A guerra na Ucrânia e o que vai mudar no mundo

A Europa acabou por ceder toda a liderança aos EUA, que sempre pretenderam plantar regimes seguidistas. Ursula von der Leyen parece a ministra dos Negócios Estrangeiros dos EUA.


As guerras em geral operam mudanças significativas no panorama regional e mundial. A invasão do Iraque pelos EUA mudou a região e em parte o próprio mundo. No passado século, na década de 60/70, a guerra do Vietname mudou toda a Indochina. Muitos outros exemplos poderiam ser dados, sendo de todos os mais significativos os da I e II guerras mundiais que mudaram totalmente o mundo.

A guerra na Ucrânia, muito provavelmente, mudará não só o papel da Europa, a relação entre os seus Estados e trará muito provavelmente uma nova arquitetura no mundo.

Na configuração do mundo tal como existe entraram em choque diferentes linhas de forças contraditórias que produziram o grande acontecimento que é esta guerra.

Na verdade, o império USA e a sua versão mais alargada anglo-saxónica, sendo dominante, está em declínio face ao crescente papel da China e de um conjunto de países que querem ter um novo papel na vida internacional e sentem que o podem ter.

A Rússia, pelo seu poderio militar desde que Putin tomou o poder, considera-se suficientemente forte para invadir a Ucrânia e aguentar os efeitos das brutais sanções económicas.

Na Ucrânia trava-se uma guerra entre os EUA/NATO/UE e a Rússia, sendo o povo ucraniano o mais sacrificado.

A Rússia, potência resultante da implosão da URSS, em decadência até à chegada ao poder de Putin, movida por um sentimento nacionalista e imperial, ousou confrontar a ordem ocidental e tentar assegurar para si o controlo da Eurásia que Zbigniew Brzezinsky , ex-conselheiro de Segurança dos EUA, considerava ser fundamental para o domínio dos EUA e para estes melhor poderem confrontar-se no futuro com a China.

A travagem do crescimento dos EUA, o forte crescimento da China e o aparecimento na arena internacional de um conjunto de potências como o caso da Índia, África do Sul, Brasil, Argentina, Irão, Paquistão, México, entre outros, criaram condições para que a Rússia se sentisse capaz de desafiar o poder dos EUA/NATO.

Com a guerra, a Europa em termos de bloco acabou por ceder toda a liderança aos EUA. Ficou dependente de um aliado que encara o mundo como um local onde sempre pretendeu plantar regimes seguidistas. Exibiu a pequenez estratégica da UE. Ursula von der Leyen parece a ministra dos Negócios Estrangeiros dos EUA.

Os EUA conseguiram para já ficar em boa medida com a Europa na mão em matéria energética, o que estrategicamente tem enorme relevância.

A travagem na economia alemã cria condições para minorar o papel do concorrente que há mais de uma década era mal visto em Washington, sendo até vigiado.

A França a perder competitividade segue o seu declínio com a humilhação de ver rasgado um contrato com a Austrália e substituída pelos EUA.

Em toda a Europa, enquanto as grandes empresas conseguem obter lucros nunca vistos com a especulação, os povos estão confrontados com um empobrecimento generalizado.

As manifestações que têm tido lugar em diversos países podem atingir grandes proporções, tendo em conta que o inverno ainda não chegou e as restrições ao consumo ainda não se começaram a sentir plenamente.

A Rússia é uma incógnita. Se aguentar o peso na economia das sanções e o esforço de guerra, e se mantiver as anexações, sairá da guerra com outro peso.

Para impedir esse objetivo, os EUA prolongarão o seu apoio, fornecendo novos carregamentos de armas. O ponto vai bater na relação entre o efeito boomerang das sanções na vida dos povos europeus e a capacidade da Rússia de resistir. Se a vida das populações se tornar insuportável, os governos irão pagar um elevado preço. Entretanto um maior envolvimento da NATO poderá levar o conflito para patamares assustadores.

Refira-se que esta guerra não tem suscitado as movimentações estrondosas de condenação como foi o caso da invasão do Iraque. Os povos no seu íntimo condenam a invasão, mas percebem que para além da invasão há outros elementos a ter em conta.

Por outro lado, os EUA e a UE já não impõem o seu dictat a países como a Índia, a Arábia Saudita. Paquistão, Brasil, Argentina e outros.

Outra ordem vem a caminho, como noutras vezes, nos braços da guerra. Se a NATO/UE/Ucrânia vencerem, a Rússia perderá muito do seu poder e correrá riscos de desintegração. Se vencer, outra ordem reinará até aos próximos desafios que já se desenham na Ásia.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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