Depois desta greve, funcionários públicos “não estão dispostos a ficar calados”

Frente Comum, que representa 30 sindicatos da função pública, diz que a adesão à greve desta sexta-feira ronda os 80%.

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O coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, fez um primeiro balanço global da greve de 18 de Novembro ao final da manhã. LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A greve desta sexta-feira, que está a afectar o funcionamento das escolas, hospitais, centros de saúde, serviços de atendimento ao público da Segurança Social, das Finanças e das autarquias, é a prova de que os trabalhadores “não estão dispostos a ficar calados” e, se não houver respostas do Governo, outras greves se seguirão.

A ameaça foi deixada pelo coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, que, ao início da tarde, dava conta de uma adesão à greve da função pública na ordem dos 80%, enquanto o Governo se recusa a entrar numa “batalha de números”.

“A adesão global ronda os 80% e é reveladora do descontentamento dos trabalhadores”, adiantou ao PÚBLICO o dirigente sindical depois de ter feito um balanço da greve em frente à Escola Secundária Passos Manuel, em Lisboa, que esteve encerrada.

Os efeitos da greve estão a fazer-se sentir de Norte a Sul e a educação terá sido a área com maior adesão, sublinhou o dirigente sindical, assinalando que “praticamente não há aulas em todo o país e as escolas a funcionar são uma minoria”.

No Serviço Nacional de Saúde, os serviços de consulta externa não funcionam e as urgências a ser asseguradas em serviços mínimos, enquanto “muitos” serviços de atendimento ao público das autarquias locais, da segurança social ou das finanças estão encerrados, destacando o Instituto de Segurança Social e o Centro Nacional de Pensões.

Para Sebastião Santana, “a prova dos nove está tirada” e os trabalhadores “mostraram de forma inequívoca que o Governo vai ter de ouvir as suas reivindicações e apresentar respostas concretas aos problemas”.

“Se não o fizer, os trabalhadores não estão dispostos a ficar calados como hoje se comprovou”, acrescentou.

A Frente Comum convocou a greve desta sexta-feira, 18 de Novembro, para contestar o aumento salarial médio de 3,6% proposto para a generalidade dos trabalhadores do sector público, que contrasta com uma inflação de 10,1% em Outubro.

Embora os trabalhadores das carreiras gerais tenham aumentos superiores à média, Sebastião Santana lembra que a grande maioria dos 700 mil funcionários públicos perdem poder de compra em 2023.

A estrutura da CGTP, que agrega 30 sindicatos e representa mais de 300 mil trabalhadores, defende um aumento dos salários de 10% no próximo ano e uma subida mínima por trabalhador de 100 euros, assim como a valorização de todas as carreiras e a revogação do sistema de avaliação que, na sua perspectiva, “trava” as progressões na carreira por causa das quotas de desempenho.

Sebastião Santana defende que o executivo liderado pelo primeiro-ministro, António Costa, ainda tem tempo para alterar as suas propostas antes da aprovação final global do Orçamento do Estado para 2023, marcada para a próxima semana.

Se isso não acontecer, “os trabalhadores são empurrados para a luta porque é a única maneira que têm de resolver os problemas já que o Governo em sede negocial não quer fazer avanços”.

“A senhora secretária de estado da Administração Pública [Inês Ramires] dizia na última reunião connosco que governar é fazer opções. Estamos de acordo com essa perspectiva, a questão é que as opções são erradas, como entende a esmagadora maioria dos trabalhadores da Administração Pública”, concluiu o dirigente.

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