Moscovo terá acordo com Teerão para fabricar drones na Rússia

Diário The Washington Post revela informação dos serviços secretos dos EUA e outros países ocidentais.

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Destroços de um drone em Kiev Reuters

A Rússia terá conseguido apoio do Irão para fabricar, no seu território, drones para utilizar na guerra na Ucrânia, noticiou o diário The Washington Post citando fontes dos serviços secretos dos Estados Unidos e de outros países ocidentais.

O Exército russo tem utilizado drones iranianos contra a Ucrânia mais de 400, segundo o jornal norte-americano , sobretudo em ataques contra infra-estrutura civil e de energia do país, numa campanha contra a população civil (que Moscovo nega).

Este domingo, entretanto, a Ucrânia e a Federação Russa trocaram novamente acusações sobre novos ataques à central nuclear de Zaporijjia, com a primeira acusação a partir da Rússia, que controla a central, e a segunda da Ucrânia, que diz que os ataques pretendem fazer com que o país fique sem energia suficiente para fazer face ao Inverno.

A Agência Internacional de Energia Atómica repetiu um forte apelo a quem quer que esteja por trás dos ataques para parar. “Estão a brincar com o fogo”, disse o chefe da AIEA, Rafael Grossi, citado pela agência Reuters.

Quanto aos drones, o Irão admitiu pela primeira vez no início do mês ter vendido estes veículos aéreos não tripulados à Rússia, mas disse que a venda foi feita antes do início da invasão russa da Ucrânia. Mas a sua utilização foi provada em ataques russos a Kiev, o que levou, por exemplo, à decisão da União Europeia de impor sanções ao vários iranianos envolvidos no fornecimento de material militar a Moscovo.

Uma ajuda do Irão para o fabrico de drones na Rússia seria um passo no fortalecimento de uma aliança entre os dois países, que é sobretudo fruto de circunstâncias e de objectivos comuns, como o apoio ao regime de Bashar al-Assad na Síria.

Os drones iranianos não são vistos por muitos analistas como tendo a capacidade de mudar o curso da guerra, já que não impedem o avanço das tropas ucranianas no terreno, recuperando território que a Rússia tinha conquistado. Mas a sua utilização fez com que os civis fossem cada vez mais castigados e uma produção russa – que segundo o acordo, poderia estar pronta dentro de poucos meses – aumentaria ainda esta capacidade de infligir danos.

Esta destruição entra no cálculo russo, não só por castigo aos ucranianos (vários analistas notam que as chuvas de mísseis e drones se seguem a perdas relevantes no terreno), mas também na lógica de tentar acções que possam levar a um menor apoio de países estrangeiros à Ucrânia: com a chegada do Inverno, a falta de energia e de aquecimento poderia fazer com que mais ucranianos procurassem refúgio em países europeus. Com cada vez mais refugiados a chegar, estes países poderiam defender um menor apoio à Ucrânia.

A seguir aos drones, mísseis?

Um caso diferente seria se o Irão exportasse mísseis balísticos para a Ucrânia. Esse seria um passo mais relevante – tanto em termos de política iraniana como de efeitos na guerra, considerou Behnam Ben Taleblu, da Fundação de Defesa das Democracias, em declarações à televisão americana CNBC.

O Irão, relembrou, tem o maior arsenal de mísseis balísticos do Médio Oriente, e “a transferência de mísseis balísticos para a Rússia seria uma acção histórica sem precedentes para a República Islâmica”, sublinhou.

No entanto, como cada acção provoca uma reacção, mais drones e mísseis da Rússia contra a Ucrânia também poderão levar países ocidentais a enviarem mais armamento de defesa antiáerea, notou Ryan Bohl, analista na empresa de informação de risco RANE, ainda à CNBC. E ainda podem “fazer com que os drones e mísseis iranianos pareçam pouco eficazes, dando aos exércitos ocidentais a informação necessária sobre como melhor os contra-atacar”, declarou.

Por outro lado, disse Behnam Ben Taleblu, este desenvolvimento é preocupante porque “poderá também querer dizer que o desafio que a proliferação de armas do Irão e o seu desafio militar, que árabes e israelitas têm enfrentado há anos, se está a tornar passível de ser transferido” para qualquer lugar do mundo.

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