Podcast 110 Histórias, 110 Objectos: a taça do campeonato de voleibol

No 71.º episódio do podcast, ouvimos a história do Campeonato de Voleibol. O 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Siga-o nas plataformas

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No 71.º episódio do podcast, ouvimos a história da taça do Campeonato de Voleibol​.

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A taça do campeonato de voleibol Instituto Superior Técnico

Os estudantes do IST têm, desde os finais dos anos 1930, lugar reservado na história do voleibol português. Mais do que isso: o Técnico, através da equipa da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), venceu a primeira competição oficial realizada em Portugal (o Campeonato de Lisboa, em 1939/1940); venceu as primeiras sete edições do Campeonato Nacional de Voleibol (entre 1946/47 e 1953/53); e deu ainda continuidade a essa fase dourada, conquistando 13 campeonatos nacionais dos primeiros 21 realizados em Portugal.

A última taça de campeão chegou ao IST na época 1967/68, o que ainda hoje é suficiente para colocar o Técnico como segunda equipa nacional com mais campeonatos, com mais três que o Benfica (10) e apenas superada pelos 18 campeonatos do Sporting de Espinho. No palmarés consta ainda uma Taça de Portugal, conquistada em 1966/67, e uma final em 1976/77.

Um dos testemunhos que contam a história dessa fase de ouro é Taça de 1948, cuidadosamente guardada pela AEIST e que faz o serviço para este episódio. É ainda anterior à chegada de João Raimundo à equipa, onde esteve desde 1950 até disputar o seu último jogo em 1957, em Rabat, a contar para a Taça dos Campeões Europeus. No seu palmarés acumulou “seis ou sete campeonatos” e testemunhou uma viragem no voleibol nacional: o início da profissionalização.

“Nessa altura, Portugal era um país esquisito, isolado, e existia uma coisa chamada Cortina de Ferro. Conhecíamos a França, que tinha cá vindo jogar uma vez ou duas, e a Itália”, recorda. Mas tudo mudaria em 1954, com a visita de uma equipa jugoslava ao país. Dois dos atletas não voltaram ao seu país de origem e tornar-se-iam os primeiros jogadores profissionais em Portugal, no Sporting. Ficou traçado o destino do primeiro campeonato nacional que o IST não ganhou (1953/1954), mas que viria a ser recuperado na época seguinte: “Em 1955 deu-se um milagre e ganhámos”, recorda.

Talvez venha dessa vontade de superação um estatuto muito especial que os jogadores do vólei do IST tinham dentro da instituição. “Eram apontados - ‘Olha, aquele faz parte da equipa’ - porque se destacavam. E a equipa de vólei era qualquer coisa que era reconhecida no Técnico e fora do Técnico. Havia um carisma, havia ali uma aura”, recorda José Manuel Antelo, engenheiro formado pelo IST em 1995. Em 2022, com 90 anos de idade, voltou a ter cartão de estudante: inscreveu-se em duas cadeiras de matemática no 1.º ano de engenharia mecânica. Porquê? “Nestes últimos 50 anos a matemática teve um de desenvolvimento e tomou direcções completamente diferentes daquelas que tinha estudado e tenho curiosidade de aprender”.

Também inspirado por essa “aura” chegava à equipa, em 1965, Luís González Briz, antigo estudante de Engenharia Química e Industrial do IST, onde permaneceu até 1971. “Tive a imensa alegria de conquista dois campeonatos nacionais seguidos”, recorda.

Ser jogador do Técnico nesse período, não era só estatuto, exigia também muita entrega: “Achei que indo para uma equipa ainda por cima vencedora podia adaptar-me bem. Os primeiros treinos foram difíceis, porque eles já eram quase todos uns craques. A minha sorte era que na altura era vulgar o chamado campeonato de reservas. Foi essa dinâmica que me seduziu”, descreve.

Mas também exigia algum esforço financeiro, em contracorrente ao profissionalismo emergente: “Era vulgar pagarmos o duche. Quando treinávamos três dias por semana, havia no Técnico o Sr. Domingos, da AEIST, que nos ia cobrar após o banho um escudo por cada duche que tomávamos”, lembra. Também as deslocações e as refeições eram apoiadas pelos atletas mais velhos, alguns já inseridos no mercado de trabalho. “Não só não tínhamos qualquer subsídio, como ainda tínhamos de pagar para jogar”, resume.

O IST não foi só um projecto vencedor no panorama nacional do voleibol - foi também um dos berços da modalidade no país, em particular na sua transição para o território continental. A modalidade terá sido introduzida em Portugal pelas tropas americanas estacionadas nos Açores durante a 1.ª Guerra Mundial. E quem a trouxe para o continente foi precisamente um antigo aluno do Técnico, Augusto Cavaco, considerado o “pai do voleibol em Portugal”.

Destacou-se como jogador, mas sobretudo como treinador: “Foi treinador de nós todos e tutor, porque havia muitos que éramos órfãos, não tinham família e tivemos o nosso mentor desportivo e não só”, descreve João Raimundo. Fundou a equipa de vólei do IST e acompanhou-a de perto até à sua morte, em 1975.

O seu legado mantém-se até hoje, com uma soma interminável de títulos e histórias, mas também com uma herança honrada pelos actuais estudantes do Técnico, que continuam a competir e a conquistar campeonatos regionais e nacionais universitários com as cores da AEIST. Actualmente com equipas masculinas e femininas A e B, os atletas de voleibol do IST personificam em cada lance a História do voleibol português.


O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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