Os perigos da Internet pelos olhos dos adultos

Pais e professores só vêem uma fracção do que se passa quando as crianças estão online. Mas existe um SmartBus para os ajudar.

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Não se conhecem, mas João Filipe e Erica Andrade já foram chamados a resolver um problema semelhante: um menor pediu-lhes ajuda porque um estranho o tinha abordado na Internet. No caso de João, professor num colégio privado, foi um aluno de 11/12 anos que, depois de ter sido exposto a conteúdo inapropriado, acabou por ser abordado por uma pessoa e ficou atrapalhado sem saber o que fazer; no caso de Érica, o filho mais novo, de 10 anos, foi também abordado por um estranho no contexto de um jogo online.

São casos como estes que justificam o trabalho do SmartBus da Huawei, que durante este ano de 2022 visitou mais de 20 escolas portuguesas, de Norte a Sul do país, dando continuidade ao projecto que chegou a Portugal em 2013 e que, este ano, fez questão de abranger escolas de concelhos do interior, que tipicamente não recebem iniciativas desta natureza. Tudo para que as questões da segurança em ambiente digital possam chegar a todos - até porque os perigos ocultos não escolhem os jovens cibernautas de acordo com a sua distribuição geográfica.

Nestes dois casos acima mencionados, as crianças falaram com adultos, seguindo estritamente as regras que lhes são transmitidas quando o assunto é segurança online (ver caixa). No entanto, nem sempre tal acontece: 22% das crianças e jovens portugueses entre os nove e os 17 anos confessaram, quando inquiridos no estudo EU Kids Online, não ter falado com ninguém sobre situações na Internet que os perturbaram ou incomodaram. Mesmo que tivessem falado, os amigos da mesma idade (42%) seriam a principal fonte de apoio quando algo de negativo lhes acontece online, logo seguidos pelos pais (33%), segundo o mesmo estudo.
Sendo que, neste caso, o silêncio das crianças e jovens não é sinal de que nada se passa, é importante ter conhecimento dos riscos que estes correm online. Porque eles acontecem: quando questionados, quase um quarto (23%) das crianças e jovens portugueses disseram ter vivido situações na Internet que os incomodaram ou perturbaram, segundo o EU Kids Online. Um aumento significativo em relação a 2014, sobretudo quanto aos mais jovens, entre os 9-10 anos, assinala o mesmo estudo.

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Daí que, com a ajuda da Huawei que, com o projecto educativo itinerante SmartBus, viajou no último mês e meio por Portugal a promover a segurança online junto dos estudantes, vamos elencar alguns dos perigos que se escondem na Internet e o que pais e professores podem transmitir aos filhos.

CONTACTOS COM ESTRANHOS

Mãe de dois filhos que usam regularmente a Internet para falar com os amigos (no caso do mais velho, 15 anos) ou jogar Minecraft e assistir a vídeos no YouTube (o mais novo, 10 anos), Érica Andrade coloca o receio de diálogos com estranhos no topo das suas preocupações quanto à navegação online: “O meu maior receio é existir alguma abordagem directa e fictícia e — agora em relação ao mais novo — , que pareça ingénua e ele acabe por ser exposto a algo ou alguém que seja perigoso”, diz.

E o facto é que já houve uma interacção com estranhos, mas sem consequências: “Com o mais novo aconteceu ele ter uma abordagem num jogo e como eu pintei sempre um cenário dantesco [quanto aos perigos da Internet], ele ficou aflito e contou-me logo. Bloqueámos tudo e, enfim, tudo correu bem.”

Já no caso de João Filipe, a quem um aluno relatou uma conversa suspeita com um estranho e a sua dificuldade em resolver a situação, o professor e uma colega, directora de turma, acabaram por mediar a conversa com os pais. “Ele acabou por desligar [a conversa], mas ficou muito atrapalhado e como não queria falar com os pais e tinha confiança em nós, acabámos por lhes comunicar. Eles ficaram alarmados e depois condicionaram muito o acesso do filho à Internet.”

Cuidados a ter:

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A regra de ouro é transmitir às crianças que nunca devem confiar em desconhecidos e suspeitar sobretudo daqueles que lhes fazem muitas perguntas sobre a sua localização e movimentos. Mais: além de não dar informação pessoal, é importante que as crianças saibam que nunca devem combinar um encontro com alguém que não conhecem sem a presença de um adulto.

CONTEÚDO INAPROPRIADO

“Costuma-se dizer que há males que vêm por bem… E connosco aconteceu. Com o meu filho, tinha ele os seus 8 anos, aconteceu ser exposto a uma série de conteúdos que não deveria ter visto. Infelizmente, eu estava ainda em ‘modo’ ingénua e não tinha o modo de controlo parental [activado] e fiquei assustada e ele também. Aprendemos todos”, relata Érica Andrade que, neste momento tem sempre acesso ao histórico de navegação dos dois filhos e, no caso do mais novo, de 10 anos, este está sujeito a controlo parental quando navega na Internet.

Cuidados a ter:

As crianças devem ser incentivadas a ter um espírito crítico sobre os conteúdos inapropriados com que se podem cruzar e se tiverem dúvidas ou se se sentirem inseguros ao aceder às redes, devem confiar sempre nos pais, tutores ou professores.

INFORMAÇÕES FALSAS

Como Érica Andrade trabalha na área da comunicação, os filhos já estão “formatados para a selecção noticiosa”. No entanto, no caso de João Filipe, professor, a questão das informações incorrectas ou mesmo falsas na Internet é um problema com que se tem deparado quando, por exemplo, pede trabalhos de pesquisa aos seus alunos

“Para eles o meio Internet é, à partida, um elemento tão verdadeiro como uma enciclopédia ou um livro que, antigamente, nós dávamos por adquirido porque sabíamos que os conteúdos tinham sido verificados e eram verdadeiros. Neste momento, eles fazem isso, mas para a Internet. Partem do princípio de que a Internet está correcta”, relata o professor, acrescentando que, por essa razão, tem sentido um decréscimo de qualidade dos trabalhos que recebe. “Devia ser o contrário à partida, não é? Com mais meios e mais informação deviam ser trabalhos mais pensados e melhores, mas não é o caso”, reflecte o professor.

Cuidados a ter:

É importante que as crianças sejam incentivadas a desenvolver o sentido crítico e a comprovar as notícias/informações surpreendentes antes de as partilhar. Por exemplo, no caso das notícias falsas postas a circular na Internet, pode-se explicar às crianças que esses conteúdos usam imagens de outras notícias ou de outros lugares (verdadeiros) para parecerem mais fiáveis.

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