Os pecados de Rakitic: da selecção à expulsão

Há 15 anos enfrentou a fúria da extrema-direita suíça por optar pela Croácia. Agora, o primeiro vermelho na recta final da carreira.

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Rakitic (à esquerda) no momento da expulsão EPA/Jose Manuel Vidal

O dia em que Zlatko Dalic divulgou os 26 convocados da Croácia para o Mundial do Qatar 2022 ficou assinalado no percurso de Ivan Rakitic como um dos mais ingratos da carreira do vice-campeão no Rússia 2018.

E não por saber que falhará a maior competição de selecções, decisão assumida e anunciada em 2020 pelo jogador de 34 anos, quando deixou o Barcelona para regressar ao Sevilha. A mágoa do croata — que começou por ser suíço — é de outra natureza: em quase 20 anos de futebol profissional, Ivan Rakitic nunca tinha sido expulso com um cartão vermelho directo.

É verdade que tinha já abandonado prematuramente o rectângulo de jogo um par de vezes, mas por acumulação de amarelos... um pecado menor. Agora, com o Sevilha a precisar de sacudir a crise que já levou à saída de Julen Lopetegui e ao regresso de Jorge Sampaoli, o VAR não perdoou a abordagem negligente de Rakitic, numa entrada arrepiante sobre Brais Méndez, da Real Sociedad, a que inicialmente escapara com uma advertência (amarelo).

A perder por 0-1, o Sevilha lamentava a expulsão do médio, ainda antes dos 30 minutos. Mas a mancha na ficha disciplinar de Rakitic teria outras repercussões, já que seis minutos depois também Tanguy Nianzou foi advertido com cartão vermelho, por entrada dura ao joelho de Brais Méndez, de novo após intervenção do VAR.

Pior, dois minutos depois a Real Sociedad elevava para 0-2, anunciando-se uma noite negra. Apesar de tudo, o Sevilha reduziu antes do intervalo e foram os visitantes a suspirarem de alívio quando o árbitro apitou para o final (1-2), mesmo tendo actuado quase uma hora contra uma equipa reduzida a nove.

Futebol vence xenofobia

Nascido em Rheinfelden, na Suíça, a dois passos da Alemanha, Rakitic formou-se no Basileia antes de prosseguir carreira no Schalke 04. A classe extra levou-o para Espanha, onde construiu reputação e somou troféus, com destaque para uma Liga Europa (pelo Sevilha, frente ao Benfica, em 2013-14), uma Champions, uma Supertaça Europeia e um Mundial de clubes (todos em 2014-15, ano em que foi indicado para a Bola de Ouro e eleito melhor jogador croata).

Mas antes da glória, Ivan Rakitic teve que superar algo bem pior do que a mancha de uma expulsão na recta final da carreira. Após ter representado a selecção helvética nas categorias jovens, o médio foi convencido por Slaven Bilic a juntar-se à selecção A da Croácia, em 2007.

A decisão gerou controvérsia e motivou perseguição e ameaças à família Rakitic, num movimento de xenofobia instigado pela extrema-direita suíça. O drama durou cerca de dois meses, custando a cidadania suíça ao pai Luka, cujo processo foi rejeitado.

Rakitic tinha apenas 19 anos, actuava no Schalke 04 e vivia em Gelsenkirchen. A maturidade e o futebol ajudaram-no a superar o momento. Agora, sem a selecção, o regresso pode esperar pelo Qatar.

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