Cartas ao director

Negócio de vento em popa

Tem-se discutido com alguma insistência a possível obtenção da paz na guerra da Ucrânia, mas as aparências indicam que nem Putin, que é quem manda, nem o povo ucraniano e Zelensky, que são quem insufla mutuamente o patriotismo, querem qualquer tipo de paz. Alguém acredita que Putin vai aceitar retirar-se completamente do território ucraniano, incluindo a Crimeia, ou que Zelensky vai aceitar a soberania russa nos territórios “anexados” por Putin, para debaterem negociações?

Os tempos são de ódio e retaliação. A única convicção de que ambas as partes comungam é a de que serão capazes, cada uma delas, de vencer o inimigo no terreno. Armas e munições, por mais que se destruam ou gastem, não param de chegar ao campo de batalha, para cumprirem a sua terrível missão de matar. De resto, a respectiva indústria está florescente, como o demonstra a feira de armamento realizada em Setembro passado, na Polónia, com o patrocínio honorário do próprio Presidente da República, Andrzej Duda, em que foi possível “admirar” os produtos de 613 empresas de 33 países. Entretanto, nos areópagos respectivos, queimam-se pestanas a inventar novas e mais contundentes sanções. Até quando e para quê?

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Histerismo futebolístico

É confrangedor assistir ao que se passa à volta do futebol, nomeadamente ao papel a que se prestam os mais altos dignitários do país ao irem assistir ao Mundial de futebol no Qatar, e a determinados comentadores nas TV e até alguns jornalistas, que alinham e contribuem para esta histeria colectiva. Como se o futuro do nosso país dependesse de um jogo de futebol, chega-se a evocar o orgulho nacional, o patriotismo, que provincianismo mais bacoco.

Orgulho nacional de ser português é quando todos os portugueses tiverem uma vida digna, quando os nossos jovens não necessitem de emigrar, quando os nossos mais velhos tiverem um fim de vida digno, quando deixarem de existir mais de dois milhões de pobres no nosso país, quando milhares de trabalhadores, mesmo trabalhando, não deixam de viver abaixo do nível de pobreza, quando o SNS tiver capacidade de resposta para atender os utentes com dignidade. Aí sim, devemos sentir-nos orgulhosos de sermos portugueses e não por um jogo ou por uma vitória no futebol.

Daniel Marques Simões, Santo António da Charneca

A eutanásia

Porquê tanto barulho à volta da eutanásia, uma vez garantido que apenas o próprio e em certas condições pode pedir a sua própria morte? Porquê tirar a um indivíduo a liberdade de não sofrer mais? (…)

É óbvia a influência da Igreja Católica nesta má vontade que alguns partidos têm em relação à eutanásia, devido ao mandamento que diz “não matarás”. Convém, no entanto, recordar que esse mandamento consta da Tora hebraica (Pentateuco da Bíblia Cristã), apesar de nesse texto existirem 25 condenações de pessoas à morte e quatro condenações à morte envolvendo um número indeterminado de pessoas. Não parece ser para levar muito a sério! Lembremos que a proibição da pena de morte apenas surgiu no catecismo da Igreja Católica em 2018, muito depois das campanhas daquela Igreja contra o aborto (e o preservativo, que não era a morte, mas impedia a vida) e contra a eutanásia.

Estamos num estado laico, onde as leis da Igreja Católica não devem ter qualquer valor legal. Assim o entenderam países tradicionalmente católicos como a Espanha, a Bélgica e a Itália.

Carlos Anjos, Lisboa

Na cauda da Europa

No conjunto de países europeus onde alguns faziam parte do antigo bloco de Leste, Portugal vai ficando para trás na classificação de países pobres, onde o que mais importa é a vaidade de alguns governantes, a vangloriarem-se de que o país está no bom caminho, quando crescem os números da pobreza e falham os objectivos no combate à mesma, o qual deveria ser uma prioridade.

Ao contrário do que muitos apregoam, Portugal só é um país pobre devido aos lóbis, compadrio e corrupção, os quais favorecem o enriquecimento de uns e o empobrecimento de outros (…). Não é de admirar que estejamos prestes a ser ultrapassados por países como a Roménia, quando alguém nos dirige sem ter capacidade para tal, e vai alimentando o país com discursos de vaidade, enquanto vamos perdendo o comboio europeu (…).

Américo Lourenço, Sines

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