Seguranças dificultam entrada de adereços arco-íris nos estádios do Qatar

Jornalista foi barrado no acesso à bancada de imprensa do estádio por causa de T-shirt. Adeptos galeses tiveram de retirar chapéus com cores do arco-íris.

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Chapéu dos adeptos galeses foi proibido The Rainbow Wall

Depois dos jogadores, também jornalistas e adeptos têm dificuldades em conseguir mostrar as cores do arco-íris nos estádios do Campeonato do Mundo, com os seguranças a dificultar a entrada de adereços com este símbolo. O norte-americano Grant Wahl foi momentaneamente detido à entrada para a bancada de imprensa por estar a usar uma camisola decorada com a bandeira arco-íris. Já os adeptos do País de Gales, que tentaram usar chapéus com estas cores na partida frente aos Estados Unidos, tiveram de os retirar à entrada do estádio, sob pena de não assistirem ao jogo. Este incidente já se encontra sob investigação pela Associação de Futebol de Gales e será discutido com a FIFA nesta terça-feira.

“Quando cheguei ao estádio para fazer cobertura ao jogo entre Estados Unidos e País de Gales, usando uma T-shirt com uma bola de futebol com um arco-íris em apoio à comunidade LGBTQ, os seguranças recusaram-se a deixar-me entrar, detiveram-me durante 25 minutos e exigiram furiosamente que eu retirasse a T-shirt”, escreve o jornalista Grant Wahl na sua página profissional.

Um outro jornalista, identificado como profissional do The New York Times, também terá sido detido por alguns momentos, após se inteirar da situação de Grant. Por diversas vezes, o norte-americano recusou aceder aos pedidos dos seguranças, rejeitando remover a camisola. O imbróglio foi resolvido da melhor forma, com um pedido de desculpas e “luz verde” para entrar no estádio. Grant escreve na sua página que recebeu um pedido de desculpas de um representante da FIFA.

Os adeptos do País de Gales não tiveram tanta sorte: munidos de chapéus com as cores do arco-íris, foram impedidos de entrar no jogo frente aos Estados Unidos, o primeiro para a selecção neste Campeonato do Mundo.

“O nosso ‘panamá’. Estamos tão orgulhoso dele, mas os relatos no estádio dizem que as nossas adeptas têm de os tirar. Não são os homens, só as mulheres”, acusou o grupo Rainbow Wall, que junta adeptos LGBTQ+ da selecção galesa. Numa nota adicional, a página adiantou que também os homens foram abrangidos pela proibição, mas que esta terá começado numa primeira fase junto das mulheres.

O relato da página foi confirmado pela antiga capitã da selecção de futebol feminino galês: Laura McAllister também foi obrigada a retirar o chapéu antes de entrar para o estádio, mas conseguiu passar com ele escondido. Imagens captadas no estádio e publicadas pela BBC mostram o momento em que a ex-jogadora é parada pelos seguranças do recinto desportivo.

Braçadeiras causaram polémica

Nesta segunda-feira, foram os próprios jogadores os afectados pela proibição dos símbolos de apoio à comunidade LGBTQ+. Integrado na iniciativa “One Love” (Um amor), o uso da braçadeira com as cores do arco-íris foi anunciado semanas antes do início da competição, mas a ameaça de sanções disciplinares para os capitães motivou uma “marcha-atrás” de última hora. As sete selecções que planeavam avançar com o gesto (Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça) comunicaram uma mudança de planos devido às possíveis consequências.

“A FIFA foi muita clara ao dizer que vai impor sanções disciplinares se os nossos capitães usarem as braçadeiras [com as cores do arco-íris] em campo. Enquanto federações nacionais, não podemos colocar os nossos jogadores numa posição em que estes podem sofrer sanções disciplinares, incluindo admoestações, portanto pedimos aos nossos capitães que não tentem usar estas braçadeiras em jogos do Mundial. Estamos preparados para pagar multas, mas não podemos sujeitar os jogadores a situações em que podem receber cartões ou serem até obrigados a deixar o terreno de jogo”, escrevem.

Pedro Henriques, especialista em arbitragem, explicou que as possíveis consequências podiam motivar as expulsões de vários jogadores, pelo facto de a braçadeira ser considerada ilegal à luz dos regulamentos.

“Levando a lei ao extremo, em termos práticos, o árbitro vê no túnel que um jogador tem uma peça visível do equipamento que não está regulado e avisa-o de que não pode usar a peça. Se ele subir ao relvado com essa mesma peça, vê um amarelo ainda antes de começar o jogo. E se ele continuar a recusar tirar a braçadeira, leva o segundo amarelo e é expulso. A braçadeira passa para outro jogador e o ciclo repete-se.”

As federações visadas não esconderam a frustração com esta alternativa, dizendo que esta acção “não tem precedente”. O pedido para o uso desta braçadeira, acusam, terá mesmo ficado sem qualquer resposta oficial por parte do órgão internacional: “Escrevemos à FIFA em Setembro, informando-os do nosso desejo de usar a braçadeira ‘One Love’ para apoiar activamente a inclusão no futebol e não recebemos resposta. Os nossos jogadores e treinadores estão decepcionados, são fortes apoiantes da inclusão e vão mostrá-lo de outras maneiras.”

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