FPF não responde a carta a pedir posição pública de apoio a migrantes no Qatar

Fernando Gomes assinou declaração conjunta da UEFA mas não assumiu posição em nome de Portugal como fizeram, por exemplo, a Inglaterra, a Dinamarca ou a Alemanha.

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Fernando Gomes MÁRIO CRUZ

Numa carta dirigida ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, há mais de dois meses, e à qual até hoje não receberam resposta, as duas organizações de defesa dos direitos humanos, Human Rights Watch (em Nova Iorque) e a FairSquare (em Londres) pediram, como a todas as outras 31 federações nacionais com selecções presentes neste Mundial de futebol do Qatar, que fosse assumida uma posição pública de apoio aos direitos dos trabalhadores migrantes a uma compensação financeira e “à não-repetição de abusos dos direitos humanos em campeonatos mundiais no futuro”.

As federações da Inglaterra, Dinamarca, Países Baixos, Noruega e Alemanha responderam e mantiveram reuniões com a HRW para discutir formas de intercederem junto da FIFA para garantir a criação desse fundo. O mesmo não aconteceu com as federações nacionais de outros países, como Portugal, o que a directora da HRW para as Iniciativas Globais, Minky Worden lamenta, alegando que “Portugal podia fazer mais se assumisse uma posição distinta daquela que já tinha sido assumida conjuntamente” pela UEFA.

A carta apela, por um lado, a que a FPF defenda junto da FIFA e das autoridades do Qatar a criação de “um fundo de compensação (Remedy Fund) para ajudar a transformar a vida dos trabalhadores migrantes e das suas famílias” e, por outro, pede expressamente à FPF, como a todas as outras 31 federações dos países participantes neste evento, “para porem de parte e assegurarem verbas que ajudem a financiar esse fundo”.

Na carta de 12 de Setembro, a que o PÚBLICO teve acesso, as duas organizações de direitos humanos referem que, enquanto associadas da Federação Internacional de Futebol (FIFA), “as federações nacionais de futebol estão vinculadas à Política para os Direitos Humanos da FIFA”.

Como argumento de persuasão para um maior envolvimento nesta matéria, indicam ainda que, por via de negócios mantidos na relação que têm com a FIFA, “beneficiam financeiramente das receitas geradas pelo Mundial de Futebol” tendo assim também responsabilidades “perante o que está definido nos Princípios Orientadores da ONU para os Negócios e os Direitos Humanos”.

Por estes motivos, solicitam que uma resposta seja enviada até 26 de Setembro. Contactada pelo PÚBLICO, a Federação Portuguesa de Futebol recusou dizer por que motivo não respondeu, lembrando, contudo, que é uma das subscritoras da posição conjunta da UEFA.

“Os direitos humanos são universais e aplicam-se em todo o mundo”, lê-se na declaração assinada por dez federações. “A FIFA tem-se comprometido, de forma sistemática, a dar respostas a um fundo de compensação para trabalhadores migrantes e à ideia da criação de um centro para os trabalhadores migrantes em Doha. Continuaremos a tentar que estes dois desígnios se concretizem”, referem os signatários da declaração da UEFA no comunicado de 9 de Novembro, antes de concluírem: “Acreditamos no poder do futebol para que continue a contribuir de forma positiva e credível para progressos sustentáveis no mundo.”

Título alterado às 12h46

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