As salinas de Tom Hegen são como pinturas, “belas e abstractas”

As imagens captadas por Tom Hegen descrevem lugares onde a fronteira entre a construção humana e a paisagem natural é difusa. "Salt Works é um estudo de cor e de geometria, uma ode à beleza quotidiana" das salinas de todo o mundo.

©Tom Hegen
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"O sal é um dos condimentos mais comuns nas nossas cozinhas, mas raramente nos perguntamos de onde vem ou como é produzido." Esta afirmação dificilmente se poderia aplicar ao cidadão português, para quem o processo de produção de sal é muito familiar; as salinas de Aveiro, de Alcochete, de Castro Marim ou de Tavira, que são um património relevante e estimado em Portugal, garantem essa proximidade e conhecimento. 

Se as paisagens das salinas são, para muitos portugueses, algo familiar, poucos as terão visto da perspectiva "abstracta" lograda por Hegen com auxílio do seu drone. "Salt Works é um estudo de cor e de geometria, uma ode à beleza quotidiana", pode ler-se no comunicado de imprensa dirigido ao P3 pelo fotógrafo alemão Tom Hegen, autor do fotolivro Salt Works, publicado recentemente pela editora Hatje Cantz.

Hegen reduziu as salinas ao essencial. Aliás, esse é um aspecto muito importante na obra do fotógrafo e designer alemão. A observação da paisagem a partir do céu "confere desordem e caos", refere. Porém, em simultâneo, concede ordem e harmonia —​ a observação das imagens torna isso inegável. "As salinas fotografadas para Salt Works são lugares onde as fronteiras entre a construção humana e a paisagem natural são difusas."

As imagens captadas por Hegen em países como a Austrália, o Senegal, Espanha ou França, desde 2018, revelam detalhes destas estruturas "que não poderiam ser vistas a partir do solo". "O que me atraiu foi o aspecto gráfico e abstracto destas paisagens, que faz com que as fotografias pareçam pinturas. O que a fotografia aérea tem para oferecer é isso mesmo: um olhar invulgar sobre aquilo que é trivial." A missão de Hegen "é aplicar [noções de] composição e de redução para obter clareza sobre o que está desenhado no terreno", explica. "Ao fazê-lo, tento estabelecer um equilíbrio entre aspectos formais e informação."

Nas páginas do fotolivro existe uma breve revisão histórica sobre o papel do sal nas sociedades. "O sal tem uma qualidade sagrada. Está nas nossas lágrimas e nos nossos mares. Podemos comê-lo para lembrar o sabor de coisas doces. Somos dependentes dele para manter a nossa saúde e para sobrevivermos." O seu custo é tão baixo, aponta Hegen, "que nos esquecemos que a sua história é milenar, do quanto era desejado no passado." Hegen lembra a importância do sal na conservação de alimentos, quando a refrigeração ainda não era uma opção, assim como o seu papel enquanto moeda de troca em diversos países.

"Estas estruturas abstractas são uma escola para a nossa compreensão do olhar", conclui. "Os espectadores têm de aprender a ler e a decifrar as imagens para compreenderem o que estão a ver e esse processo faz com que as imagens permanecem na sua memória durante muito tempo."

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