Cartas ao director
Cesarianas
Aumento de cesarianas nos hospitais privados (PÚBLICO de 2 de Dezembro). Boa prática obstétrica? A taxa de cesarianas é internacionalmente um indicador de qualidade dos cuidados obstétricos. A taxa de cesarianas tem aumentado no mundo. Em Portugal, passou de 26,8% em 1999 para 36,3% em 2020.
Em defesa da saúde da mulher e dos nossos bolsos, há que perceber o que explica a discrepância de valores entre os hospitais públicos (33,6%) e os do sector privado e social (67%). A norma nº. 001/2015 da DGS orienta as boas práticas no parto e qualquer cesariana comporta riscos para a mulher e para a criança e agrava os custos associados ao parto (pelo menos, mais um dia de internamento, em média).
A Ordem dos Médicos só se preocupa com as boas práticas dos hospitais públicos? E a DGS e a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde?
Fernando Vasco Marques, Sintra
Quo vadis, Portugal?
Afinal, o que queremos para o presente e futuro de Portugal? Parece-me que pouco ou nada, ou melhor, um deixa andar.
Não convidamos ao investimento estrangeiro porque os impostos não são apelativos e a justiça uma bagunça de interesses. Não criamos riqueza sem apoiar e facilitar empresas exportadoras. Burocracia monumental. Impostos, taxas e taxinhas porque faz sol ou faz sombra. Ensino cada ano menos exigente e assim preparamos mal gerações futuras. Saúde então está um caos. Agricultura não competitiva. Investimento público diminuto e raramente com a opção certa no que diz respeito a prioridades. Comissões de inquérito, investigações aos milhares e raramente com resultados.
Este já não é um país com futuro.
Joaquim Leitão, Estoril
A actualização do valor nominal das pensões
Já inaudível o eco da prolongada, justa e oportuna, mas inconsequente, reacção contra o desrespeito da legislação, ainda vigente, da actualização do valor nominal das pensões em 2023, volto ao tema para, com o olhar frio e independente de um marciano, lembrar que o Governo só por obstinação, oposta à razão mas suportada pela maioria parlamentar e a promulgação complacente do Presidente da República, não procede ao regulamentar aumento do valor nominal das pensões, ao qual, naturalmente e como o IRS devido, seria deduzido o adiantamento realizado em 2022.
Como insustentável justificação desse incumprimento, o primeiro-ministro, em entrevista na TVI em Setembro, afirmou que “seria irresponsável tornar permanente o aumento das pensões em função da extraordinária e atípica inflação verificada em 2022”. Ora, tal afirmação só faria sentido se se previsse a reversão da inflação, e não, como é o caso, a sua progressão em 2023, no mínimo estimado, de 4%.
Acresce que, a título de reparação de injustiça relativa, teria de haver, se não ainda em 2022, o pagamento extraordinário, isento de IRS, dos 125 euros, de uma só vez ou em complementos mensais de 8,93 euros a quem recebeu, em 2021, uma pensão anual até 37.800 euros.
Eduardo Mendes Fonseca, Lisboa
A ligação ferroviária a Madrid
Com o devido respeito, não, senhor ministro, ninguém quer uma linha em bitola UIC, chegar à fronteira do Caia e não poder passar porque do lado de lá a via está em ibérica (desculpe a argumentação ad homine, mas não dizia que a bitola não é um problema, chega-se a qualquer fronteira e, com eixos variáveis, passa-se bem?).
O que se quer é que nas cimeiras com Espanha se coordene e planeie a progressiva instalação de todos os requisitos de interoperabilidade para que Portugal possa estar ligado à Europa conforme mandam os regulamentos comunitários para 2030.
Não, senhor ministro, ninguém quer mudar a bitola das linhas existentes. O que se quer é a construção de novas linhas com os requisitos da interoperabilidade, urgentemente, porque entre a decisão e a inauguração podem decorrer dez anos e o Plano Ferroviário Nacional ignora o que se pode ganhar com essas novas linhas (facilitação das exportações, poupança energética).
Fernando Santos e Silva, Lisboa
Revista sobre Agustina Bessa-Luís
O PÚBLICO está de parabéns ao encartar na edição de 2 de Dezembro uma fantástica revista gratuita, com 104 páginas, comemorativa do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís. Iniciativas destas são raras. Não podemos deixar de ser solidários com o jornal que faz da vida uma diferente leitura da insípida norma do vulgar. Em tempos de guerra e opressão, quando a informação nem sempre é assertiva, recordo o que escreveu Agustina em A Bela Portuguesa: “Cada pessoa que se preza tem uma estratégia, um estilo até, para a mentira que vai escolher. Escolhe-a de forma mais cautelosa do que escolhe uma profissão, ou um amigo ou a água que bebe…”
Ademar Costa, Póvoa de Varzim