Dias Toffoli: juiz do Supremo brasileiro diz que Brasil não pode viver “preso no passado”, como a Argentina

Discurso foi considerado ofensivo por deixar críticas implícitas à forma como os argentinos lidaram com os responsáveis por crimes contra a humanidade durante a ditadura.

Foto
Dias Toffoli, juiz (ministro) do Supremo Tribunal Federal brasileiro Carla Carniel/REUTERS

O juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, Dias Toffoli, disse que o Brasil não pode viver no passado, comparando-o à Argentina, que descreveu como uma “sociedade presa no ódio”, deixando uma crítica implícita à forma como o país vizinho julgou os responsáveis pela ditadura militar.

“Nós não podemos deixar que o ódio entre no nosso país; não podemos viver só nos extremismos”, declarou Toffoli, durante um discurso na segunda-feira, em Nova Iorque, onde participou numa conferência com outros juízes do STF. Toffoli lamentava a polarização política vivida no Brasil e aproveitou para deixar críticas à Argentina.

“Não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina: uma sociedade que ficou presa no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás, para o retrovisor, sem conseguir se superar”, afirmou.

Embora não se tenha referido directamente à ditadura militar argentina (1976-83), Toffoli fez uma referência ao filme O Segredo dos seus olhos, de 2009, que incide sobre aquele período histórico.

O colunista do jornal O Globo, Bernardo Mello Franco, diz que o juiz do STF “ofendeu” o país vizinho e revelou “desconhecimento sobre a História e o papel da justiça de transição”. Franco lembrou ainda que Toffoli é o relator de uma acção judicial no STF em que é posta em causa a lei da amnistia, que impediu o julgamento de vários responsáveis militares que tiveram papel de destaque durante a repressão na época da ditadura militar brasileira.

Ao contrário do Brasil, a Justiça argentina condenou mais de mil antigos dirigentes políticos e militares por crimes contra a humanidade durante o período ditatorial.

Sugerir correcção
Comentar