Autoeuropa parou quatro vezes com adesão à greve de 37%, segundo a empresa

Sindicato saúda “coragem” dos trabalhadores que aderiram à greve parcial e pararam a fábrica num total de oito horas. Administração diz que volume de produção planeado não foi afectado.

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Como na fábrica se produz em linha, bastou interromper um dos elos da produção para forçar a paragem das restantes áreas a jusante Miguel Manso (Arquivo)

A greve parcial na Volkswagen Autoeuropa cumpriu o objectivo dos sindicatos, sem colocar em causa a produção planeada pela administração, mas causando um problema à Comissão de Trabalhadores, que tinha pedido a anulação do protesto.

Os trabalhadores que aderiram ao protesto forçaram a fábrica a parar, mostrando que estão empenhados em obter um aumento extraordinário de 5% com retroactivos a Julho para compensar a inflação e o recorde de produção para o qual se caminha este ano.

A gestão garante que a greve não beliscou a produção planeada, mesmo com uma adesão de 37%, e que mantém a vontade de, na próxima sexta-feira, encetar negociações para uma solução com a Comissão de Trabalhadores (CT), que era contra esta greve.

Em comunicado, a fábrica de Palmela diz que “apesar da paragem de duas horas por turno que se registou nos dias 17 e 18 de Novembro, e que teve a adesão de 37% do total dos colaboradores, a Volkswagen Autoeuropa conseguiu cumprir o volume de produção planeado para estes dias”.

Traduzindo esta percentagem em números, significa que quase 1900 dos 5100 trabalhadores aderiram ao protesto que, inicialmente, foi pedido pela CT, mas que este órgão quis desconvocar depois de a gestão ter dito, a 72 horas do início do protesto, que voltaria à mesa negocial para responder à reivindicação de aumento de salário.

Contrariando a CT, dois dos três sindicatos envolvidos mantiveram o pré-aviso de greve e a adesão, por seu lado, mostrou que o descontentamento não é só dos sindicalistas. "Depois desta grandiosa greve, a Administração deve agir com celeridade no sentido da satisfação das reivindicações dos trabalhadores”, diz o Site-Sul.

A adesão terá registado níveis semelhantes no chão de fábrica e nos chamados indirectos (que incluem áreas como engenharia). Como na fábrica se produz em linha, bastou interromper um dos elos da produção para forçar a paragem das restantes áreas a jusante.

Contactada pela CT, um dos membros deste órgão disse que os resultados deste protesto vão ser analisados e que na próxima semana será tomada uma posição.

Em causa está uma adenda ao acordo laboral aprovado em Março, com aumentos de 2% em 2022 e 2023. Tanto a CT como os sindicatos entendem que as circunstâncias mudaram drasticamente nos últimos oito meses, quer pela inflação galopante que retira poder de compra quer pela produção planeada, que melhorou em cerca de 15%, para 230 mil unidades, face às previsões feitas no primeiro trimestre.

Por isso, a CT propôs à administração um aumento extraordinário este ano, de 5%, pago em Novembro e com retroactivo a Julho, bem como o compromisso de corrigir o aumento de 2% do próximo ano em proporção suficiente para cobrir a taxa de inflação média anual que o país registar em 2022.

A empresa contrapôs com o pagamento de um prémio único de 400 euros, igual para todos, como compensação extraordinária, proposta que foi rejeitada em plenário. Os trabalhadores decidiram partir para a greve, considerando que a solução proposta era “inaceitável” face aos resultados da fábrica, que terá este ano um dos seus melhores resultados de sempre. E acusaram a administração de não proteger suficientemente a paz social na empresa.

Porém, na segunda-feira, três dias antes da paralisação, a gestão comunicou que está disposta a negociar outra saída. No comunicado que divulgou esta sexta-feira, depois da greve, lê-se que "a empresa continua empenhada em ir ao encontro das necessidades dos trabalhadores, de modo a colmatar as dificuldades económicas actualmente sentidas por via do aumento generalizado da inflação.

O encontro entre administração e CT ficou marcado para o dia 25.

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