Aboubakar trouxe os Camarões de volta à vida

Sérvia chegou a ter dois golos de vantagem e os africanos estiveram quase eliminados. Valeu uma substituição atempada e a influência decisiva do agora avançado do Al-Nassr.

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Reuters/HANNAH MCKAY

Valeu bem o preço do bilhete o jogo que deu o tiro de partida para a 2.ª jornada do Grupo G do Mundial 2022. Em Al-Wakrah, Camarões e Sérvia proporcionaram 90 minutos com muitos golos, reviravoltas no resultado e com um “jóquer” saído do banco para dar a volta ao texto e impulsionar o 3-3 final. O seu nome? Vincent Aboubakar, bem conhecido dos adeptos portugueses.

As duas equipas entraram no Estádio Al Janoub em igualdade de circunstâncias, sem pontos e obrigadas a mostrar serviço. E aquilo que poderia constituir uma barreira inibidora, com receio de falharem num momento capital, revelou-se, afinal, o catalisador de um futebol de ataque.

O 4x3x3 dos Camarões, que trocaram o guarda-redes Onana por Epassy (ao que tudo indica por razões disciplinares), prometia muitas incursões pelo corredor direito, fruto também da qualidade de Mbeumo e das subidas do ala da Sérvia, que voltou a dispor-se em 3x4x2x1, com Zivkovic como falso ala direito e Kostic do lado oposto.

Partiria, porém, da Sérvia o primeiro aviso sério à navegação, quando Mitrovic, após um grande lance individual na linha de fundo, rematou em arco ao poste mais distante da baliza africana (10'). Esteve perto do golo o avançado e repetiu a ocasião aos 16’, num dos lances mais caricatos deste Mundial: lançamento lateral para a Sérvia, cruzamento de Kostic, tentativa de corte dos centrais, bola na cara de um colega, tentativa de corte imperfeita e Mitrovic, isolado, a atirar para fora.

O ascendente dos sérvios era evidente, mas os Camarões não perdiam uma oportunidade de colocar o adversário na ordem- Aos 19’, Kundé rematou forte para defesa de Milinkovic-Savic. E a verdade é que seria a selecção orientada por Rigobert Song a inaugurar o marcador, num pontapé de canto que contou com um desvio providencial do central Castelletto ao segundo poste. Foi aos 28’ e foram vários os coletes laranja (note-se, os suplentes da selecção dos Camarões) a atravessarem o relvado para festejar.

A Sérvia manteve o plano de jogo, a apostar na largura e a chegar com perigo à área, muitas vezes explorando o espaço entre central e lateral esquerdo camaroneses. Até que o empate surgiu na sequência de um livre indirecto, finalizado de forma imperial, de cabeça, por Pavlovic. Estávamos nos 45’ e o intervalo estava à porta, mas ainda houve tempo para o 1-2, na compensação, com Milinkovic-Savic a rematar com classe de fora da área, após recuperação nos últimos 25 metros.

Os ventos pareciam soprar a favor dos sérvios mas era cedo para tirar conclusões. Ainda que uma recuperação dos Camarões parecesse improvável quando Mitrovic, após uma grande jogada colectiva com quatro jogadores na área, finalizou sem oposição para o 1-3, aos 53’.

Dois minutos depois, a maré mudou. Song, seleccionador dos Camarões, trocou o médio Hongla pelo antigo avançado do FC Porto Vincent Aboubakar e acertou no jackpot. Alargando a frente de ataque, e contando agora com dois avançados mais próximos no corredor central, a selecção africana passou a apostar mais na profundidade.

Aos 64’, Aboubakar desmarcou-se, tirou da frente um adversário com um toque subtil e viu aproximar-se perigosamente o guarda-redes sérvio, do alto dos seus 2,02m. Mesmo pressionado, o agora avançado do Al-Nassr fez um chapéu magistral, que ainda teve de ser validado pelo VAR, depois de suspeitas de fora-de-jogo. Estava linha e o resultado transformou-se em 2-3.

A Sérvia mal teve tempo para digerir o golo e já estava a sofrer o empate. Aos 66’, novo ataque à profundidade, Aboubakar surge do lado direito e cruza com precisão para a emenda oportuna de Choupo-Moting, ao segundo poste. 3-3, para gáudio dos adeptos africanos e escândalo dos sérvios.

Já a acusar maior desgaste, a Sérvia mostrou menos clarividência para tentar retomar a vantagem, mas ainda dispôs de um par de ocasiões em que Mitrovic não foi eficaz na finalização. O jogo tornou-se quase anárquico, feito de transições e contra-transições, sem que o resultado tivesse sofrido mais alterações. E as duas selecções ficam agora à espera do desfecho do Brasil-Suíça para saberem que hipóteses reais (se é que algumas) terão de continuarem em prova para lá da fase de grupos.

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