Culpa da baixa natalidade é de as mulheres beberem álcool, diz líder polaco

Jaroslaw Kaczynski, que chefia o partido do Governo na Polónia, disse ainda que as mulheres se tornavam mais facilmente alcoólicas do que os homens.

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Jaroslaw Kaczynski defende a família, mas nunca se casou nem teve filhos KACPER PEMPEL/Reuters

O líder do partido no poder na Polónia, Jaroslaw Kaczynski, está a ser muito criticado pela afirmação de que a razão para a baixa natalidade na Polónia é as mulheres beberem álcool.

A taxa de natalidade na Polónia desceu para níveis historicamente baixos, nota o site Notes From Poland, acrescentando que, na União Europeia, o país tem uma das mais baixas taxas de natalidade (taxa de nascimentos por mulher de 1,44 — para comparação, Portugal está também neste grupo, com uma taxa de 1,43).

“É preciso dizer abertamente algumas verdades amargas. Se continua a acontecer que as jovens mulheres bebem, aos 25 anos, tanto como os seus pares masculinos, não vai haver filhos”, declarou o chefe do partido nacionalista PiS (Lei e Justiça), um partido que se apresenta como defensor da família tradicional. Kaczynski nunca se casou nem teve filhos.

O problema não é da situação material das famílias, defendeu, apontando o caso de Varsóvia, que é a cidade mais rica da Polónia, mas é onde se regista a menor natalidade. “Não é só uma questão material, é uma questão de uma certa atitude entre as pessoas, especialmente entre as mulheres, porque são as mulheres que dão à luz os filhos.”

Kaczynski continuou a sua argumentação com uma apreciação da diferença do alcoolismo entre os sexos: “Lembrem-se que para desenvolver alcoolismo um homem tem de beber excessivamente durante 20 anos em média”, declarou. “Para uma mulher, bastam dois anos”.

A diferença, segundo Kaczynski, que citou um médico com quem um dia falou, continua na recuperação: esse médico teria conseguido tratar um terço dos homens alcoólicos que acompanhou, mas nenhuma mulher.

Muitas pessoas críticas do Governo dizem que o próprio executivo tem desencorajado as mulheres de terem filhos, por exemplo por causa de uma proibição quase total do aborto, o que deixa as grávidas sujeitas a perigo se a continuação da gravidez for um risco para a sua vida e a intervenção não for autorizada. No ano passado, a morte de uma grávida por demora em realizar a interrupção levou a protestos.

Há dois anos, a vice-ministra da Família, Barbara Socha, admitiu que o programa do Governo de incentivo à natalidade — um dos mais importantes para o executivo, que aprovou várias medidas “pró-família” — não estava a ter os resultados pretendidos, apesar de ser popular.

A política de esquerda Joanna Scheuring-Wielgus criticou os comentários de Kaczynski​, que apesar de não ter cargo formal é visto como o líder do país. “A Polónia sob o Governo do PiS é antifamília e antimulher”, declarou.

As reacções vieram também de fora do mundo da política. Anna Lewandowski, mulher do futebolista Robert Lewandowski, escreveu no Instagram: “Basta. Fico furiosa quando vejo políticos a acusar injustamente as mulheres em vez de reconhecerem o problema verdadeiro.”

Um grupo de mulheres polacas convocou uma manifestação em frente à casa de Kaczynski em Varsóvia no dia 28 de Novembro, data de quando, há 104 anos, as mulheres conquistaram o direito a votar na Polónia.

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