Pode o mundo chegar a acordo para salvar os seus últimos animais na natureza?

Sem qualquer tipo de intervenção, os cientistas temem que ocorra uma extinção em massa, com terríveis implicações para os seres humanos.

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Uma cria de tigre-de-bengala bebe leite pelo biberão no Jardim Zoológico de Havana ALEXANDRE MENEGHINI/REUTERS ALEXANDRE MENEGHINI/REUTERS
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O rinoceronte de Sumatra é uma dos animais mais ameaçados do planeta SUPRI SUPRI/REUTERS
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O leopardo Amur REUTERS/Ilya Naymushin
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Os gorilas da montanha REUTERS/James Akena
,Elefante
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Elefantes também são uma espécie ameaçada RONALD WITTEK
,Zoológico de Perth
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O orangotango Perth Zoo/Alex Asbury/REUTERS
,Tartaruga Olive Ridley
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Uma tartaruga-de-pente recém-nascida REUTERS/Paulo Whitaker

Cerca de um milhão de espécies diferentes estão ameaçadas de extinção. Haverá algo que possamos fazer para impedir o seu desaparecimento para sempre? Essa é a questão no centro da cimeira internacional que decorre em Montreal.

Os negociadores estão reunidos no Canadá para uma conferência das Nações Unidas sobre biodiversidade, conhecida como COP15, para elaborar um plano de preservação dos frágeis ecossistemas da Terra. "Estamos a fazer guerra à natureza", disse o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, num discurso em Montreal.

Há muita coisa em jogo. Apenas a vida na Terra tal como a conhecemos. Sem qualquer tipo de intervenção, os cientistas temem que ocorra uma extinção em massa, com terríveis implicações para os seres humanos.

Eis o que é preciso saber:

O que estão os negociadores a negociar?

O objectivo principal da cimeira é codificar um compromisso dos países de preservar 30 por cento da sua terra e água até 2030. Esse objectivo tem um nome incisivo: "30 por 30".

Em termos mais gerais, os conservacionistas vêem a reunião como uma oportunidade única de celebrar um acordo semelhante ao acordo climático de Paris em 2015, quando as nações concordaram em reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa - ou pelo menos tentar fazê-lo.

As alterações climáticas estão intrinsecamente ligadas à extinção. As temperaturas crescentes ameaçam aumentar os habitats de tudo, desde pinguins da Antárctida a aves canoras tropicais. Só dedicando muita atenção a grandes extensões de florestas e outros ecossistemas é que a vida selvagem pode prosperar.

Mas há muitas outras questões a resolver, e há várias partes deste desejado acordo que ainda precisam de ser negociadas por representantes de cerca de 190 países.

O que conta como área conservada, por exemplo? A vida selvagem pode ser protegida de formas que não infrinjam os direitos dos povos indígenas de utilizar terras ancestrais?

E quanto deveriam as nações ricas - aquelas que já ganharam e ganham muito com o aproveitamento dos recursos naturais - ajudar as mais pobres que ainda se estão a desenvolver?

A cimeira sobre biodiversidade vem no seguimento da conferência das Nações Unidas sobre o clima no Egipto, onde os países ricos concordaram em criar um fundo para ajudar as nações em desenvolvimento a lidar com o aquecimento global. Porém, também pouco se sabe sobre este fundo que, para já, não é mais do que uma intenção. Falta saber quem, como, quando e quanto pagam uns países a outros.

"Os animais não olham as fronteiras", disse Bradley Williams, director associado da advocacia legislativa e administrativa do Sierra Club. "Esta é uma crise que tem de ser um esforço global, por isso penso que as nações mais ricas precisam realmente de pagar a sua justa quota-parte".

Que papel irão os Estados Unidos desempenhar em tudo isto?

É complicado. Para começar, os Estados Unidos não são uma parte oficial das negociações.

Em 1993, Bill Clinton assinou a Convenção sobre a Diversidade Biológica, o tratado internacional subjacente às negociações deste mês. Mas o pacto nunca foi capaz de reunir no Senado a maioria de 67 votos necessária para a ratificação.

No entanto, a administração Biden tem o seu próprio objectivo "30 por 30" de preservar quase um terço da terra e da água da nação até ao final da década.

Dado este compromisso, Will Gartshore, um representante para assuntos governamentais e advocacia no Fundo Mundial para a Vida Selvagem, acredita que os Estados Unidos podem influenciar outros países para um acordo ambicioso, apesar de não serem parte no mesmo. "Estamos a ver muitos movimentos dos EUA na mesma direcção, desta administração em particular, para alcançar efectivamente muitos dos objectivos que estão a ser perseguidos", argumenta.

Os Estados Unidos dizem que querem fazer exactamente isso. "Inclinamo-nos para tentar descobrir formas de podermos ajudar outros países a assumir esse compromisso", disse Monica Medina, uma responsável do Departamento de Estado recentemente designada um nova enviada especial para a biodiversidade e os recursos hídricos, numa entrevista em Setembro.

Como correram estas reuniões sobre biodiversidade no passado?

A taxa de sucesso não é grande.

Em 2010, por exemplo, as nações estabeleceram 20 objectivos para a conservação da biodiversidade mundial. Os objectivos incluíam minimizar os impactos da acidificação dos oceanos nos recifes de coral e manter a diversidade genética das plantas cultivadas.

Mais de uma década depois, nenhum desses objectivos estabelecidos na conferência no Japão foi plenamente alcançado, de acordo com uma avaliação recente. Foi, aliás, necessário recorrer a alguma perseverança para que os diplomatas chegassem mesmo à mesa de negociações este mês.

A conferência estava inicialmente programada para começar em 2020, mas foi adiada várias vezes devido à pandemia de coronavírus. E o local final da reunião teve de ser transferido da China para o Canadá.

Há outros sinais de progresso. Numa outra conferência internacional que se realizou no Panamá sobre tráfico de vida selvagem no mês passado, dezenas de países votaram para regulamentar o comércio global de barbatanas de tubarão, o principal ingrediente de uma iguaria chamada sopa de barbatana de tubarão.

O que é que está em jogo?

Muita coisa.

Por exemplo, os agricultores dependem do número cada vez menor de abelhas e outros insectos para polinizar as suas culturas. Os pescadores dependem de oceanos saudáveis para a sua alimentação e subsistência.

A perda de vida selvagem não é só má para as próprias plantas e animais. As extinções ameaçam degradar os ecossistemas dos quais as pessoas dependem para a água potável, proteínas e outros recursos vitais.

"Com um apetite sem fundo pelo crescimento económico incontrolado e desigual, a humanidade tornou-se uma arma de extinção em massa", avisou Guterres na semana passada, durante as reuniões preliminares da COP15.

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