para um sítio além de Marte, da forma menos dolorosa possível, mas deixarei lá o registo da minha passagem. Tu, meu querido diário, ficarás em Marte dentro de uma caixa pesada e bem resistente, de modo a que os próximos visitantes saibam como fui feliz nesta viagem, na minha vida no céu, antes da minha partida definitiva.

Mas nem tudo será passeio. Durante a viagem irei escrever nas tuas linhas testemunhos de como está o mundo atualmente, como são as leis, os direitos, o conhecimento científico, a evolução da ciência. Irei escrever tudo para que, quer seja daqui a dez ou a cem anos, quem o encontre saiba em que ponto o mundo estava quando Marte foi pisado pela primeira vez.

Mal lá chegue irei concluir o documento com a parte mais importante de toda esta viagem, o conhecimento presencial do planeta vermelho. Só espero ter capacidades motoras para tudo isto senão a viagem terá sido em vão. Mas há que ter esperança porque, embora a esclerose lateral amiotrófica seja imprevisível, sempre ouvi dizer que a vida premeia os corajosos e acho que isto é o maior ato de coragem que alguma vez tive.

Amanhã dar-te-ei notícias, meu único companheiro desta viagem. Mas, para ser sincera, não precisarei de mais nada para além de ti, serás o meu refúgio da loucura da solidão, falarei contigo como se existisses porque na verdade és o reflexo dos meus pensamentos e sentimentos e eles são muito mais do que reais e capazes de me consumir se não os partilhar contigo.
Bia

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Levo tudo se não levar nada. Tenho tudo dentro de mim e, no entanto, nada nas mãos. Sou tudo o que levo e só não levo mais porque não posso. Levo tudo o que sou porque não preciso de mais nada, porque sou tudo o que posso Ana B. Pereira/Escola Secundária Vitorino Nemésio na Praia da Vitória, Terceira

8 de dezembro de 2022
Querido diário,
Sei que já não te escrevo há um mês, mas a doença agravou-se e tive que me poupar para conseguir acabar a minha missão.

Cheguei a Marte. Não há palavras que descrevam esta sensação! E mesmo que as houvessem não teria tempo nem capacidades para as escrever. Já não ando e já não falo. Perdi a mobilidade na mão direita, sorte que não sou destra.

Perdi muito, mas mantive o mais importante, a visão, e neste momento, no fim desta página, irei dizer-te tudo o que aqui vi.

Espero que quando estiveres a ler consigas sentir tudo como eu senti ao longo desta longa viagem. Não foi fácil, mas também não teria piada se o tivesse sido. Deixo-te aqui, meu melhor amigo, minha companhia destes oito meses, a minha vida que teve fim nestas meras folhas de papel. Não vivi muito, mas o pouco que vivi valeu a pena e espero que tenhas sorrido tanto quanto eu sorri quando pisei pela primeira vez este solo. Obrigada por me teres ajudado a sentir muito mais do que aquilo que sinto.

Morri, mas fui feliz! Na Terra e em Marte.
Bia
Beatriz Amaro, 12º AF

Uma máquina automática

Mesmo que a hipótese de uma ida a Marte nos pareça meramente remota, podemos considerar uma realidade em que tal cenário possa ocorrer. Assim, paramos para refletir e deparamo-nos com a pergunta: “Que objeto levaria eu para Marte?”

A minha solução para este dilema seria uma máquina automática, alimentada através de energia produzida por painéis solares, e abastecida com diversos elementos necessários à minha sobrevivência. Entre estes, encontrar-se-iam algumas garrafas de oxigénio, visto que a atmosfera do planeta é constituída por 95% de dióxido de carbono, assim como um cobertor isolador do frio, já que a temperatura varia entre cerca de 130 graus Celsius negativos e os 27 graus.

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Cratera Korolev, uma estrutura de 82 quilómetros de diâmetro situada na região Norte de Marte e cheia de gelo de água ESA/DLR/FU Berlin

Um kit de primeiros socorros, devido à diferença do valor da gravidade entre Marte (3,7 m/s2) e Terra (9,8 m/s2) que poderia conduzir a uma lesão física, também estaria incluído. Uma vez que, como humanos, qualquer radiação nos é fatal e a radiação de Marte é aproximadamente 50 vezes maior do que a incidente na Terra, um fato protetor de radiações seria da mesma forma necessário.

