Portugal joga o futuro no meio da barulheira

Com Marrocos, será a primeira vez que haverá desequilíbrio sonoro a favor do adversário de Portugal. Frente à Espanha, viajaram 40 mil marroquinos. E eles estão a caminho do Qatar.

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Ronaldo, Palhinha e Vitinha, três jogadores que deverão ser suplentes frente a Marrocos EPA/JOSE SENA GOULAO

Atenção, Portugal, que eles “andem” aí – e os que não “andem” vão andar. Nesta sexta-feira, em Doha, adeptos de Marrocos garantiam ao PÚBLICO que têm muitos compatriotas a caminho do Qatar, depois de terem ido “almoçar” a casa. Frente à Espanha, viajaram 40 mil. Frente a Portugal, saberemos neste sábado quantos foram, mas uma coisa é certa: serão muitos. E de muitos locais. E muito barulhentos.

É no meio da algazarra marroquina que Portugal vai jogar (15h de Portugal continental, SIC) os quartos-de-final do Mundial 2022. A selecção tem tido um apoio considerável nos seus jogos, mas grande parte dele encarnado por adeptos árabes. Com Marrocos, no estádio Al Thumama, será a primeira vez que haverá equilíbrio numérico e, provavelmente, desequilíbrio sonoro a favor do adversário.

Fernando Santos lembrou que os adeptos marroquinos se prestam até a tremendas assobiadelas aos adversários, ainda que tenha apontado que os jogadores portugueses já têm tarimba suficiente para ignorarem o ambiente adverso.

Trata-se, portanto, de colocar o talento português acima do barulho marroquino. É suficiente? Talvez não. A Espanha tentou fazê-lo e acabou a ver o resto do Mundial no sofá.

O que eles fizeram aos espanhóis

Antes do jogo, queríamos ter perguntado a Fernando Santos como é que Portugal pode “fugir” da acção defensiva de Amrabat e Ounahi, jogadores que “secaram” o jogo entre linhas espanhol.

A pergunta ficou por fazer – Santos, experiente, alongou-se bastante nas respostas nesta conferência, possivelmente sabendo que isso reduziria o número de questões sobre Ronaldo –, pelo que só nos resta presumir coisas. E presumindo coisas é possível apontar que João Félix e Bernardo terão muitas dificuldades neste jogo.

Os espanhóis Gavi e Pedri pouco conseguiram jogar entre linhas frente a Marrocos e a Espanha teve uma posse de bola estéril durante grande parte do jogo.

A solução pode ser tirar Félix e Bernardo de perto da área, permitindo aos criativos “fugirem” a Amrabat e Ounahi, mas isso também terá desvantagens, porque os deixarão mais longe da zona onde fazem a diferença, retirando a Portugal capacidade de jogar entre linhas.

Depois, há outro perigo claro para Portugal, porque também a selecção nacional padeceu de “doença” semelhante à espanhola nos primeiros jogos – com muita bola, mas falta de movimentos de ruptura no espaço.

Gonçalo Ramos dotou a equipa desse predicado e, não só por isso, mas também por isso, é muito provável que Cristiano Ronaldo continue a ser suplente nesta equipa.

Mas com Ronaldo ou Ramos, Marrocos não deverá dar tanto espaço na profundidade como deu a Suíça, algo que Fernando Santos constatou lembrando que “jogam em 20 metros”. E detalhou: “É uma equipa que reduz muito o campo ao adversário e temos de encontrar soluções para desmanchar isso. Amrabat, do ponto de vista defensivo, está a ser das melhores revelações neste Campeonato do Mundo”.

Evitar penáltis e celebrar os golos

Defensivamente, o desafio de Portugal passará, sobretudo, por defender o seu lado esquerdo. Das 32 equipas do Mundial, Marrocos é a segunda que mais desequilíbrio tem entre os lados pelos quais ataca: 43% dos ataques, diz Who Scored, são pelo lado direito. E faz sentido, já que é por lá que andam Hakimi e Ziyech, os dois principais talentos da equipa.

Nessa medida, o sistema híbrido de Portugal pode criar momentos de descoordenação sem bola, com os jogadores sem saberem a quem caberá a missão de evitar o "dois contra um" em Guerreiro. Ou Cancelo, cujo pé direito a defender por dentro por ser útil.

Fixar Otávio ao lado esquerdo pode ser a solução mais evidente, mas isso limitará, com bola, a mobilidade que Portugal tem tentado adoptar. Respostas que serão dadas mais logo.

Para já, o que pode ser dito é que Portugal e Marrocos têm 120 minutos de luta – nem mais um segundo. Dizemos 120 porque quer uma equipa quer outra têm boas razões para quererem evitar um eventual desempate por pontapés da marca de penálti.

Bono, guarda-redes de Marrocos, é um especialista nesse labor – que o diga a Espanha –, mas dificilmente os magrebinos não saberão que Diogo Costa também é “artista” nesse detalhe do jogo.

Por fim, uma dica para Portugal: avisem Bernardo – e também Félix, que de forma bizarra mostrou desconhecer as Leis do desporto que pratica – que caso Portugal marque um golo não precisa de ficar dentro do campo para evitar que Marrocos reponha a bola em jogo rapidamente. Sem pelo menos sete portugueses no seu meio-campo não haverá jogo. Festejem à vontade. O árbitro espera.

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