Cartas ao director

O Presidente sem mácula, o governador da direita e o comentador justiceiro

A Fundação Calouste Gulbenkian foi palco da apresentação do “livro de memórias” do antigo governador do Banco de Portugal, naquele que foi um período de má memória para a banca nacional.

Carlos Costa quis passar a mensagem de que o livro era nada mais, nada menos, do que uma prestação de contas aos portugueses. Contudo, aproveitou o momento para fazer um ajuste de contas, isso sim, com o actual primeiro-ministro. A direita, sabendo de antemão disso, fez-se representar em peso, e até Marques Mendes aproveitou a oportunidade para pedir a intervenção do Ministério Público face às revelações do livro de prestação de contas!

O que mais surpreende são as afirmações do Presidente de má memória Cavaco Silva sobre Carlos Costa. Segundo o antigo Presidente, Carlos Costa é um dos melhores entre os seus pares. Terá sido este Carlos Costa que lhe deu a garantia de que o então BES era uma instituição sólida e confiável? Cavaco Silva afirmou peremptoriamente na altura aos portugueses que poderiam confiar no BES. Porque nunca foram implicados e responsabilizados Carlos Costa e Cavaco Silva no processo BES?

Bruno Antunes, Lisboa

Rússia e a nova estratégia

Hoje, salvo raras e atávicas excepções, é claro para todos, à luz da história e dos factos ocorridos, que a Rússia invadiu a Ucrânia. Os propósitos implícitos eram políticos e económicos. Essa invasão, durante muito tempo apelidada de “operação especial”, foi militarmente repelida, ao longo do tempo, e as tropas russas estavam a recuar em todas as frentes. A Ucrânia teve o apoio da maioria dos designados países ocidentais, baseado nos princípios democráticos e no direito internacional.

A seguir à ofensiva ucraniana, o general Sergei Surovikin, que já comandou as tropas da Rússia na Síria em 2015, e onde ganhou a epíteto de “carniceiro”, foi nomeado comandante das tropas russas invasoras. Foi uma viragem táctica de Putin, pois, a partir dessa ocasião, a ofensiva passou a ser contra a população e sociedade civil, através de bombardeamentos, a longa distância, de instalações eléctricas e de outras formas de energia e de instalações civis de uma maneira generalizada.

A guerra nunca é bonita, mas aqui assistimos à deliberada aniquilação das condições de vida da população civil, que, alegadamente e no precedente, se queria “salvar”. Putin, Surokivin e outros responsáveis políticos e militares russos estão a executar uma política terrorista. Não há outro nome para classificar e para designar estas acções. Ao nomear Surovikin, mudou de uma “operação militar espacial” para uma “acção terrorista” na Ucrânia.

Actualmente, a Rússia, com estes dirigentes, é ou comporta-se como um Estado terrorista.

Celso Pontes, Vila do Conde

Pensar no ambiente a médio e não curto prazo

Se é certo que aumentou o consumo de gasolina, gasóleo e gás, ou seja, o país teve de importar mais matéria-prima, porque é que o governo não procura inverter o aumento da sua importação? Por exemplo, pensando a médio prazo, o Estado poderia financiar: a aquisição de viaturas (seja para utilização pessoal ou empresarial) eléctricas; a colocação de painéis; a expansão dos recursos nacionais de energia verde; a investigação na área das energias renováveis. A curto prazo, tal financiamento implicaria despesa pública, mas a médio prazo implicaria um equilíbrio do deficit, na medida em que se importaria menos.

Mesmo que haja boa vontade de os portugueses inverterem esta situação, não há dinheiro para concretizar as mudanças. Pensar a médio prazo seria financiar esses investimentos, se não a fundo perdido, pelo menos a uma percentagem substancial e/ou permitindo um pagamento a crédito sustentável. O resultado a médio (quase curto) prazo seria a autonomia energética, a contribuição para um ambiente equilibrado, a diminuição da saída de divisa para o estrangeiro. Os resultados a curto prazo, apesar do desequilíbrio das finanças públicas, seria o amenizar das preocupações domésticas; seria o princípio do fim da dependência do exterior e seria o princípio de uma condição verde para o país.

Luís Filipe Rodrigues, Santo Tirso

Sugerir correcção
Comentar