Por último, alguns enlatados e um filtro de água portátil, pois, embora a maior parte da água existente neste planeta se apresente no estado sólido, será possível encontrar alguma no estado líquido sendo necessário um filtro para o seu consumo, já que não há qualquer informação que nos diga que esta água seja potável.

Ainda que munida desta máquina, constituída por elementos para garantir a minha sobrevivência em Marte, não seria certa a sua eficácia face a todos os obstáculos deste planeta e às diferenças entre ele e a Terra.
Beatriz Dias, 12º B, nº4

Na minha mala iria uma carta aberta

Marte é o quarto planeta do sistema solar situando-se entre a Terra e Júpiter. A uma distância de pouco mais de 227 milhões de quilómetros do Sol, é um planeta formado por uma superfície rochosa e a atmosfera é constituída essencialmente por dióxido de carbono (95%), azoto (menos de 3%) e árgon (menos de 2%), sendo o oxigénio apenas vestigial – o que não é surpreendente, dado que o oxigénio da Terra é essencialmente um produto da vida e não a sua causa.

Com estas condições, seria muito pouco provável sobreviver neste planeta. Ainda assim, levaria uma mala de viagem com várias coisas que poderiam ajudar na minha sobrevivência, principalmente água e comida. No entanto, o mais importante seria deixar algo que marcasse a minha estadia em Marte. Por exemplo, uma carta aberta que explicasse a minha indignação com a vida na Terra.

Esta mensagem passava por essencialmente demonstrar a falta de empatia das pessoas, a falta de igualdade perante certas minorias e a falta de competência de certas pessoas em cargos importantes. Assim, apesar de não sobreviver, a minha mensagem iria ser espalhada pelos media que estariam de olho na minha viagem.
Beatriz Taborda, 12ºA, nº4

Para lá de uma floresta de bolso

Atendendo às necessidades humanas que temos de satisfazer, considero impossível viajar para Marte tendo na minha posse um só objeto, quanto mais viver nessas mesmas circunstâncias.

Não é necessária grande contemplação para entender que, para onde quer que qualquer um de nós escolha ir viver ou até viajar, tem de levar consigo uma enorme gama de objetos (para higiene, entretenimento, saúde e nutrição, entre outros) e até valores não materiais.

Para passar a habitar um planeta totalmente desconhecido, no caso Marte, esta situação aplica-se de forma exatamente igual. Ah! E claro, nestas circunstâncias é fulcral um casaco bem quentinho para aquele inverno geladíssimo, onde podem ser atingidas temperaturas que chegam até aos 125 graus Celsius negativos! Deve ser de cortar a respiração! E não no sentido metafórico, uma vez que este também não é o sítio indicado para fazer aqueles exercícios de relaxamento com inspirações profundas e expirações lentas, visto que há pouco oxigénio naturalmente disponível na sua atmosfera. Então mais um na lista, uma botija de O2.

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Remoinhos em Marte NASA

Claro que, numa emergência em que fosse forçada a abdicar de tudo e levar unicamente uma coisa, algo que não faria deliberadamente, a escolha iria para uma Pocket-Forest ou algo semelhante com o que poderia, em condições ideais (não pensando na possibilidade do clima ou solo serem adversos à proliferação de todo este mini ecossistema), criar uma atmosfera que me permitisse a mim, a quem pudesse ir comigo nesta aventura e a todo o meio circundante sairmos beneficiados e desenvolver um lugar agradável e favorável à vida.

Todavia, a minha floresta de bolso nunca iria sozinha. Como referi anteriormente, onde quer que vá, os valores não materiais vêm atrás e jamais seria capaz de partir para Marte com algo na mão, no bolso ou até mesmo colado à testa sem ser agarradinhos a sussurrar-me no ouvido: “Por que é que pensaste tanto no que trazer contigo para viveres bem num planeta que não te diz nada e deixas para trás aquele que te deu a vida como a conheces e que precisa da tua atenção, agora mais do que nunca?”

Pois, enquanto o nosso planeta Terra tiver todos os recursos que nos apresenta diariamente, que servem perfeitamente para cobrir todas as nossas necessidades (fora a ganância, claro, e a pobreza que condiciona o igual acesso a todos), e for possível fazer algo para alterar a decadência que se tem vindo a verificar, não tenho qualquer intenção de me mudar.

