Cartas ao director

Forget your perfect offering

O título deve-se ao verso da canção Anthem de Leonard Cohen e a algo mais. Leonard Cohen sabia muito bem o que escreveu, há uma fissura em tudo, fissura por onde a luz acaba por entrar. E isto a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa, e dos seus comportamentos e frases.

Não, os direitos humanos não podem ser esquecidos nem trocados, isso é coisa para nazis e afins. A fissura. E sim, pode esquecer a sua oferta perfeita – o título, o algo mais - e vazia de beijos de abraços. Não vale um nada.

Seria muito melhor que nunca tivesse beijado ou abraçado alguém na vida e tivesse genuína e permanentemente presentes os direitos humanos, admitindo que tal seria saudavelmente possível na mesma pessoa.

E não, Portugal não precisa de um Presidente que troca direitos humanos por uma qualquer futebolada entre uns acepipes e umas goladas de um bom vinho tinto.

E não, Portugal também não troca o segredo de justiça por telefonemas amistosos a bispos e afins. E por aí adiante. Portanto, pode esquecer a sua oferta perfeita e vazia de beijos e abraços e ofereça ao país a concreta carta da sua resignação.

Joaquim Pereira, Guimarães

Uma vergonha mundial

A próxima suposta festa mundial do futebol irá desenrolar-se num país que não a merece. O Qatar não respeita minimamente os direitos humanos e quem se sentar naqueles estádios deveria sentir o suor e a dor dos milhares dos quase escravos que os realizaram em condições desumanas, alguns com o preço da própria vida. Há mais tristes detalhes sobre o que se passa nesse país, facilmente acessíveis para quem quiser saber.

Lembram-se da África do Sul do tempo do apartheid e do boicote desportivo a que foi sujeita, por não respeitar os direitos humanos? Nessa altura a comunidade internacional era menos “esqueçamos isso e vamos à bola”, como muito pragmaticamente o nosso Presidente da República agora expressou?

O que vai acontecer no Qatar não é nem pode ser uma festa. O respeito pelo sofrimento e dignidade alheia deveria impedir a celebração de qualquer golo ou vitória. Sejamos coerentes e menos hipócritas e/ou básicos (para não usar outra expressão mais bruta).

Carlos JF Sampaio, Esposende

Contra o esquecimento

Não, senhor Presidente da República, os direitos humanos não são para esquecer. Mais uma vez, Marcelo Rebelo de Sousa deu um ar da sua graça sem graça nenhuma. A falta de liberdade, os atropelos à dignidade humana e os 6500 trabalhadores mortos nas obras de construção dos estádios no Qatar não são para cair no esquecimento. Pelo contrário, esta é a melhor altura para pressionar as autoridades qataris a respeitar quem pensa diferente. Marcelo devia ir ao Qatar com o seu dinheiro, e não com o dinheiro dos contribuintes portugueses. Com o aumento do custo de vida a asfixiar a generalidade dos portugueses, não fica bem a Marcelo gastar dinheiro dos contribuintes em jogos de futebol. Os jogadores da selecção representam Portugal.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Os problemas resultantes da inflação

A economia é a ciência que trata e estuda os fenómenos da evolução dos preços de todos os produtos que no mercado são fabricados e consumidos pelos seres humanos ou de tudo o que lhes é dependente. O aumento de custo das matérias-primas reflecte imediatamente nos produtos delas derivados.

Logo, é necessária uma maior quantidade de moeda para adquiri-las. Para atenuar ou resolver de imediato o problema, os bancos que nos países emitem a moeda tomam medidas imediatas, pondo em circulação uma maior quantidade de dinheiro.

As crises não afectam todos de igual modo. Os que têm altos rendimentos ou equilibrados, não são prejudicados com o fenómeno, até, nalguns casos, pelo contrário. Para procurar remediar o problema, os governos decidem que os salários sejam aumentados, especialmente na função pública, mas os que já os auferiam muito baixos são os mais sacrificados, pois os produtos necessários à alimentação, saúde, vestuário, educação e habitação distanciam a capacidade de adquiri-los convenientemente.

A própria dinâmica da economia, com o tempo, vai corrigindo a relação produtor/consumidor, mas os menos afortunados continuam a ser os mais prejudicados com os problemas resultantes da inflação e a sua distância entre os mais ricos acentua-se. Hoje, como em todos os tempos, é difícil organizar a sociedade com uma relativa equidade na distribuição da riqueza e os políticos tentam impor sistemas económicos que relativizem as diferenças. Alguns, e não muito longe da nossa época, falharam, mas o Homem continua na sua luta por um mundo melhor.

Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo

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