Depois da eliminação de Portugal, Parlamento aprova condenação do Mundial no Qatar

Depois da eliminação da selecção nacional, o Parlamento aprovou um projecto de resolução do PAN que propunha a condenação da realização do Mundial 2022 no Qatar.

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O Parlamento aprovou a deslocação do Presidente da República, mas quase um mês depois condenou o evento EPA/JOSE SENA GOULAO

Para a selecção portuguesa de futebol, o Mundial de 2022 no Qatar já terminou, mas dentro do Parlamento a bola ainda rola. E foi só depois da eliminação da equipa portuguesa, que o Parlamento decidiu aprovar um voto de condenação da realização do mundial no Qatar. O projecto apresentado pelo PAN foi aprovado com os votos a favor de quase todos os partidos, incluindo a bancada do PS, depois de o seu secretário-geral e primeiro-ministro se ter deslocado ao Qatar mais do que uma vez para assistir aos jogos da selecção. A condenação foi aprovada com os votos a favor da IL, do PCP, do BE, do PAN, do PS e do Livre. O PSD absteve-se e o Chega votou contra a condenação.

No final da votação, o líder da bancada parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, informou que iria entregar uma declaração de voto por escrito em nome da bancada socialista.

No seu projecto de resolução, o PAN destacou as "fortes suspeitas de corrupção no processo de atribuição da organização do Mundial ao Qatar, que atingiram altos responsáveis da FIFA, da UEFA e políticos, questões de violações gritantes de direitos humanos, com a exploração de trabalhadores migrantes para a construção dos estádios, violações de direitos das mulheres e da comunidade LGBTI+, bem como o corte de relações diplomáticas e questões de impacto ambiental" e pede que a FIFA seja responsabilizada.

Além de terem morrido mais de 6.500 trabalhadores na construção dos estádios e das infra-estruturas de acordo com dados de organizações como a Human Rights Watch, "o Qatar é um país onde a homossexualidade é punida com pena de prisão entre um e três anos, o sexo fora do casamento também é punido com flagelação, ou pena de morte e mulheres que denunciem que foram violadas podem ser acusadas por sexo consensual", acrescentou. "Ainda assim, e apesar de todas as violações de direitos humanos, o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o Governo deslocaram-se ao Qatar para assistir a jogos da seleção portuguesa no mundial, o que no entender o PAN é incompreensível", lê-se no texto entregue a 18 de Novembro e aprovado esta sexta-feira.

A discussão em torno da deslocação de representantes políticos portugueses ao Qatar já tinha sido debatida no Parlamento a propósito das deslocações do Presidente da República, do primeiro-ministro e do presidente da Assembleia da República para assistirem o jogos da fase de grupos do Mundial 2022.

Apesar das críticas que foram feitas por algumas bancadas parlamentares e por algumas organizações da sociedade civil, as três figuras acabaram por viajar até ao Qatar em representação da República, "para manter a tradição". E não foram as únicas. Quando o primeiro-ministro não se pôde deslocar por razões de saúde, garantiu que seria substituído por Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares e que tem a tutela da pasta do Desporto.

À data da deslocação para o jogo inaugural de Portugal na competição, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “o Qatar não respeita os direitos humanos”, mas desvalorizou a centralidade da questão durante a realização da competição desportiva. “O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, declarou.

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