Cities Changing Diabetes Lisboa: prevenir a doença a partir da cidade

Debater o impacto da vida urbana na saúde é o objectivo do Cities Changing Diabetes Lisboa, marcado para 14 Novembro, onde se irá reflectir sobre o papel das cidades no combate à diabetes e obesidade.

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E se o combate à diabetes tipo 2 envolvesse amplamente o local e o contexto onde esta doença mais acontece? Este foi precisamente o ponto de partida do programa Cities Changing Diabetes (CCD), uma iniciativa lançada em 2014 pela Novo Nordisk, em conjunto com o Steno Diabetes Center Copenhagen e a University College de Londres, com vista a colocar as cidades no centro da luta contra a doença. Aos fundadores do programa juntaram-se dezenas de parceiros globais e, hoje, são já mais de 40 as cidades de todo o mundo que integram o programa Cities Changing Diabetes, apoiadas por cerca de 160 organizações, esperando-se que, em 2023, o número de cidades abrangidas atinja as cinco dezenas.

Desde 2019 que a cidade de Lisboa integra o CCD, programa que é agora relançado na capital a 14 de Novembro, data em que se assinala o Dia Mundial da Diabetes. Durante o evento, que terá lugar na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho de Lisboa, e contará com transmissão em directo nas plataformas online do Público, será debatido o impacto do ambiente urbano na saúde pública, sendo ainda partilhados os resultados do projecto-piloto Foodscapes Ajuda (realizado no bairro 2 de Maio, na Ajuda, em Lisboa), destinado a acentuar a importância dos ambientes alimentares, da actividade física e dos estilos de vida saudáveis.

Promover Lisboa como um estudo de caso para outras cidades é também um dos objectivos do encontro, que reunirá decisores da área da saúde, responsáveis pelo planeamento urbano, elementos da academia, organizações de base comunitária e elementos da sociedade civil. O momento servirá ainda para a assinatura da Urban Diabetes Declaration, com a integração de novos parceiros.

Porquê as cidades?

De acordo com Niels Lund, Vice-President for Global Prevention and Health Promotion da Novo Nordisk, o CCD foi criado com a intenção de constituir um “compromisso para impulsionar a acção globalmente nas cidades contra a diabetes tipo 2 e a obesidade”. Através de uma parceria público-privada global, o programa “aborda os problemas sistémicos” que conduzem ao aumento generalizado destas doenças, e visa “reduzir a desigualdade na saúde”, explica.

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Hoje, mais de 55% da população mundial vive em cidades. Isto coloca as cidades na linha da frente para melhorar a saúde das pessoas e baixar a curva dos níveis crescentes de doenças não transmissíveis, como a diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares Niels Lund, Vice-President for Global Prevention and Health Promotion da Novo Nordisk

A razão por que as cidades devem ser envolvidas quando o objectivo é pôr fim à pandemia de diabetes tipo 2 é clara para o também responsável pelo desenvolvimento e implementação do CCD: “Hoje, mais de 55% da população mundial vive em cidades. Isto coloca as cidades na linha da frente para melhorar a saúde das pessoas e baixar a curva dos níveis crescentes de doenças não transmissíveis, como a diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares.”

Com efeito, é nas metrópoles que não só vive mais de metade da população mundial, mas é também onde residem “quase dois terços de todas as pessoas com diabetes”. Como tal, Niels Lund considera que “a forma como as cidades são desenhadas, planeadas, construídas e geridas tem uma influência considerável sobre muitos dos componentes básicos de uma vida saudável, nomeadamente, o acesso a habitação digna, alimentação nutritiva, mobilidade segura e oportunidades para a prática de actividade física”. Mas uma vez que “infelizmente, nem todas as pessoas têm igual acesso a estes ingredientes, tal leva a que algumas pessoas e comunidades estejam mais vulneráveis a problemas de saúde que outras, o que acaba por afectar o aumento da diabetes”, justifica.

Actuar no terreno, mas como?

De forma muito pragmática, o CCD assenta em três elementos interconectados, com vista a “permitir às cidades mapear os factores subjacentes à obesidade e à diabetes, partilhar conhecimento e aprendizagens importantes, e ainda disponibilizar ferramentas que podem acelerar a acção no terreno”, sublinha Niels Lund.

Com vista a favorecer a actuação local, o responsável lembra que, recentemente, foi publicado o Cities Changing Diabetes Briefing Book, documento que descreve “como mudanças em aspectos críticos da vida urbana podem fazer uma diferença significativa”, nomeadamente, no que diz respeito a “criar melhores espaços e lugares que incentivem a actividade física, projectar a mobilidade urbana para melhorar a saúde, tornar a alimentação saudável mais acessível e criar oportunidades iguais para uma vida saudável”. Nas suas palavras, estes quatro pilares básicos “podem impulsionar a mudança para cidades mais saudáveis”, pelo que “o livro pode inspirar acções e ser uma ajuda útil para convencer mais autarcas, parceiros e cidades em todo o mundo de que a necessidade de mudança é urgente, que a acção pode ser altamente eficaz e que, juntos, podemos alcançar mudanças vitais no ambiente, na alimentação e na saúde das pessoas”.

Uma jornada a lutar contra a diabetes

A razão por que uma empresa farmacêutica como a Novo Nordisk se envolve num projecto desta envergadura é avançada por Niels Lund e prende-se com o facto de esta organização ser especialista em diabetes desde a sua fundação, em 1923, altura em que iniciou “uma jornada para prevenir, tratar e, finalmente, curar a doença”. “Hoje, com a pandemia de diabetes a crescer a um ritmo alarmante, é crucial que façamos mais para a controlar”, resume, salientando que “o rápido crescimento da diabetes é uma tragédia tanto humana como social”.

Ainda assim, admite que este trabalho não pode ser levado a cabo de forma isolada pela empresa, “nenhuma organização o consegue”, mas “ao trabalhar em conjunto com os líderes das cidades, podemos tomar medidas significativas de longo prazo”, defende.

Compromisso renovado em Lisboa

O facto de a pandemia de Covid-19 ter contribuído para uma alteração total dos planos inicialmente desenhados pelo CCD Lisboa, aguçou a necessidade de agora relançar o programa na capital, com vista a recentrar prioridades e impulsionar a acção. Durante o evento marcado para 14 de Novembro, a parceria será renovada com a assinatura da Urban Diabetes Declaration, integrando novos parceiros, como a associação Locals Approach e a APCOI – Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil. Em concreto, esta declaração consiste num “compromisso por parte dos líderes das cidades e seus parceiros para acelerar a acção para prevenir a obesidade e a diabetes tipo 2”, refere Niels Lund, nomeadamente, comprometem-se em “investir na promoção da saúde e bem-estar; abordar os determinantes sociais e culturais e lutar pela equidade em saúde; integrar a saúde em todas as políticas; envolver as comunidades e criar soluções em parceria entre sectores”.