Na Coreia há Son, há Kim e há o homem que “cola” um ao outro

Jung Woo-young é o médio predilecto de Paulo Bento para “colar” a defesa ao ataque, dar soluções em posse e equilibrar. A nível pessoal, quem o conhece diz ao PÚBLICO que Jung tem uma rotina incomum.

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Jung no jogo frente ao Uruguai Reuters/MOLLY DARLINGTON

Escolher um jogador sul-coreano para apresentar num perfil pré-jogo é uma tarefa jornalisticamente complexa. Por um lado, o perigo principal vem de Son, jogador do Tottenham e grande figura da equipa. Por outro, existe um jogador em tremendo destaque, o central Kim, do Nápoles. Mas quem não sabe o que valem estes craques? Serão uma “novidade” jornalística, como até já foi Cho Gue-sung?

Não tão renomado é um dos habituais titulares no meio-campo, o já trintão Jung Woo-young, jogador do Al Sadd. Considerando que é ele quem pode ligar Kim a Son, faz sentido que falemos dele, até pelas dimensões ofensiva e defensiva que pode dar a uma equipa que precisa de vencer o jogo frente a Portugal.

Adriano Teixeira, treinador-assistente do Al Sadd, aqui em Doha, convive com Jung todos os dias e explica ao PÚBLICO que é deste jogador que pode vir a capacidade coreana de defender e atacar bem.

De atacar, porque oferece soluções em zona de construção, permitindo à equipa ligar o jogo. De defender, porque é ele quem a equilibra – e muito a Coreia vai precisar de equilíbrio, sobretudo se quiser manter a matriz de posse que mostrou até aqui e, claro, predispor-se a momentos com muita presença ofensiva, pela obrigação de vencer o jogo.

“Como médio, o Jung consegue ser mais posicional e pode libertar o outro médio, porque facilmente equilibra a equipa. É muito inteligente a ler saídas do adversário por dentro e a fazer falta, se tiver de fazer. Aguenta a equipa e permite que a ela se reequilibre e se organize defensivamente”, explica.

E acrescenta: “Com bola, gosta de andar à frente dos centrais e ser solução. Vê a pressão que vem das costas, com boa orientação corporal. Quando a bola vai fora, no lateral, tem boa aproximação ao corredor e depois roda os apoios e consegue jogar e matar um adversário nas costas ou na profundidade”.

E já longe vão os tempos em que Jung, depois de recolher a bola em zonas de construção, podia viver com a tranquilidade de poder entregá-la a Xavi Hernández e Gabi, quando os três foram colegas de equipa aqui no Qatar. Na selecção da Coreia, o talento é diferente – e também por isso exige mais a Jung.

“Gosta de ir dar uma corridinha”

Falar de Jung é falar de um jogador calmo e discreto. “A nível pessoal é alguém muito educado. Muito preocupado com os outros. Por vezes não notas a presença dele, mas tem um impacto forte no grupo, porque não precisa de falar muito. Sabes que está sempre para ajudar e não para complicar”, define.

Questionado sobre se há algo em Jung que o diferencie dos demais, Adriano Teixeira conta que a equipa tem aberto uma excepção para este coreano aplicar uma rotina diária da qual não gosta de abdicar.

“Ele gosta de manter padrões diários sempre que chega aos treinos. Antes ou depois do treino gosta de dar uma corridinha. Sente-se bem com isso. Não havendo nada [a nível científico] a comprovar que isso faz mal, temos de o deixar fazer isso. Se ele se sente bem, é porque lhe faz bem ao estado mental e, por consequência, ao estado físico. Damos-lhe esse espaço”.

E é também de corrida que se faz este coreano. Aos 32 anos, Jung ainda é dos jogadores mais “rotativos” nesta equipa e tem até um extra que o faz destoar de um lote de colegas globalmente frágeis a nível físico – tem quase 1,90 metros, uma raridade na equipa de Paulo Bento.

“O Jung é alguém a ter em conta na bola parada ofensiva. Estatura elevada, boa impulsão, bom jogo aéreo. E antecipa bem as trajectórias aéreas”.

O jogador sul-coreano pode oferecer ainda uma dimensão adicional, caso Paulo Bento trace um plano mais audaz – no início ou no decorrer do jogo.

Adriano Teixeira lembra que Jung tem actuado como terceiro central, no Al Sadd, já que esta é uma equipa que joga maioritariamente em momento ofensivo e que, por isso, o coreano dá uma qualidade adicional a partir da defesa.

“Em equipas que dominam o jogo e com mais bola em meio-campo ofensivo o Jung é muito útil nessa posição. É forte a transportar, conduzir, atrair, a fazer ligações entre linhas e descobrir espaços. É forte quando o adversário é atraído e ele consegue ligação mais directa. Ele vê o jogo como médio”.

A equilibrar a equipa ou a dar soluções em construção, a médio ou a central, a “matar” jogadas ou a ligar a equipa, passará por Jung Woo-young parte do que a equipa de Paulo Bento vai fazer – não necessariamente a ser o homem do golo, mas a permitir que outros sejam.

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