Activistas climáticos estão a dar uma grande dor de cabeça às seguradoras de arte

Protestos de activistas climáticos que atingiram obras de arte aconteceram em vários países nas últimas semanas, preocupando museus. Agora, são as seguradoras de obras de arte que se expressam.

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"Morte e Vida" foi uma das obras escolhidas pelos activistas climáticos. Reuters/LETZTE GENERATION OESTERREICH

Os protestos de activistas climáticos que tiveram como alvo obras de arte reconhecidas mundialmente aumentaram as preocupações das seguradoras sobre a ameaça à arte da própria mudança climática. Estas preocupações podem levar a que os seguros de arte fiquem mais caros.

Nas últimas semanas, os activistas chamaram a atenção para a causa climática, atirando sopa de tomate nos Girassóis de Vincent Van Gogh na National Gallery, em Londres, e um líquido preto a Morte e Vida, de Gustav Klimt, no Leopold Museum de Viena para protestar contra o uso de combustíveis fósseis. Entre outros alvos, como a figura de cera de Carlos III no museu Madame Tussauds, em Londres.

As pinturas estavam protegidas atrás de um vidro e um porta-voz da National Gallery disse que apenas “pequenos danos” foram causados à moldura dos Girassóis. Já o Leopold Museum disse que a pintura de Klimt não estava danificada, mas não respondeu aos pedidos de comentários adicionais.

Protestos semelhantes também ocorreram na Noruega, em Madrid e na Austrália. Esta semana, os dois activistas climáticos que se colaram ao quadro de Van Gogh Pessegueiros em flor, em Londres, foram considerados culpados por crimes contra propriedade, dado terem danificado a moldura.

Apesar de, até agora, os danos não serem substanciais, muitos no mundo da arte e das seguradoras dizem que pode ser apenas uma questão de tempo até as obras serem realmente vandalizadas, especialmente se os protestos se propagarem além do activismo climático.

Quase 100 galerias de arte, incluindo o Guggenheim, de Nova Iorque, e o Louvre, em Paris, fizeram um comunicado, dizendo que os activistas “subestimam severamente a fragilidade destes objectos insubstituíveis”.

Agora, a preocupação é com os custos monetários e com a forma como isso irá afectar os seguros: “de momento, são apenas activistas das alterações climáticas, que são principalmente liberais de classe média e não pretendem danificar as obras”, disse Robert Read, director de arte e cliente particular na seguradora Hiscox.

“O que nos preocupa é se isso se propaga para outros grupos de protesto que são menos gentis e vão ter uma atitude menos cuidadosa”, completa.

Filippo Gerrini Maraldi, director de belas-artes na Howden nota que, mesmo que a arte em si não seja directamente danificada, os custos de reparar uma moldura e voltar a montar uma pintura podem chegar à casa dos dez milhares de dólares, revelando que a corretora já teve “vários pedidos de clientes que terão peças em museus, a pedir que elas sejam removidas”.

O mercado de seguros para obras de arte ganha globalmente cerca de 750 milhões de dólares (perto de 721 milhões de euros) em premiums, o valor que é pago pelo seguro. As taxas subiram cerca de 5% em 2020 e 2021 e mantiveram-se estáveis este ano, mas as seguradoras prevêem uma subida.

A pressão monetária

Perdas e níveis de disponibilidade de seguro tendem a ditar os preços. Independentemente dos protestos climáticos, o aumento da incidência de incêndios e inundações ligados ao aquecimento global que inspirou o activismo vai, provavelmente, aumentar os preços de seguro no próximo ano, disseram seguradoras e corretoras. A inflação está também a influenciar estes valores.

Jennifer Schipf, directora global de subscrição de obras de arte na empresa AXA XL, espera que os resseguradores – isto é, os seguros dos seguradores – aumentem as suas taxas durante o período de renovação de 1 de Janeiro, o que pode ter impacto no mercado artístico.

Até agora, as acções de protesto dos activistas não resultaram em sinistros (isto é, um acidente ou prejuízo material na obra de arte que causa perda financeira para a seguradora), segundo dizem seguradoras e corretoras. Não são conhecidos os termos do acordo do Leopold Museum, mas o Governo Britânico arca com os riscos das colecções permanentes da National Gallery, afirmou um porta-voz da galeria.

Os principais museus contam geralmente com o Estado para fornecer segurança financeira em caso de danos, em vez de procurar seguro comercial. Museus e galerias comerciais, no entanto, compram seguros de arte, e o seu uso também é mais comum entre museus maiores nos Estados Unidos do que na Europa.

Os valores pagos pelos museus permaneceram estáveis, ​em parte porque preocupações mais gerais sobre ataques terroristas e violência já haviam reforçado a segurança nos últimos anos, com mais obras atrás de vidro, um aumento do número de seguranças e revistas de malas à entrada.

Em certos casos, as seguradoras comerciais também ficaram mais cautelosas, com uma seguradora que não quis ser identificada dizendo que só contemplava obras de arte protegidas por vidro. Enquanto cinco seguradoras contactadas pela Reuters referiram que ainda não estavam a considerar os ataques climáticos nos preços, alguns artistas revelam que já enfrentam custos crescentes.

Thomas Hampel, agente da artista alemã ANTOINETTE, disse que as taxas de seguro para cobrir a sua arte devem subir 12,5% no próximo ano, em comparação com aumentos de 3% a 5% nos três anos anteriores. Além disso, a despesa extra para exibir uma grande obra de arte com segurança seria de 35 mil euros por um vidro anti-reflexo de 100 metros quadrados, além de transporte e montagem. “Não podemos arcar com esses custos adicionais”, admitiu Hampel.

Estas acções dos activistas climáticos também podem prejudicar a indemnização do Governo, isto é, do seguro estatal que cobre as principais galerias quando elas exibem obras de arte que não são sua propriedade, disse Adam Prideaux, director-gerente da corretora de seguros de arte Hallett Independent.

O Arts Council England, que fornece essa indemnização, disse numa resposta por e-mail que não poderia fornecer detalhes de reivindicações individuais, mas confirmou que “apenas um pequeno número de reivindicações menores foi feito nos últimos dez anos”.

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