Literacia mediática

Prémios PÚBLICO na escola. “Leiam jornais em papel”, pediu o ministro aos jovens

Os prémios do Concurso Nacional de Jornais Escolares foram entregues. “Quanto mais curiosos e melhor informados, mais livres serão os jovens para formarem convicções.”

Promover a literacia mediática, o conhecimento e, ao mesmo tempo, formar jovens mais capazes de ler o mundo e a informação à sua volta: estes são alguns dos objectivos do projecto PÚBLICO na escola que, na manhã desta terça-feira, distinguiu os vencedores do Concurso Nacional de Jornais Escolares — foram 11 jornais, no total, de todo o país, numa edição à qual se candidataram 160 projectos.

O ministro da Educação, João Costa, marcou presença e, no encerramento do evento que decorreu na redacção do PÚBLICO, em Lisboa, lançou um desafio aos jovens portugueses: “Leiam jornais em papel.”

Porquê em papel? “Quando leio apenas no digital leio muito menos porque geralmente vou só às notícias das áreas que me interessam. Quando tenho o jornal em papel leio mais, aprendo mais”, explicou João Costa.

Antes, e sem distinguir jornais digitais ou em papel, uma das coordenadoras do PÚBLICO na escola, Luísa Gonçalves, tinha sublinhado: “Quanto mais curiosos e melhor informados, mais livres serão os jovens para formarem convicções.” É esta, de resto, a mensagem central do PÚBLICO na escola, uma parceria com o Ministério da Educação que conta com o apoio da Fundação Belmiro de Azevedo.

“Um jornal escolar é essencialmente um exercício de liberdade dos mais jovens, é um exercício do direito dos mais jovens a serem escutados, é um exercício de cooperação, porque têm de cooperar entre eles no trabalho em equipa”, descreveu Daniel Carvalho, secretário-geral do Edulog, da Fundação Belmiro de Azevedo. Os jornais escolares são também, concluiu, um exercício de responsabilidade, “porque ao transmitir factos, ou uma opinião, os jovens responsabilizam-se por ela e, creio, é isto que pretendemos dos nossos cidadãos”.

"Uma ajuda no crescimento"

Joana Amaral, 18 anos, e Cristina Lin, 17, do Agrupamento de Escolas Emídio Navarro, em Almada, fizeram parte do grupo de alunos de diferentes pontos do país que estiveram na redacção do PÚBLICO. Receberem o 1.º prémio de Melhor Jornal de Agrupamento com a publicação Mar de Palha. E explicaram que fazer um jornal, na escola, “é uma ajuda a aprender o que é fazer um jornal a sério”, mas é também “uma ajuda no crescimento”.

O ministro da Educação esteve presente no evento e desafiou os jovens a lerem mais jornais em papel Daniel Rocha
Luísa Gonçalves, uma das co-responsáveis pelo PÚBLICO na Escola Daniel Rocha
Bárbara Simões, uma das coordenadoras do PÚBLICO na Escola Daniel Rocha
Daniel Rocha/PUBLICO
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O ministro da Educação esteve presente no evento e desafiou os jovens a lerem mais jornais em papel Daniel Rocha

O Mar de Palha é um jornal físico, trimestral, e o próximo passo a dar, explicaram, será o “salto para o digital”. De resto, têm sido cada vez mais os jornais digitais a concorrem ao concurso nacional.

Já Inês Curto e Dinis Marques, de 15 e 18 anos, respectivamente, levaram para casa o 2.º prémio de Melhor Jornal de Agrupamento, com o Eça News — que foi atribuído ex aequo ao jornal Teixeira+, do Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes, em Portimão.

Criado durante a pandemia de covid-19, o Eça News nasceu no Agrupamento de Escolas Eça de Queirós, em Lisboa, com o objectivo de dar relevância a assuntos do quotidiano dos alunos, que lhes interessam, como a sustentabilidade ou a política.

No ano passado, já tinha sido distinguido. Este ano, Inês Curto vê o prémio do PÚBLICO na escola como mais um “incentivo para continuar a melhorar e a dar o exemplo a outros jornais escolares que possam estar a começar, para verem que é possível”.