Quando se tratar de ir viver para Marte por inviabilidade da vida na Terra, descarto as minhas ideias previamente defendidas e escolho levar uma só placa com letras vermelhas, bem visíveis e legíveis, onde se consiga ler “Inovem, pesquisem e aprendam, mas desta vez controlem-se a vocês próprios antes de quererem ter controlo sobre o que vos permite viver”.
Sofia Gomes Brás Galvão Gonçalves, 12ºBF, nº16

Trancada numa cápsula

Marte nunca esteve nas minhas opções, pois astronomia nunca foi o meu forte, mas ao ser questionada sobre que objeto levaria até este planeta, a minha resposta foi baseada nas características que todos conhecemos acerca do planeta vermelho, nomeadamente a inexistência de oxigénio, bem como a falta de água no estado líquido.

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Desenho de Catarina Morais, 12º AV1, Escola Secundária José Saramago, em Mafra

Levaria, por isso, uma cápsula de criopreservação onde o meu corpo ficasse preservado durante muito tempo, de forma a não perder anos da minha vida, e até que o grande “planeta vermelho” fosse colonizado e habitável. Após este acontecimento, o ser humano poderia usar esta técnica para a colonização dos restantes planetas e a extinção seria impossível de ocorrer.

Apesar de não ter bem a certeza de como iria transportar uma cápsula deste tipo até Marte, nem de como me iria trancar lá dentro, estou segura de que seria um ato nunca antes visto. Talvez um dia até existisse um filme sobre este acontecimento histórico. Mas, por enquanto, apenas histórico na minha cabeça.
Leonor Duarte, 12ºAF

Com um só objeto a vida seria impossível

Marte, o quarto planeta a partir do Sol, o segundo menor do Sistema Solar, assim batizado em homenagem à divindade romana da guerra. Muitas vezes chamado de “planeta vermelho” devido à alta presença de óxidos de ferro, que lhe confere uma aparência avermelhada. Possui uma atmosfera muito diferente da atmosfera terrestre. A sua composição é predominada por dióxido de carbono, aproximadamente 95%. O restante é composto por nitrogénio, árgon, e uma pequena quantidade de oxigénio, aproximadamente 0,17%.

A superfície é fundamentalmente de basalto vulcânico e possui alta quantidade de óxidos de ferro. Apesar disso, a investigação considera-o fértil, ou pelo menos um pouco fértil. De acordo com estudos da Universidade de Wageningen, os cientistas reproduziram o solo de Marte e tentaram fazer crescer dez tipos de culturas. Em quatro das variedades plantadas, os resultados foram positivos.

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O helicóptero Ingenuity fotografado pelas câmaras do robô Perseverance, ambos chegados a Marte em Fevereiro de 2021 NASA/JPL-Caltech/MSSS

Outro fator prejudicial à sobrevivência em Marte é o nível de radiação cósmica que é sensivelmente 45 vezes superior à radiação que a Terra recebe. Isso deve-se ao facto de em Marte não existir uma magnetosfera. Segundo estudiosos, existe um “aumento de risco alarmante” para funções cerebrais durante viagens ao espaço profundo, com potenciais impactos no humor e até na capacidade de tomada de decisões dos astronautas.

Pelo nosso atual conhecimento, um dos fatores mais prejudiciais que comprometem a sobrevivência do ser humano em Marte é a falta de água. Isto porque o ser humano só consegue ficar sem ingerir água durante um período de três a cinco dias. Assim, a solução mais viável para resolver esta situação será levar um biorreator acoplado com um transformador de O2. Esta máquina tem a capacidade de transformar o elemento mais abundante da atmosfera de Marte, o dióxido de carbono (CO2), em oxigénio (O2).

Este biorreator utiliza algas, inteligência artificial (IA) e energia solar. Estes três elementos combinados absorvem CO2 de forma 400 vezes mais rápida do que as árvores, utilizando um princípio chamado de “sequestro de carbono”, processo de remoção de gás carbónico da atmosfera, sendo o produto final O2.

O O2 passa por um transformador de O2 para H2O, que funciona com hidrogénio e que faz com que haja produção/formação de água (H2O). A água resultante desta transformação é fracionada, sendo parte usada para os humanos e a outra aproveitada pelo biorreator. Sendo assim, ocorre um ciclo quase infinito dependente do hidrogénio, que pode ser facilmente levado por outras tripulações, que assegurassem o seu reposicionamento. Dentro do biorreator, ocorre a fotossíntese, efetuada pelas algas.

