Planeia comprar móveis? Estas dicas vão ajudá-lo a ser mais amigo do clima

A decoração do lar pode ter um impacto surpreendente no meio ambiente. Reutilizar os móveis que já tem, comprar em segunda mão e estar atento aos materiais são formas de o atenuar.

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Nos últimos anos, a indústria do mobiliário começou a assemelhar-se à indústria da "moda rápida" Construction Photography/Avalon / GettyImages

Os nossos esforços para sermos amigos do planeta giram frequentemente em torno da forma como nos deslocamos, do que comemos e de onde colocamos os nossos termóstatos. Mas a forma como mobilamos as nossas casas também tem um impacto surpreendente.

Segundo a National Wildlife Federation, os fabricantes de mobiliário são os terceiros maiores consumidores de madeira, atrás das indústrias da construção e do papel. Entretanto, a Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos estima que os americanos eliminaram 12 milhões de toneladas de mobiliário em 2018 – 80% das quais acabaram num aterro sanitário – contra 2,5 milhões de toneladas em 1960. São muitos sofás velhos deixados no passeio.

Nos últimos anos, a indústria do mobiliário começou a assemelhar-se à da fast fashion encorajando os consumidores a comprar artigos baratos e a substituí-los no espaço de um ou dois anos. Mas não tem de ser assim.

1. Restaure os móveis antigos

A primeira coisa a considerar ao comprar mobília nova? Não comprar de todo, diz Laura Hodges, uma designer de Maryland, certificada pelo Green Building Council e pelo Sustainable Furnishings Council.

“Quando me encontro com um novo cliente, começo sempre por perguntar se alguma coisa precisa mesmo de ser comprada”, conta. “Se não estamos [a comprar] nada de novo, não há energia utilizada para o fazer ou enviar, não há necessidade de gastar material, e não há desperdício – e, se conseguirmos salvar um artigo antigo de ir parar a um aterro, ainda melhor”.

Margot Guralnick, editora do Remodelista, blogue amigo do ambiente que também faz publicações literárias, partilha o hábito de dar um empurrão aos proprietários de casas para reutilizar: “Pode ter móveis na sua cave ou sótão, ou um sofá perfeitamente bom, mas parado e sem utilização num escritório”, diz. “E é de lembrar que uma secretária não tem de ser rotulada como secretária - uma mesa grande pode funcionar como secretária, e um banco pode tornar-se uma mesa-de-cabeceira”. (Pode até perguntar a amigos ou familiares se estão dispostos a desfazerem-se de mobília que está a apanhar pó na cave).

A partir daí, não é terrivelmente difícil dar uma nova vida a uma peça desactualizada ou gasta. Leve o sofá velho a um estofador ou restaurador de móveis local; coloque uma nova camada de corante ou tinta numa mesa velha.

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Roberto Machado Noa / GettyImages

2. Compre móveis antigos ou vintage

A segunda melhor opção é a compra de móveis usados. “Muito mobiliário mais antigo é mais bem fabricado do que os artigos produzidos em massa em muitas lojas hoje em dia”, nota Laura Hodges. “Nos anos 50, 60 e 70, a mobília foi mais bem desenhada e construída de forma mais sólida, muitas vezes à mão. Esses artigos tendem a durar mais tempo, e é por isso que ainda estão por aí”.

É possível encontrar artigos de alta qualidade em lojas vintage e antiguidades, lojas em segunda mão e vendas de garagem. Guralnick também recomenda os grupos do Craigslist, eBay, Etsy, e Facebook. A editora do Remodelista aconselha a utilização do filtro de classificação por distância quando se lê esses sites, para que não se apaixone por um artigo que esteja a 965 quilómetros de distância.

3. Compre móveis novos que são concebidos para durar

Se decidir comprar coisas novas, diz Hodges, “a primeira coisa a fazer é identificar as empresas que fazem coisas que duram”. A designer recomenda artigos de fabrico americano com armações de madeira dura, madeira seca em estufa, sistemas de molas de oito vias com molas manuais (encontradas em sofás e cadeiras), e acabamentos aplicados à mão.

“Se encontrar uma peça de mobiliário que seja tecnicamente feita de todos os materiais ‘sustentáveis’ e que se desfaça em poucos meses, isso não é sustentável”, remata Hodges. “Mesmo que seja feito de aço reciclável, não importa, a menos que alguém desmonte realmente o sofá, recicle cada peça de metal e faça compostagem de cada fibra natural. Se acabar num aterro, não resolveu nenhum problema.”

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Jens Schlueter /GettyImages

4. Procure os materiais certos (e evite os errados)

Tal como muitos alimentos são rotulados como “frescos” ou “naturais” sem qualquer significado real, os fabricantes de mobiliário podem insistir que os seus produtos são “amigos do ambiente” ou “produzidos de forma sustentável” com poucas provas. Mas podemos fazer o nosso próprio trabalho de casa.

Para as peças de madeira, consulte o Wood Furniture Scorecard, produzido pelo Sustainable Furnishings Council e pela National Wildlife Federation. A lista anual classifica dezenas de empresas com base em informações publicamente disponíveis sobre fontes e transparência. Websites como o Remodelista e o Minted Space também fazem a curadoria de colecções de fabricantes de mobiliário com um enfoque rigoroso na sustentabilidade.

Sarit Marcus, fundador da Minted Space, observa que é melhor fabricar mobília com árvores de crescimento rápido, tais como mangueiras e seringueiras, bem como plantas como bambu, cana, rotim, caniço e ervas marinhas. Devem ser evitadas as plantações mais lentas, como mogno brasileiro, cedro branco canadiano, cerejeira, bordo e carvalho, que levam décadas a amadurecer.

Outra grande preocupação é a utilização de produtos químicos nocivos. De acordo com o grupo ambiental Natural Resources Defense Council, mais de 80 mil produtos químicos são utilizados em artigos do quotidiano encontrados em lares americanos, tais como mobília. “Destes, apenas 200 são testados pela Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos, e apenas cinco são regulamentados”, revela Marcus.

Tecidos resistentes a manchas, compostos orgânicos voláteis (COV) encontrados em lacas, cloreto de polivinil (PVC), frequentemente utilizado em mobília de exterior, e antimicrobianos encontrados em colchões geram, todos eles, toxinas durante a sua produção. Os retardantes de chamas – encontrados em estofos, espuma e colchões – estão cada vez mais ligados a problemas de cancro, danos neurológicos e outros problemas de saúde graves, de acordo com os Institutos Nacionais da Saúde.

Marcus recomenda lã, poliéster reciclado e fibra ultrasuede (substituto artificial da camurça) para tecidos, e cera de abelha e óleo de linhaça para acabamentos de móveis, devido ao seu impacto ambiental quase nulo.

5. Não fique assoberbado

Há tantos factores a ter em consideração ao medir a sustentabilidade de um item que pode ser fácil sentir-se paralisado. “Uma peça pode ser feita na Europa, o que aumenta o impacto da expedição, mas e se for feita de materiais rapidamente renováveis?”, questiona Laura Hodges. “Não há uma forma clara de ser sustentável.”

Só não encolha os ombros, pronto para desistir. “Faça o máximo que puder, e dê passos de bebé”, aconselha a designer de Maryland. “Todos nós fazermos as coisas de forma imperfeita é melhor do que algumas pessoas o fazerem na perfeição.”

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