Sinais de arrefecimento da inflação nos EUA animam mercados

Taxa de inflação recuou em Outubro, reforçando a esperança de que a Reserva Federal possa não ter de ir tão longe na subida dos juros como o previsto.

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EPA/MICHAEL REYNOLDS

Os preços cresceram menos do que o previsto durante o passado mês de Outubro nos EUA, conduzindo a um ligeiro recuo da taxa de inflação homóloga e reforçando a esperança, principalmente nos mercados, de que o pico da crise de preços na economia norte-americana possa já ter ficado para trás.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Departamento do Trabalho norte-americano, a variação mensal dos preços em Outubro foi de 0,4%. Este é um valor que não só fica abaixo dos 0,6% que eram projectados em média pelos analistas, como permite manter a taxa de inflação homóloga na trajectória descendente que se verifica desde que este indicador atingiu o máximo de 9,1% em Junho.

De facto, a taxa de inflação homóloga nos EUA reduziu-se de 8,2% em Setembro para 7,7% em Outubro. E quando se olha para a taxa de inflação excluindo os bens energéticos e alimentares, passou-se de uma variação mensal de 0,6% em Setembro para 0,3% em Outubro e de uma variação homóloga de 6,6% para 6,3%, nos mesmos períodos.

Este abrandamento no ritmo de subida de preços, embora seja ainda um fenómeno recente, constitui neste momento a principal fonte de optimismo em relação à evolução da maior economia do planeta.

Durante este ano, para combater a escalada da inflação, a Reserva Federal norte-americana tem vindo a pôr em prática sucessivas subidas das suas taxas de juro. A ideia é a de “arrefecer” a procura na economia, reduzindo desse modo as fortes pressões a que estão a ser sujeitos os preços e compensando a onda inflacionista trazida pela escalada dos custos da energia a nível mundial e pelas quebras na oferta provocadas por perturbações nas cadeias de distribuição internacionais.

Na semana passada, a entidade liderada por Jerome Powell realizou a sua sexta subida consecutiva de taxas de juro.

O problema é que, com estas subidas de taxas, a Fed arrisca-se a, para além de combater a inflação, também lançar a economia norte-americana numa recessão. Quanto mais longe for na subida de taxas, maior é esse risco.

É por isso que os sinais confirmados esta quinta-feira de um abrandamento dos preços nos EUA pode ser decisivo para a forma como a economia norte-americana pode atravessar esta crise. A esperança é a de que a Fed possa, com a inflação já com uma trajectória descendente, abrandar também o ritmo a que tem vindo a subir as taxas de juro.

Numa reacção imediata aos dados da inflação publicados esta quinta-feira pelo Departamento do Trabalho, os mercados accionistas reagiram com subidas significativas dos índices, num sinal de que acreditam que o pior pode já ter passado ao nível da inflação e que a Fed poderá não ter de ir tão longe como o previsto no endurecimento da sua política monetária. No arranque da sessão desta quinta-feira em Wall Street (início da tarde em Lisboa), o S&P 500 ganhava 4,1% e o Nasdaq valorizava 5,7%.

Ainda assim, os números da inflação publicados esta quinta-feira mostram, não só valores ainda elevados (muito acima da média das últimas décadas), como também a generalização das subidas de preços a todos os bens e serviços, nomeadamente aqueles que são mais intensivos em força de trabalho. A taxa de desemprego nos EUA continua a níveis bastante baixos (3,7% em Outubro) e os aumentos salariais significativos, algo que, teme a Fed, pode tornar mais persistente a taxa de inflação.

Na zona euro, com o Banco Central Europeu também a subir taxas de juro, não se assistiu ainda durante o mês de Outubro a um recuo da taxa de inflação. A expectativa revelada pelos responsáveis do BCE, incluindo o governador do banco de Portugal Mário Centeno, é a de que tal possa vir a acontecer no final deste ano e início de 2023.

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