É claro que, somente com isso, a sobrevivência não seria garantida, pois, apesar do ser humano ser dependente da água, também somos dependentes do alimento. Portanto, confirma-se que com apenas um objeto, sem depender de outras tripulações que futuramente fossem a Marte, a vida seria impossível.

Seria necessário um grande avanço tecnológico para que houvesse uma máquina capaz de garantir a total sobrevivência dos humanos em Marte. Será que este futuro ainda está muito distante?
Rodrigo Alves, n°15, 12°B

Imagens do desrespeito de princípios fundamentais

Se eu fosse a Marte, levaria um diapositivo resistente às condições deste planeta (temperatura, pressão…) com imagens impactantes e elucidativas do desrespeito pelos princípios que deveriam ter sido fundamentais na vida na Terra.

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Crianças no Sudão a ir buscar água Mohamed Nureldin Abdallah/Reuters

1. Respeito efetivo pelos direitos humanos
Todos os seres humanos têm direito à vida, saúde, educação, habitação e liberdade. Muitas pessoas não conhecem nem respeitam os seus direitos nem compreendem a sua importância para assegurar a integridade física, a paz, a igualdade, a justiça e a democracia no mundo.

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Gases de efeito de estufa e as suas consequências nas alterações climáticas ANDREAS HABICH (CC BY-SA 3.0)

2. Respeito pelo planeta
O objetivo é evitar a destruição do planeta. Na Terra, o clima ao longo dos tempos tem sido degradado devido ao aumento do efeito de estufa e do buraco do ozono, da poluição da atmosfera, dos solos e dos oceanos, extinção das espécies e desertificação. É importante preservar o ambiente porque é a partir dele que os seres humanos tiram os recursos essenciais para a manutenção da vida.

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Fome na Somália DR

3. Distribuição equitativa dos recursos
Garantir que a riqueza seja distribuída por todos. Alertar para o flagelo da miséria extrema que se vive principalmente no continente africano. Problemas como o da morte devido à fome poderiam ser evitados.

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Manifestação em Itália em 2018 contra o racismo Alessandro Bianchi/Reuters

4. Combate ao racismo, discriminação e preconceito
Se começássemos de novo num outro planeta, o princípio basilar seria valorizar a diferença ao invés de marginalizar.

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Relógio na Torre dos Clérigos, no Porto ADRIANO MIRANDA

5. Valorização do tempo
Exemplificando com o contrassenso que se vive no planeta Terra onde a ciência e a tecnologia são colocadas ao serviço do homem, mas não se traduzem no aumento do tempo livre.
Rosário Delgado, 12º AF

Na mochila com mantimentos

Hoje em dia, como sabemos, existem vários estudos sobre Marte e sobre a Terra, e é com base neles que irei refletir sobre que objeto levaria para Marte, caso fosse para lá viver.

Vou começar por explicar que há 2,4 mil milhões de anos ocorreu a formação de oxigénio, em grande parte, devido às cianobactérias. Será possível estas sobreviverem na atmosfera de Marte? Depende. Se as colocássemos na superfície de Marte morreriam devido à radiação presente no solo e há radiação ultravioleta, mas se as colocássemos dentro de uma rocha estas sobreviveriam, como os estudos comprovam. Porém, existem outros problemas como baixa temperatura e falta de água no estado líquido, o que me leva a pensar numa possível formação de um ambiente em Marte (terraformação).

Face a isto, o objeto que levaria na minha primeira deslocação a Marte seria uma mochila com mantimentos (água, alimentos e oxigénio) e com um dispositivo para construir um habitat profícuo à formação de cianobactérias.

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Comida para os astronautas da agência espacial norte-americana NASA

Na segunda ida a Marte levaria a mesma mochila com mantimentos, equipamentos de mineração (pá, picareta, …) e cianobactérias que iria colocar dentro das rochas, no ambiente referido anteriormente.

Na terceira ida a Marte carregaria a mochila novamente com mantimentos e uma pocket forest, filha da nossa, aqui da Covilhã.

Na última deslocação, para além de mais mantimentos, resolveria alguns problemas que pudessem ter surgido e, após resolvê-los, repetiria todo o processo realizado nas etapas anteriores.

Para concluir, queria relembrar que isto é uma mera suposição, ainda que fundamentada nas minhas pesquisas.
Afonso Galvão, 12º BF

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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