Putin diz que guerra na Ucrânia vai prolongar-se

Para o Presidente russo, a opção nuclear fica-se pela dissuasão, descartando ofensivas. Secretário-geral da NATO diz que a Rússia pretende “congelar” a guerra durante o Inverno.

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Artilharia ucraniana dispara contra alvos russos na região de Donetsk LEAH MILLIS/Reuters

O Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou, nesta terça-feira, que a invasão russa da Ucrânia é um "longo processo" e que a Rússia irá usar todos os meios ao seu dispor para se defender de ameaças externas, afirmando que, para o Ocidente, a Rússia é "um país de segunda classe que nem direito de existir tem".

Discursando perante o Conselho para a Sociedade Civil e os Direitos Humanos, órgão consultivo da presidência russa, Putin, citado pela Reuters, sublinhou que apesar da “operação militar especial” (termo utilizado pelo Kremlin para se referir à invasão da Ucrânia), descarta que possa haver uma segunda mobilização, como a anunciada em Setembro.

Face às ameaças existenciais à Rússia que afirma existirem, Putin refere que manterá a “luta constante pelos interesses nacionais”, defendendo o país “com todos os meios ao seu dispor”, embora diga que se foca em “meios pacíficos” para o fazer.

O risco de uma guerra nuclear, para o Presidente russo, está “em crescendo”, mas afasta o uso destas armas com objectivos ofensivos, mantendo-as como forma de dissuasão militar.

“Não ficámos loucos. Sabemos o que são armas nucleares”, sublinhou, acrescentando que a Rússia “não vai andar por aí a mostrar estas armas como se fossem uma espada”.

Putin aproveitou ainda a ocasião para celebrar novamente a anexação declarada pela Rússia das regiões ucranianas junto ao mar de Azov, que banha ainda a Crimeia (cuja anexação foi declarada em 2014) e a Rússia, proclamando assim este como um “mar interno”, que disse ser uma ambição do czar Pedro I, imperador russo nos séculos XVII e XVIII.

Stoltenberg antecipa "congelamento" da guerra

O prolongamento da invasão russa referido por Putin já tinha sido antecipado pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, numa entrevista dada ao Financial Times.

“A Rússia está a tentar manter algum tipo de ‘congelamento’ desta guerra" para recuperar forças de modo a um ataque maior na Primavera.

Stoltenberg sublinhou que a Rússia cometeu “dois grandes erros estratégicos” na invasão da Ucrânia: “O primeiro foi subestimar totalmente os ucranianos", ao mesmo tempo que subestimava "a força dos Aliados e parceiros da NATO" e o seu "compromisso de apoiar a Ucrânia”.

Questionado sobre se o arrastar desta guerra, que já dura há dez meses, depois da invasão russa em Fevereiro, poderá causar alguma fatiga no apoio dos aliados ocidentais à Ucrânia, Stoltenberg relembra que a NATO tem apoiado o país desde 2014, ano em que os conflitos entre a Rússia e os separatistas pró-russos com a Ucrânia se iniciaram.

“Demonstrámos ao longo dos anos e especialmente desde a invasão que os aliados estão prontos a apoiar a Ucrânia, porque se Putin vencer, será uma tragédia para os ucranianos, mas será também extremamente grave para todos nós”, disse, porque aumentaria a vulnerabilidade da NATO, tornando o mundo “mais perigoso”.

Quanto aos drones lançados da Ucrânia que caíram em três bases russas, Stoltenberg garantiu não ter mais informações sobre o caso, mas que, de qualquer maneira, é uma defesa dos ucranianos face às tácticas russas. “Vemos ataques diários da Rússia a cidades ucranianas, a infra-estruturas importantes”, disse o secretário-geral da NATO, sublinhando que Moscovo está a tentar usar o Inverno como arma, interrompendo os seus serviços básicos da população ucraniana, como água, electricidade e aquecimento.

“Este é uma guerra brutal que afecta realmente todos os civis e mostra a brutalidade da invasão russa. E, claro, a Ucrânia tem o direito de se defender contra este tipo de ataques”, acrescentou.

Texto editado por António Rodrigues

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