Ler jornais na era da desinformação

Saber ler jornais, compreender a sua importância para a democracia ou para o escrutínio dos poderes tornou-se uma missão crítica nesta era de fake news e de intolerância.

Por estes dias, uma factura de 9400,60 euros num conhecido restaurante de Lisboa deu origem a mais uma campanha de desinformação. Círculos não identificados (da oposição democrática? Da extrema-direita?) apressaram-se a dizer que tão faustoso repasto regado com uma garrafa de vinho de 5800 euros foi pago pelo primeiro-ministro, António Costa; focos do bolsonarismo trataram de dizer que a extravagância teve como autor Lula da Silva.

Muitos verão na campanha tóxica apenas uma anedota ou um insulto boçal; outros, mais cautelosos, tratarão de a considerar como um bom exemplo do novo paradigma da desinformação das redes sociais. O seu progresso ataca os nossos padrões de vida colectiva e as nossas escolhas políticas. Houve eleições influenciadas com estes planos, e o discurso de ódio prospera à sua custa. Importa haver uma resposta.

Nesta terça-feira, o PÚBLICO organiza o seu Dia da Literacia Mediática, com a consagração dos melhores jornais escolares produzidos no âmbito do Concurso Nacional de Jornais Escolares do Público na Escola. Logo a seguir, lança a quarta edição do PSuperior, que consiste na oferta de assinaturas digitais do jornal a estudantes universitários com o apoio de uma rede de mecenas.

Os dois projectos, inscritos na estratégia de responsabilidade social do jornal, combinam-se como resposta a esta urgência: é crucial que os jovens saibam distinguir a qualidade da informação na era digital, que sejam capazes de ler criticamente os jornais, que sejam motivados a procurar informação de qualidade para disporem de bases sólidas e enriquecerem as discussões do espaço público

No caso português, a promoção da literacia mediática não pode ser separada das condições em que se faz jornalismo. O Presidente da República tem sido incansável nos seus apelos a que se encare a profissão de jornalista e a crise de uma grande parte da imprensa como um problema crítico para o futuro da democracia. Não está em causa qualquer súplica a financiamentos do Estado, que, para lá dos contratos de publicidade, degradam a credibilidade e a independência dos jornais. Está sim a necessidade de reafirmar a relação entre uma imprensa forte e uma sociedade civil robusta e informada. Não pode haver uma sem a outra.

Saber ler jornais, compreender a sua importância para a democracia ou para o escrutínio dos poderes tornou-se uma missão crítica nesta era de fake news e de intolerância. Os jornais erram, mas os erros têm um rosto para assumir as suas consequências, até judiciais. Entre a informação que produzem, vinculada à lei ou a um código deontológico, e o lixo manipulatório ou simplista que circula na Net, a escolha é óbvia. A literacia mediática que o PÚBLICO hoje celebra é uma forma de a incentivar.

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