Extracção de petróleo mata lentamente as florestas da Amazónia e do Congo

Relatório contabiliza áreas designadas para exploração de hidrocarbonetos nas duas maiores florestas tropicais apresentado na Cimeira da Biodiversidade das Nações Unidas.

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Papagaios no Parque Nacional Yasuní, no Equador, um lugar de grande biodiversidade, onde foi iniciada a exploração petrolífera na última década ENRIC VIVES-RUBIO

O Equador tem apenas 2% da floresta da Amazónia. “E, no entanto, no meu país existem 52% de todos os blocos de exploração petrolífera na Amazónia. É do Equador que sai 89% de todo o petróleo extraído da Amazónia”, contou Alicia Guzman, co-coordenadora da coligação Amazónia para a Vida: 80% até 2025, numa conferência de imprensa na Conferência da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (COP15), transmitida online.

Alicia Guzman usou o exemplo do seu país para ilustrar o tema da conferência: a divulgação de um novo relatório da organização Earth InSight, denominado Crisis Point, que quantifica a ameaça crescente sobre as comunidades e as florestas tropicais da Amazónia e do Congo dos projectos de exploração de gás natural e petróleo. “Mais de 135 milhões de hectares de floresta tropical não perturbada – uma área seis vezes maior que o Reino Unido – está já dividida em blocos de exploração de gás e petróleo (áreas já em produção)”, diz o relatório.

As florestas tropicais cobrem apenas 6% da superfície da Terra, mas têm 50% das suas espécies. Apesar da importância de serem preservadas, são também locais de intensa exploração económica – por exemplo para a extracção de madeira, mas também de hidrocarbonetos, com todos os impactos que têm sobre a natureza e as comunidades humanas. "As comunidades locais devem ser envolvidas na gestão do território e dos recursos", afirmou Harrison Nnoko, presidente executivo da organização não-governamental AJESH nos Camarões.

Bacia do Congo é região crítica

A quantidade de blocos de exploração de hidrocarbonetos no continente africano pode aumentar quatro vezes em relação à área actual que está já em produção, alerta a Earth InSight. E, neste momento, estes blocos já se sobrepõem a mais de 30% das florestas tropicais em África, 90% dos quais se situam na bacia do rio Congo. Mais de 32 milhões de pessoas, e 150 grupos étnicos, vivem nas zonas designadas para exploração de petróleo e gás.

A bacia do Congo, além de sustentar milhões de pessoas directamente, “é uma região crítica para a estabilidade do clima a nível global”, sublinhou Harrison Nnoko. “A ciência é clara – a expansão da exploração de petróleo e gás natural não deve acontecer em lado nenhum e é vital que fique fora da bacia do Congo. Os líderes regionais devem traçar um caminho diferente e investir na segurança energética e energias renováveis em vez de caminhos que vão fragmentar e poluir a floresta”, defendeu.

Na Amazónia, 65 milhões de hectares de floresta (duas vezes o tamanho da Polónia) sobrepõem-se agora a blocos de exploração de gás ou petróleo, já em exploração ou planeados, diz o relatório. Mas 27 milhões de hectares são em territórios indígenas e 500 povos consideram a bacia do Amazonas a sua casa. Há mais de 12 milhões de pessoas a viver nestas áreas que os Estados designaram para a exploração de hidrocarbonetos.

“E para onde vai este petróleo, e este gás natural? A maioria vai para a Califórnia. Mas os bancos europeus também financiaram esta expansão da produção petrolífera”, sublinhou Alicia Guzman.

“É necessário um novo paradigma e acção de emergência para proteger 80% da floresta Amazónica até 2025”, diz Alicia Guzman. É isso que defende a organização que representa, considerando que a Amazónia atingiu já o ponto de não retorno, porque 25% da floresta está degradada. A partir desse ponto, dizem vários cientistas, não conseguirá regenerar-se.

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