A aluna lamentou que existam “algumas áreas [que] são ignoradas”, porque os alunos não se interessam tanto por elas. Por isso mesmo, um dos objectivos daquela publicação, diz, passa por dar atenção a esses temas de que muitos gostam menos, para que “possam formar uma opinião fundamentada” mesmo sobre esses temas.

Um jornal “de alunos para alunos, para que todos possam partilhar as suas opiniões e os seus gostos”, foi também assim que Sofia Costa, de 17 anos, descreveu o Teixeira +. A distinção significa para Sofia Costa uma “grande ajuda para poder levar o jornal para a frente”.

Prémio Melhor Design Gráfico foi para o ARTE|ON, do Agrupamento de Escolas Vasco Santana, Odivelas Daniel Rocha/PUBLICO
Na categoria Melhor jornal de Agrupamento o 2.º prémio foi atribuído, ex aequo, ao EçaNews, do Agrupamento de Escolas Eça de Queirós, Lisboa, e ao Teixeira+, do Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes, Portimão Daniel Rocha/PUBLICO
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Prémio Melhor Design Gráfico foi para o ARTE|ON, do Agrupamento de Escolas Vasco Santana, Odivelas Daniel Rocha/PUBLICO

É numa lógica de multidisciplinaridade que nascem muitos dos artigos publicados no jornal do Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, descreveu. Filosofia e Literatura são as duas disciplinas destacadas pela aluna como das mais abordadas.

A estrear o prémio de Melhor Trabalho de Cultura esteve a revista Ponto, da Escola Secundária José Saramago, em Mafra. E as estudantes que a representaram na entrega de prémios, Beatriz Palma e Beatriz Aguiar, não esconderam a emoção. A revista que fazem, dizem, é uma “forma de representar” o que os estudantes sentem. Por isso, o prémio é uma forma de ver “esses valores, essas opiniões e aquilo em que os alunos acreditam” valorizados.

A revista aborda os vários tipos de arte, da pintura à arquitectura ou à literatura, e a edição vencedora do concurso tinha como um dos focos a personalidade que dá nome à escola: José Saramago.

“As escolas são verdadeiros centros culturais. Este projecto mostra que as nossas escolas são verdadeiros centros culturais e precisamos delas para implementar esta ideia de que cada um de nós é um agente cultural”, resumiu Paulo Pires do Vale, comissário do Plano Nacional das Artes.

Vai nascer um novo prémio

Na intervenção de encerramento, o ministro da Educação lembrou a importância que a escola e a imprensa livre têm para a “preservação da qualidade da democracia”. E é nesse contexto que iniciativas como o PÚBLICO na escola ganham destaque uma vez que partilham uma “missão comum": a de “promoção da democracia e da qualidade da democracia”.

Nessa tarefa “compete à escola saber ensinar a navegar nesta avalanche de informação para a transformar em conhecimento”, disse João Costa.

“Recentemente, redesenhámos o nosso currículo para eleger como objectivos principais, obviamente, o conhecimento, mas também fazer da escola um espaço de promoção da capacidade de comunicar, da sensibilidade estética e artística, do pensamento crítico e criativo, do raciocínio e da resolução de problemas”, prosseguiu o ministro. Que notou ainda que a implementação da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania “coloca a literacia mediática como uma das dimensões obrigatórias”. Isso significa também que o Ministério da Educação quer “que a escola vá mais longe e não seja apenas um depósito de conteúdos, daqueles que facilmente se tornam descartáveis”.

Os prémios do Concurso Nacional de Jornais Escolares, no montante total de 8500 euros, são patrocinados pelo Ministério da Educação, Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Fundação Belmiro de Azevedo, Porto Editora e Plano Nacional das Artes.

Bárbara Simões, coordenadora do PÚBLICO na escola, anunciou durante a cerimónia um novo prémio a concurso, patrocinado pela comissão responsável pelas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. A distinção vai vigorar durante dois anos e já no presente ano lectivo vai premiar o “melhor trabalho sobre liberdade”. “No segundo ano [ 2023/24] vai premiar o melhor trabalho sobre democracia”, acrescentou ainda. O Prémio 25 de Abril tem o valor de 500 euros.