Tweet de Rio sobre sondagens desmentido pela Intercampus

Rui Rio publicou um tweet neste fim-de-semana no qual criticava resultados diferentes de duas sondagens que teriam sido feitas pela Intercampus nos mesmos dias.

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Rui Rio, ex-líder do PSD Paulo Pimenta

Nem duas sondagens, nem resultados diferentes. O ex-líder do PSD Rui Rio publicou neste domingo um tweet em que punha em causa sondagens que teriam sido feitas pela mesma empresa, com as entrevistas a serem realizadas no mesmo dia e que dariam resultados diferentes. Mas a história parece não ser bem assim. Segundo a Intercampus, há apenas uma sondagem feita para o Correio da Manhã e cujos dados terão sido depois tratados de uma forma diferente, dando origem a números diferentes.

Mas vamos por partes: no sábado, o Correio da Manhã publicou uma sondagem feita pela Intercampus, cujas entrevistas foram realizadas entre 12 e 14 de Dezembro. Nessa sondagem, o PS estava à frente com 27%, voltando a aumentar a vantagem face ao PSD, que conseguia 22,1% dos votos.

No domingo, Rui Rio usava a sua conta do Twitter para expressar estranheza. "Saíram duas sondagens da Intercampus, ambas feitas nos dias 12-14 de Dezembro. Uma para o Partido Popular Europeu (PPE), a outra para o CM/CMTV. Numa, o PS tem 30,9%, na outra 27%. O PSD tem 25,3% numa e 22,1% na outra. O Chega, 11% e 9,6%. Não há um partido que tenha igual. No mesmo dia, a mesma empresa!"

O antecessor de Luís Montenegro fez acompanhar o texto publicado naquela rede social com duas imagens: a da página do jornal Correio da Manhã onde surge a notícia e o gráfico com os dados da sondagem; e outra que argumentou ter sido feita para o PPE (partido europeu de centro-direita em que o PSD está integrado), na qual surge um gráfico em que a sondagem da Intercampus aparece referida mas com números diferentes. O PS está à frente com 30,9% e o PSD atrás com 25,3%.

Ao PÚBLICO, o director-geral da Intercampus, António Salvador, explica as diferenças: "Não há duas sondagens. Há apenas uma sondagem" que a Intercampus fez para o Correio da Manhã. Salvador acrescenta, aliás, que a "Intercampus nunca trabalhou para o PPE". Então de onde vêm os valores diferentes? Os dados publicados pelo Correio da Manhã não têm os indecisos distribuídos, enquanto o outro gráfico que Rui atribui ao PPE tem.

"Desde [as eleições legislativas de] Janeiro que não apresentamos projecções", explica ainda António Salvador. Ou seja, a Intercampus deixou de distribuir os indecisos pelos partidos, porque verificou depois do que aconteceu nas legislativas de 2022 que "o grande problema das sondagens foi essa distribuição".

Nessas eleições, o PS venceu com maioria absoluta, embora as sondagens não indicassem essa possibilidade. Foi o "risco de ingovernabilidade" que levou os indecisos a fazerem uma escolha na hora de ir votar, admite Salvador, deixando uma pergunta no ar: "Como sabemos como os indecisos votarão?"

Nesta sondagem da Intercampus, 574 pessoas expressaram o partido em que votam e 73 mostraram-se indecisas.

Horas depois do tweet que levanta a dúvida, é o próprio Rio que corrige a referência às duas sondagens, embora não explique a diferença dos métodos. "A Intercampus informou-me de que só há uma sondagem, que é a publicada no Correio da Manhã. Os números divulgados pelo PPE referem-se a essa mesma sondagem, mas com os dados trabalhados por eles, sem qualquer interferência da Intercampus. Julgo ser meu dever ético esclarecê-lo."

De onde vem aquele gráfico que Rio atribui ao PPE? Embora o ex-presidente do PSD refira que a sondagem é do PPE, o gráfico mostrado é do Europe Elects, um agregador de sondagens para todos os países da União Europeia que permite ir acompanhando tendências eleitorais e que está publicado também na sua conta de Twitter. Aliás, fontes do PPE contactadas pelo PÚBLICO indicaram que o PPE não pediu qualquer sondagem, nem tratou dados de sondagens.

Enquanto liderou o PSD, Rui Rio manteve um discurso muito crítico e de desconfiança relativamente às sondagens, dizendo mais do que uma vez que o que interessa é o resultado final.

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